Capítulo 5: Quer um vestido emprestado?

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- Chama a Alisson pra mim. - Meu tom de voz saiu baixo.

- Alisson ainda tá no banho. - Tá de brincadeira, nem eu demoro tanto assim.

- Você poderia pegar minha toalha pra mim. - Falei com a maior vergonha do mundo.

- Onde ela tá?

- Na janela, eu acho. - Ele não falou mais nada, o que fez diversas teorias se passarem por minha cabeça. Pouco depois ouvi batidas na porta.

- Aqui. - Abri uma fresta e peguei a toalha.

Bom, o pior já tinha passado. Me enrolei na toalha e fui pegar um par de roupa. Por sorte o quarto estava vazio. Fiquei um tempão procurando, até que peguei um conjunto de moletom, já que hoje está bem frio.

Quando me virei para ir em direção ao banheiro me vestir, dei de cara com Ethan. Ele ainda tinha apenas a toalha enrolada em sua cintura. Eu podia sentir minhas bochechas queimarem. Fui desviar do mesmo para entrar no banheiro, mas ele foi abrir espaço pra mim e isso resultou em eu trombando nele. Como a sortuda que sou, acabei deixando minha lingerie cair.

- Foi mal. - Ele falou e abaixamos ao mesmo tempo pra pegar. O que fez darmos uma trombada. Com total sensatez, comecei a rir. Ethan também estava rindo. De repente a porta do quarto foi aberta e Alisson apareceu com um sorrisão.

- Hora errada. - Ela sorria maliciosa.

- Não é nada disso que você tá...pensando. - Ela fechou a porta antes de Ethan termina a frase.

- Só uma pergunta. - Ele me encarou. - Por que raios você ainda está de toalha?

- Porque to na minha casa. E notei o seu desconforto ao me ver assim, e estranhamente gosto de te deixar desconfortável. - Deu de ombros e eu tentei assimila se realmente tinha ouvido aquilo.

- Você é idiota. - Olhei meu sutiã que ainda estava em suas mãos e o arranquei me dirigindo ao banheiro.

- Marrenta. - Revirei os olhos e fechei a porta. - E se serve de consolo, eu também curti te ver de toalha. - Fechei os olhos e controlei-me pra não cometer um assassinato. Cara abusado dos infernos.

Vesti minha roupa e saí do banheiro, encontrando o embuste jogado na cama, ainda de toalha.

- Você não tem roupa não? Quer um vestido emprestado? - Assim que se levantou a toalha caiu no chão. Eu me virei e por sorte não vi nada.

Ouvi sua gargalhada e me virei para o mesmo com as mãos nos olhos. O mesmo as tirou, revelando sua imagem, ele estava usando uma bermuda. Sem dizer uma palavra eu apenas revirei os olhos e fui até o guarda roupa do mesmo pegando uma camisa e a entregando pra ele.

- Tenho o senso e vista isso. É falta de respeito você ficar na minha presença sem camisa. - Ele me olhou com tédio e vestiu a camisa.

- Como se eu me importasse.

- Garanto que sua mãe não te criou assim. - O mesmo se aproximou de mim com um olhar furioso. Aquela mudança repentina me assustou.

- Você não sabe nada sobre minha mãe. - Seu olhar tinha ódio, muito ódio. Mas também tristeza. Aquilo me deixou intrigada. Senti medo, mas não iria abaixar a cabeça.

- Não sei mesmo, mas como mulher já é de se adivinhar que ela tenha te educado pra ser alguém respeitoso e não um tarado e..e assassino. - Vi a tristeza se aumentar em seu olhar. Talvez eu tenha exagerado.

- Talvez eu devesse ter te matado.

- Se for pra poupar seu arrependimento, vai em frente. Não tenho nada a perder mesmo. - Ele deu as costas e saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Essa frase que eu disse me machucou, não tinha parado pra pensar o quão sozinha estou.

Realmente não tinha nada a perder, e isso doía, doía de mais. Só queria que mamãe estivesse aqui. Olhei para minha mão e sorri triste vendo o anel que era da mesma. Ela me deu em seu último momento de vida. Nele tinha escrito duas iniciais K, que é provavelmente do nome de minha mãe que é Kira e E que não fazia idéia de quem poderia ser. Só sei que não era de meu pai. Mas antes que desse tempo dela explicar do que se tratava, ela se foi. Eu tinha 15 anos na época.

Flashback on
Entrei desesperada na sala onde estava minha mãe. O médico falou que ela queria se despedir. Lágrimas escorriam de meus olhos sem parar.

- Não chora filha, eu vou ficar bem. - Sua voz era fraca.

- Não me deixa mãe. - Me sentei na cama ao seu lado.

- Eu não vou te deixar. Vou continuar te protegendo de onde estiver. Me escuta. - Ela tirou o anel de seu dedo. Um anel que ela tinha desde de sempre, ela nunca o tirava. - Eu quero que fique com ele, e nunca... - ela tossiu - nunca o tire. - Seu rosto cheio de saúde e alegria, estava pálido e triste, seus olhos estavam roxos e fundos. O câncer já havia tomado conta de tudo nela. Ela não merecia estar passando por isso, mamãe é um anjo, era bondosa e sempre estava disposta a ajudar.

- Eu prometo. - Falei entre o choro e peguei o anel o colocando em meu dedo.

- Seja boa filha, mas não boba. Esse é um mundo cruel, com pessoas cruéis. Você tem que ser forte. Lembre-se, você não precisa aguentar tudo sozinha. Você vai encontrar alguém. - Soltei um sorriso em meio as lágrimas.

- Até nos seus últimos momentos você tá preocupada com minha vida amorosa mamãe? A senhora sabe que eu não ligo pra isso. - Ela segurou minha mão e olhou no fundo de meus olhos.

- Você vai encontrar o amor filha, no momento certo. Só não o perca igual eu perdi. - Os aparelhos começaram a fazer barulho e eu olhei vendo os sinais vitais dela caindo.

- Mãe não, não me deixa. - Sua mão havia soltado a minha. - Alguém, alguém me ajuda. - O médico entrou na sala correndo e começou a examiná-la.

- Ela se foi. - Ele disse com olhar triste.

- Não, não não não. Não me deixa mãe, minha mãezinha, não faz isso. Fica comigo por favor. - Meu pai entrou na sala ele tinha os olhos cheios de lágrimas. Eu queria que ele me abraçasse, mas ele não fez. Quem fez isso foi o médico, percebendo a situação.

- Oh querida, ela foi descansar. Ela está em um lugar melhor tá bom. - Seus olhos estavam cheios de lágrimas, o mesmo me abraçou forte e acariciou o topo de minha cabeça em uma tentativa falha de fazer a dor passar. Era médico da família, o conhecia desde de pequena. Sempre serei grata a Dr. Edward, foi mais meu pai que meu próprio pai.
Flashback off

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Continua...

Como se eu mandasse no CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora