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INGRID ABRANTES

Depois de ser hospitalizada, sou acompanhada pelo pai de meu genro até o carro dele, que estava estacionado na frente do grande hospital. Eu ainda me sentia fraca e minha visão estava turva, porém nada superava o estrago que estava o meu peito; meu coração estava quebrado,  totalmente despedaçado.

Evandro, o pai do noivo de minha filha, entrou no lado do motorista e dirigiu em silêncio pelas ruas frias da cidade. Hoje o sol resolveu se esconder durante o dia todo. E a noite já se apresentava no céu carregado de nuvens. Eu espiava as ruas pela janela do banco carona, mas minha mente estava totalmente em outra órbita, meus pensamentos vagavam nele. Gabriel. O homem que eu amava, meu parceiro, companheiro de todas as horas.

Eu admito que ultimamente nosso casamento estava passando por algumas crises, ele estava mais distante que nunca e quase não parava em casa. Mas eu confiava em Gabriel de olhos fechados, e sei que ele nunca me iria me trair. Ele era um homem fiel acima de tudo.

- Senhora Abrantes? - ouvi a voz grossa e firme do homem ao meu lado e girei o rosto em sua direção. Só agora percebi que o carro havia parado rente à uma calçada. - Se a senhora não estiver com vontade de ir para casa, eu posso me oferecer para levá-la em qualquer lugar. - ele disse, com a solidariedade latente preenchendo sua voz.

- Eu quero ficar sozinha - pedi com a garganta se fechando.

Ouvi um suspiro pesado ao meu lado e o carro foi ligado novamente. Permaneci quieta em meu lugar, eu não estava em condições de raciocinar, então apenas deixei-me ser conduzida por aquele homem, seja lá para aonde estava indo.

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JOÃO

Giullia não parava de mandar mensagens! Aquela vadia desgraçada me fez chegar um pouco atrasado no cortejo do pai da minha noiva. Ela não queria sair de meu apartamento de jeito algum, sempre fazendo aquele charminho barato e tentando me seduzir de todos os modos possíveis. Meu pai acabou chegando na hora no apartamento e disse que podia ser uma ótima ideia se Giullia ficasse aqui hoje e agisse como minha empregada, já que estava tudo armado para eu trazer a idiota da Letícya pra cá enquanto Evandro "cuidava" da mãe dela.

"Já estão chegando, vampirinho?"

Soltei um suspiro fraco e guardei o celular de volta no bolso de minha calça jeans. Letícya estava ao meu lado no banco do carona, e eu me mantia com a expressão tranquila enquanto voltava minha atenção para a estrada à minha frente. Uma parte minha se sentia feliz pelo velho ter morrido; uma preocupação a menos. Mas outra ainda maior sentia o pesar por fazer a Letícya sofrer, ela não merecia isso, não era necessário minha noiva suportar a morte precoce do pai. Isso era errado!

- Amor...

Encarei Letícya de modo breve e voltei a atenção para a estrada.

- Oi - ela respondeu quase num sussurro.

- Você amava muito seu pai, não é mesmo? - perguntei sentindo o remorso me invadir. A coitadinha estava um caco, seus olhos vermelhos e seu rosto inchado.

Eu não me sentia bem. Digo mentalmente mesmo, meu cérebro gritava dentro de minha cabeça. A chamada consciência, estava pesada. E pra caralho!

Eu não devia me sentir assim, afinal, não era eu quem o tinha matado, foi meu pai. Mas por que eu estou me importando tanto, então?

- Eu o amava demais - Letícya disse olhando pro nada. Logo ela começou a soluçar e caiu no choro novamente.

Reprimi uma enorme vontade de abraçá-la e me concentrei apenas no volante até chegar em meu apartamento.

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