Fragmentada (DISPONÍVEL ATÉ 01/12/24)

Quarenta e três

Mesmo atolado de problemas, eu ansiava vê-la e não tinha má notícia na face da terra que me impedisse de ir ao local que ela pediu para encontrá-la.

Espairecer ouvindo sobre ela seria minha diversão favorita de hoje em diante. Assim que ela chega, sei que meus olhos se acendem. É impossível não brilharem ao vê-la.

Só não imaginei que mesmo assim ela notaria meu explícito e gritante enfado. Os problemas quando me atigem acabam por fixar-se em minha testa como um grande outdoor de letreiros chamativos. Sempre fui assim. Odeio isso.

Mas acabo por me desviar do assunto. Não foi para falar de mim que vim até aqui. Jamais. Ela é meu foco. Eles, na verdade.

– ... Quero te ouvir, Melina.

Ela me encara de um jeito curioso, um tanto apreensivo. Parecia não estar de fato acreditando que eu estaca perguntando algo assim. E é compreensível seus questionamentos internos. Eu não era assim. Na verdade eu não sabia ser assim.

– Posso ser sincera? – Assinto tomando mais um pouco do meu drink. – Não sei como acreditar nesse seu novo eu. Você me ferrou tanto, Deon... Não é possível que em questão de meses você tenha mudado assim, tão drasticamente. Mudanças levam tempo.

– Tempo é uma coisa muito individual, Melina, e quem disse que foi drasticamente? – Ela ergue uma sobrancelha. – Tive acompanhamentos, pessoas me auxiliando. Mas não quero falar disso para que não pareça que estou forçando algo baseado na minha trajetória. Só quero que saiba que não foi drasticamente, de supetão. Não interprete assim.

– Tudo bem. – Dá de ombros. – Isso pouco importa agora. O assunto é o bebê. Ok. Falarei tudo que quiser saber sobre ele.

A barreira de defesa que Melina ergueu entre nós parece ser bem forte, mas não é indestrutível. Respeitando seu tempo, eu vou martelando até colocá-la abaixo. Eu quero nossa família unida, para sempre. E quero muito o seu perdão.

Enquanto ela narrava sobre tudo, minhas expressões faciais iam modificando-se a cada novo acontecimentos que ela contava.  Fiquei extremamente surpreso ao saber que Cristine está com ela. Surpreso e grato. Não sei como ela iria lidar com tudo sozinha.

Saber que ela em nenhum momento cogitou tirar o bebê também me deixa aliviado. Seria egoísmo meu dizer que queria esse bebê acima de qualquer outra coisa passando por cima do bem-estar dela, mas fico aliviadíssimo ao saber que independente das feridas abertas em seu peito ela desejou a criança. Não a culpou.

– Você me faz ficar cada vez mais apaixonado por você, Melina. Você é tão... tão... – Sorrio quando vejo seu rosto corar. – Poderia fazer uma relação de qualidades aqui sobre você. A primeira dela seria incrível, depois viria a palavra forte. Depois...

– Para, Deon! – Ela pede e depois chama o garçom e faz seu pedido. – Tenho algo importante a falar. É sobre Jonas Hartmann.

Minha expressão vai de extremamente afetado pela mulher na minha frente para apreensivo. Como assim?

– O que ele quer com você?

– Ele me manda emails há muito tempo, só que eu nunca quis contato. Ontem ele apareceu tarde da noite no meu portão, interfonando para mim. – Um gelo passa pela minha espinha. – Pedi que ele fosse embora e ele disse que ainda iríamos nos falar outra vez. Hoje recebi um email de algum representante dele pedindo um encontro onde eu escolhesse. Ele quer tratar de assuntos sérios. Não disse quais.

– Merd@! – Esbravejo. – O que aquele aprendiz de louco quer com você? – Minha respiração se torna pesada. – Não é possível que esse pesadelo ainda não acabou.