Deon Castilho
Já não tinha mais como deixar de conversar sobre as coisas que estávamos sentindo. Eu sabia que não era só comigo. Os olhares estavam ficando cada vez mais intensos e a cada vez que eu a via aumentava minha vontade de beijá-la.
Mas era preciso ser realista também. Ela jamais me perdoaria por tudo que causei. Pela imensa bagunça que fiz em sua vida.
Não posso denominar de amor, não sei como é amar uma mulher. Apenas amei meus pais, biológicos e adotivos. E sei que o amor que falo é diferente do que sinto por eles.
Enquanto Melina comia, eu tentava me concentrar na minha refeição também. Mas era impossível. O cheiro dela, seus gestos, o barulho do seu talher...
Que bela merda!
Em pensar que Maximilian se aproxima e isso quer dizer duas coisas: minha vingança se aproxima do fim e Melina em breve seguirá seu caminho.
Sim, seguirá. É o que ela mais espera e fala esse tempo todo. E agora, mais do que nunca, desejo realizar esse desejo dela. Mas não antes do meu.
– Deseja sobremesa? – Ela nega. – Ok. Pagarei a conta e voltaremos para o hotel.
Enquanto caminhava em direção ao carro, meu celular começa a tocar. Vejo no visor que é Rael. Deixo Melina entrar no veículo e me afasto um pouco para atender.
– Diz, Rael.
– O maldito coroa, chefia. Pegou os pais da tua garota. Apagou geral lá. Tá uma merda enorme para eu abafar.
– Você já sabe o que fazer. Merda!
Encerro a ligação e coloco o telefone no bolso. Entro no carro e saio do estacionamento do restaurante.
– Aconteceu alguma coisa, Deon?
– Nada de importante. – Coloco o cinto. – Deixarei você na entrada do hotel. Preciso sair.
Mando uma mensagem para Cristine esperar Melina na entrada do Império. Não posso deixá-la sozinha lá. Aproveito e peço para que ela deixe homens estrategicamente posicionados em todo hotel.
– Prometo voltar rápido. – Digo antes dela descer.
Ela segue para a entrada, em rumo a Cristine, sem olhar para trás. Sigo para onde Rael provavelmente está. No caminho ligo para ele.
– O que merda vocês estavam fazendo que não protegeram os pais da minha esposa?
– Não temos homens suficientes para cercar você, sua irmã, os pais da garota, a garota e o hotel. Ia dar merda uma hora ou outra, chefe.
– Como você escapou? – Solto um palavrão logo depois. – Melina vai me esfaquear com faquinha de cortar pão se souber disso.
Ela me conta tudo e fala que só se salvou porque estava no antigo esconderijo de Melina.
Se Maximilian matar os pais de Melina será um choque pra ela. Isso é um baita de um problema.
Eu sabia que ele não iria jogar limpo, mas não sabia que iria começar a jogar tão rápido. O atentado a mim foi um aperitivo. Não sabia que o prato principal iria vir tão rápido.
Quando esse maldito chegou?
Ou ele não está aqui e tem alguém respondendo por ele?Quando cheguei a fazenda dos pais de Melina, tinha alguns corpos no chão e a casa estava revirada. Rael aparece acompanhado de dois homens, provavelmente os dois que sobreviveram.
– Não tinha como impedir de levarem os dois. Foram uns trinta caras. – Um dos sobreviventes diz, com cara de derrotado.
Preciso ligar para uns sócios pedindo mais mão de obra. Maximilian não está para brincadeira. E nem eu. Dispenso os dois e me aproximo de Rael.
– Vou dar um jeito de arrumar uma equipe boa e eu quero que vocês varram a cidade inteira atrás dos pais de Melina. Se preciso varram o país. – Olho em seus olhos e ele assente. – E... Localize o bosta do irmão dela. Preciso falar com aquele babaca. Na verdade, ela precisa.
– Ok, chefe.
– A polícia logo chegará. Arrume testemunhas falsas e dê o meu número de telefone ao policial como se fosse o de Melina. Isso aqui é um fim de mundo, com certeza o caso não vai ficar conhecido. – Olho em volta. – Depois mande arrumarem tudo e tranque o lugar. Deixe alguém por aqui para nos manter informados e volte para o hotel.
Entro no meu carro e retorno para o hotel. No percurso meu telefone toca. Número desconhecido.
Eu sei o número desse desgraçado, mas ele insiste em me ligar ocultando o número. Patético!
– Bela jogada, seu verme. – Falo assim que encosto o aparelho na orelha. – Onde eles estão?
– Você chega a ser tão ridículo, Deon. Uma desonra para os Castilhos, se estivessem vivos. – Sua risada me faz apertar o volante com força. – Eu quero a garota. Tenho certeza que ela se oferecerá em troca dos pais.
– Você esqueceu o que tenho nas mãos? Aquilo não é tudo, Max. Eu tenho fuçado sua vida há muito tempo. Você sabe que não vou dizer a ela que você está com seus pais. Isso não importa pra mim.
– Mas importa pra ela. Ah, então quer dizer que você não vai dizer a ela? Sinto muito ter estragado seus planos. E você não vai usar o que tem nas mãos. Você é fraco, Deon. Não parece em nada com Rudoph e nem com Eva.
– Como pode ter tanta certeza que não te entregarei para a mídia? Você é um homem público, Maximilian. Sua reputação é que te mantém onde está. – Sinto minhas mãos tremerem. Acabo parando o carro no acostamento. – Porém, podemos fazer um acordo. Preciso encontrar você primeiro. E prometo levar Melina.
Ele sorri e desliga. Minutos depois recebo uma mensagem com dia, horário e lugar onde devemos nos encontrar.
Eu não tenho tanto tempo. Preciso fazer o exame sem o conhecimento dele e após isso bombardear sua vida com tudo que juntei.
Vou atacá-lo sequencialmente. Ele não terá nem tempo para respirar. Justamente isso será o início de sua ruína. Sua morte, espero eu, virá logo após.
Espera ai... O que ele quis dizer com ter estragado meus planos?
Volto o mais rápido que posso para o hotel. Assim que passo pela entrada, a mesma funcionária que cuidou de Melina vem até mim.
– Senhor Castilho, algo está acontecendo no quarto em que Melina está. Os ocupantes dos quartos vizinhos estão ligando para reclamar de gritos e coisas quebrando vindo de lá.
Assinto e sigo para o elevador. Aquele maldito deu um jeito de avisar a Melina. Mas como? Onde ele arrumou contato com ela?
Assim que ando pelo corredor escuto o choro misturado com gritos de Melina. Merda! Ela vai me bater até eu levá-la até seus pais. Mas isso não vai acontecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fragmentada (DISPONÍVEL ATÉ 01/12/24)
RomansaSem luxo ou qualquer dinheiro sobrando, Melina Martins leva uma vida simples, morando no campo e cuidando dos pais. Nunca teve maldade em seu coração ou ambição em nada que não fosse seu. Contentava-se com a realidade que vivia; tirando leite da vac...