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INGRID ABRANTES

Quando abri os olhos, fui tomada por uma imagem totalmente nova; eu havia dormido fora de casa e estava no quarto de alguém. Eu não me lembrava de muita coisa de ontem à noite, apenas que acabei adormecendo no carro de Evandro.

E acordei aqui. O quarto era grande e as paredes eram pretas, uma cor bastante peculiar para se pintar em uma casa. A enorme janela que havia na parede em frente a cama estava fechada com cortinas igualmente pretas. A escuridão devia reinar neste quarto à noite.

Me sentei lentamente e esfreguei os olhos ainda sonolenta. A porta do quarto se abriu de repente e eu me deparei com Evandro. Ele estava com seus fios negros molhados e apenas com um moletom cinza, deixando amostra o seu belo peitoral.

- Bom dia - ele disse casualmente. - Vejo que já acordou.

Encarei-o com um misto de vergonha e forcei um sorriso.

- Bom dia. Muito obrigado por me acolher na sua casa.

Evandro sorriu, mostrando uma linda covinha que o deixava maravilhosamente bonito. Ele era uma versão mais velha e atraente de seu filho, João. Seus ombros eram largos e sua pele era levemente morena, seu rosto era sério e ele estava indecifrável agora.

- Não tem de quê.

- Onde é o banheiro? - perguntei o encarando, meu rosto estava ficando levemente ruborizado por conta de seu olhar fixo em mim.

- Venha comigo - ele disse. - Eu lhe mostro.

O segui a passos lentos e paramos em um amplo corredor recheado de portas. Evandro apontou para a primeira porta a direita e eu entrei em silêncio. Seu banheiro era espaçoso e tinha um doce aroma de frutas e lavanda. Tomei um rápido banho mesmo sem permissão e saí de lá revigorada.

Andei pela casa em silêncio até ser atingida por um ótimo cheiro de queijo. Não foi difícil achar a cozinha, Evandro estava lá, colocando alguns pedaços de pizza no prato.

- Hmmm... Está com um cheiro delicioso. - comentei com um pequeno sorriso.

Evandro me encarou avaliativo e puxou uma cadeira para mim sentar. Ele havia colocado uma camisa preta, me deixando agora sem a visão de seu lindo abdômen. Credo! Eu nem devia estar pensando nisso, meu marido havia acabado de morrer! Me ajeitei no banco e comemos nosso café da manhã em silêncio. Eu sempre fui uma mulher humilde, vim do pouco e não me iludo com muito. Dinheiro é só papel, e as melhores coisas da vida são os momentos simples e únicos, então eu sempre comia de tudo um pouco, desde comidas chiques como canapés e escargots, até comidas mais simples como feijoada e hambúrgueres caseiros.

- A Letty dormiu na casa do noivo? - perguntei casualmente enquanto pegava mais um pedaço do lanche e colocava no prato.

- Uhum - ele assentiu. - Meu filho ama muito a sua menina. Eles formam um belo casal.

Dei um pequeno sorriso em resposta e
um nó se formou em minha garganta ao lembrar de George. Meu único e grande amor. Eu só esperava que minha filha fosse tão feliz com esse rapaz quanto eu fui com meu falecido marido.

- Evandro...

O homem me encarou com as sobrancelhas erguidas e eu lambi o lábio inferior antes de falar:

- Seu filho fará a Letícya feliz?

- O que está insinuando? - ele enrugou a testa em confusão, e sua voz estava carregada de descrença.

Eu tinha que ter a devida certeza de que minha filha estava se envolvendo com um rapaz direito e trabalhador. O último relacionamento de Letty foi com um rapaz que a desprezava e a trocava por um joguinho idiota de futebol. Eu estava preocupada com o bem estar da minha única e amada filha.

- João é um ótimo rapaz. - Evandro disse, parecendo um pouco abalado por minha pergunta tão direta.

- Érr.. Desculpa. Eu...estou apenas preocupada com a minha filha - respondi baixo.

Evandro me encarou com uma pequena carranca e largou seu pedaço de pizza no prato, levantando logo em seguida e me deixando sozinha naquela cozinha.

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EVANDRO GUERRA

Saí o mais rápido daquela cozinha antes que eu fizesse alguma grave besteira. Quem aquela mulherzinha pensa que é pra falar do caráter do meu filho? Do caráter do meu João?

Alcancei meu celular em cima da mesinha de centro na sala, e disquei de cor o número que eu estava já acostumado a ligar.

No terceiro toque uma voz falou.

"Oi, pai."

"João. Se vire e apresse as papeladas para o maldito casório." eu disse liberando um pouco de minha raiva na voz.

A voz de João se tornou tensa do outro lado da linha.

"Aconteceu alguma coisa?"

"Ainda não." respondi frisando bastante o ainda.

Se Ingrid continuasse com essas perguntas estranhas sobre o caráter de João, eu teria que fazer alguma coisa.

"Ok." ele disse do outro lado.

"Se apresse logo, ou sua querida noiva irá comparecer em mais um enterro."

Encerrei a chamada sem tempo para repostas e bufei, jogando o aparelho no sofá sem nenhum cuidado. Nossos "trabalhos" nunca deram errado antes, e não era agora que daria. E eu teria o prazer de acabar com a vida de qualquer um que atrapalhasse meus planos. Sem dó. Nem piedade.

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