Um mês de passou desde o dia que fui arrancada da minha realidade e trazida para um mundo caótico fantasioso.
Hoje eu dou adeus ao meu cativeiro e vou para outro. Ah, hoje também eu me caso com Deon. Nada de festas ou vestido branco.
Ele irá comigo no cartório, assinaremos os papéis e é isso. Cristine me contou que Maximilian fez contato com Deon avisando que estava vindo pegar o que era dele.
Por esse imenso motivo já não posso mais ficar aqui. Deon me quer às suas vistas.
– Vamos, gata! Faz essa cara feia não. Deon autorizou eu ficar com você lá no hotel. – Cristine carrega minhas poucas coisas. – Pelo menos posso te tirar do tédio falando da minha droga de vida.
– De verdade, Cristine, eu espero que você se livre dessa lama toda quando eu for embora. Você merece recomeçar direito. Essa vida não é pra você. – Balanço a cabeça em negação e ela ri. – Você parece que está se autopunindo vivendo assim, perigosamente.
– Já pensou em ser psicóloga? – Desconversa. – Vamos, não podemos ficar mais.
Assinto e sigo-a até o carro. Ela iria dirigindo e mais dois carros nos seguiriam. Eu, as vezes, me sinto uma estrela de Hollywood sendo tão protegida assim.
Bela hora pra viajar na maionese, Melina.
– Você sabe como meus pais estão? Eu já não aguento mais. Sinto vontade de chorar a cada cinco minutos. – Passo as mãos no rosto em sinal de cansaço. – Nunca desejei tanto que uma morte acontecesse logo como desejo a de Maximilian.
– Sabe que Deon pode morrer também né?
– Sei. E também sei que preciso torcer pra isso não acontecer porque provavelmente serei a próxima. – Me jogo no banco e suspiro. – Isso é uma merda. Queria a oportunidade de fugir, mas não posso. Meus pais são tudo que tenho. Eu morro, mas não os abandono.
– Eu acho linda essa sua relação com seus pais. De verdade. – Cristine parece afundada em alguns pensamentos. – Os meus foram uma droga. Não morreram, mas não quero contato. Me expulsaram de casa quando souberam que transei aos 18 anos.
– Sinto muito, Cristine. Que triste. Ninguém merece isso.
Ela assente e depois fica em silêncio. Entendi que ela estava revisitando alguns sentimentos e lembranças muito bem enterradas. Não quis interromper esse momento.
Posso me considerar extremamente sortuda pelos pais que o destino me deu. Tenho 22 anos e meus pais nunca me cercaram em uma redoma e proibiram certas coisas em minha vida.
Falamos sobre tudo. Sexo, drogas, álcool, casamento, filhos, dinheiro, morte...
Nunca me envolvi com ninguém, mas sei que se o fizesse contaria tranquilamente aos meus pais. Minha mãe sempre disse que queria ser como uma amiga para mim. E eu sempre acreditei e vivi isso.
– Faz um bocado de tempo que vocês não se veem né? – Olhando em seu rosto percebo que não são dos meus pais que ela está falando. Assinto. – Ele está recuperado e provavelmente doido pra te ver.
– Pouco importa, Cristine. Para com essa doidera de ver coisa onde não tem entre mim e Deon.
Chegamos ao hotel até mais rápido do que eu me lembrava. Os carros que nos seguiam esconderam-se entre tantos outros circulando na rua.
Cristine desce do carro e é recepcionada por um homem. Ela diz algo para ele e seu olhar rapidamente cai em mim. Sinto-me incomodada, mas não demonstro tanto. Acho.
Ela vem até mim, com aquele jeito largado de andar, e segura na minha mão.
– Vamos, princesinha. O príncipe já liberou nossa entrada no império dele.
– Há Há Há. – Finjo um riso forçado. – E as malas?
– Vão levar até nós, no quarto. Vem, boba.
Depois de tanto andar de elevador, chegamos até nosso quarto. Era bonito e diferente do que eu tinha usado na noite mais humilhante da minha vida.
– Você só vai ficar aqui até a hora de ir no cartório, Melina. – Ela se joga na cama. – Depois suas coisas vão para o quarto do chefe. Esse negócio de marido e mulher aí.
– É O QUE? – Berro assustando-a. Ela põe a mão no coração e depois ri. – Ele não tá nem doido. Ele ainda preza pela integridade física dele. Onde eu encontro esse ridículo? Quero falar com ele agora. Eu não vou dormir com ele. Isso tudo é de mentirinha. Urgh! Eu sinto que a vontade de matar Deon aumenta a cada vez que ele respira.
– Isso é amor e você não sabe. – Ela vai em direção ao banheiro. – Vou tomar um banho primeiro. Depois é você. Ele vem te buscar às 13h.
Ela se tranca no banheiro e pouco tempo depois ouço o barulho da água caindo. Alguém toca a campainha da porta e eu prontamente vou abrir.
É o homem da recepção de lá de baixo. Ele deixa nossas malas e vai embora depois que agradeço. Fecho a porta e bufo.
Procuro algo apresentável para vestir e não encontro. Vou ao cartório de jeans, é isso. Ele que, se estiver muito incomodado, compre roupas sociais para mim.
Pego meu jeans favorito e uma blusa creme. Isso tem que servir. Assim que Cristine sai do banho, eu entro.
Em pouco tempo estava pronta e aguardando o bobo da corte vir buscar a palhaça que veste jeans no dia do casamento.
Cristine ri do meu look, mas não comenta nada. Até eu quero rir de mim e da minha desgraça.
Deon surge na porta e seu olhar foi muito diferente do que eu esperava. Ele não parecia querer debochar de mim ou ao menos brigar. Na verdade mesmo, ele nem olhou para meu corpo.
Seus olhos ficaram fixados no meu rosto por mais tempo do que eu gostaria. Essa é a hora em que eu quero ser uma toupeira e cavar um buraco para me esconder.
Que olhar intenso é esse?
– Quanto tempo, noiva. – Ele põe as mãos nos bolsos e só então olha para mim inteira. – Calça jeans e sapatos esportivos? Teremos que passar em outro local antes.
– Como quiser. Vamos logo.
Escuto Cristine gritar "eu disse, Melina..." em meio a risos. Ela disse o que? Ah, não quero saber. Cristine é maluca e quer me enlouquecer junto.
Mas... Que olhar foi aquele?
Ele caminha na minha frente e eu fico observando cada movimento seu. Quando seu dedo aperta o botão do elevador, quando suas mãos visitam os bolsos ou até quando seu peito sobe e desce com a respiração forte que ele tem. E esse cheiro que ele exala?
– Não vem, Melina?
Ele já está dentro do elevador me aguardando e eu novamente desejo ser uma toupeira. Que vida de humilhação é essa, meu Deus?
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Fragmentada (DISPONÍVEL ATÉ 01/12/24)
Storie d'amoreSem luxo ou qualquer dinheiro sobrando, Melina Martins leva uma vida simples, morando no campo e cuidando dos pais. Nunca teve maldade em seu coração ou ambição em nada que não fosse seu. Contentava-se com a realidade que vivia; tirando leite da vac...