Belle: Vulnerabilidade

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Olho para o relógio de parede.

São 2h da madrugada.

Tem algo ruim em ficar acordada nesse horário. O turbilhão de pensamentos aleatórios. Não importa o quanto eu tente fazer com que eles vão embora, sempre sou um fracasso nisso. Em dias bons, penso que o planeta terra é irreal, que tudo o que conheço é apenas uma mera ilusão. E se somos bem menores do que pensamos ser? Quem sabe, experimentos de algo além da compreensão, maior que todo o universo. Os acertos são as pessoas que se dão muito bem na vida, já os erros são pessoas com histórias tristes, parecidas com a minha.

Sei que parece loucura tal teoria se basear em nós seres humanos como ratos de laboratório, mas, pense bem. A vida não é diferente. Ela é robótica. Existe um ciclo vicioso entre as pessoas e a rotina. É ridiculamente tedioso. Viver depende dessa estrada complexa que, com um pouco de sorte, só tem fim quando morremos. São poucos dias bons em vários dias de ruins.  

Mas, hoje está diferente. Estou tendo pensamentos medianos. Não são aterrorizantes, também não são legais. Segundo eles, estou começando a mudar em relação ao homem misterioso. É obvio que aquele ódio que sentia por Colin, no começo, se transformou em puro afeto.

Comecei a entendê-lo da cabeça aos pés.

Quando o defendi de James Miller, fiquei surpresa comigo mesma. Desesperadamente, quis saber de onde aquela coragem toda surgiu. Cheguei a pensar em mil formas de como fazer a vida do cara virar um inferno, após saber que o idiota desejou que o pai me detestasse. Várias reflexões depois trouxeram a terrível verdade, a qual neguei brevemente. Não sinto mais ódio dele. Sim, eu fiquei magoada. Porém, ódio e mágoa são duas coisas completamente diferentes.

O homem misterioso pensa que será difícil fazer com que eu confie nele. Colin não podia estar mais distante da verdade. Estou começado a acreditar naquele cretino, até mesmo na parte em que ele me chama de princesa. Claro, não na impossibilidade de me parecer com uma, e sim na possibilidade de ele estar cego, portanto, sendo sincero. O plano era viver os seis meses como uma pessoa livre e desinteressada. A realidade está sendo outra e, por ironia do universo, ainda não passamos um dia juntos na mesma casa.

Burra eu seria se achasse que toda essa mudança é culpa simplesmente do afeto que comecei a nutrir por ele. É muito mais que afeto. Saber que tem alguma coisa rolando não faz com que eu tenha certeza do que é, complica ainda mais. Quando se trata de sentimentos, sou péssima. Os ruins são os únicos que conheço. Dor, medo, solidão, angústia... Aqueles que, quanto mais longe, melhor. Já os que causam sensações boas são raridade, quase indecifráveis. Pelo menos, na minha vida.

- Não me olhe assim, Hope. Nada mudou, okay? – faço carinho na cabeça da minha cachorra, que está deitada na cama comigo. O mais estranho é que tem vezes que minha pitbull parece me julgar. Acho que tem a ver com a intensidade desse olhar que tira toda a minha capacidade de ser racional. – Tudo bem! Você tem razão.

A quem estou querendo enganar. Tudo está mudando! Colin Miller faz com que eu me sinta protegida. Ainda que desfazendo de seus cuidados, estou a um passo de entregar-me completamente a eles. Tem momentos em que uma alegria contagiante invade cada centímetro do meu corpo. É quando estou ao lado de Colin. Seus olhos trazem a sensação de pertencimento.

De lar.

Para acabar de piorar um pouco mais a situação, estou surtando com a sensação extremamente viciante que senti quando meus lábios tocaram sua bochecha quente e macia. Um ato impensado tomou conta de mim naquela hora e, agora, só sei pensar que quero um pouco mais disso. De atitudes impensadas. De toques que façam com que me sinta flutuando nas nuvens.

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