18 - significado (gatilho)

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Rafaella observou Gabriel respirar fundo.

Os lábios dele estavam seco.

Ela quase pegou a garrafa de água que estava no carro para entregá-lo, até que ele começou a falar.

- Quando eu fui vendido para a inter de Milão, não tinha nenhuma ideia do que fazer. - ele começou, a voz falha. - E na confusão toda, conheci uma garota. - ela olhou para ele, mas ele não devolveu o olhar. - Ela era incrível, trabalhava com relacionamentos internacionais, então sabia falar português. Nós começamos com uma amizade, ela ia para minha casa, eu ia para dela e passávamos assim. Ela me dava forças para não desistir de jogar, porque a inter não me colocava pra jogo e se colocava, era cinco minutos.

"Mas teve um dia que ela não me mandou mensagem quando acordou, que ela não foi na cafeteria do centro tomar café da manhã junto comigo, não foi dar a caminhada habitual pelos arredores, não me incomodou me chamando de mulherengo."

"Antes disso, éramos 'amantes', dormíamos juntos, mas não passava de um relacionamento casual. Descobri, alguns dias depois, que ela não me responde porque estava grávida. Sim, isso mesmo"

"Eu disse para ela que iria assumir, que adoraria ser pai. Ela havia pensando que eu iria recusar, porque não tínhamos nada assumido. Não contei para minha família a pedido dela, não iria falar se não era vontade dela, afinal, era ela quem estava carregando a criança, o nosso filho."

Gabriel passou as mãos pelo cabelo, puxando-o com força.

Rafaella estava com os olhos arregalados, tentando entender.

- Um dia, ela estava voltando de um exame. O exame que iria mostrar o sexo do bebê. Um menino. - ela viu as lágrimas em seus olhos. - Ela me disse que ia desligar o celular para voltar para casa, que estaria de volta em dez minutos. - ele fez uma pausa. - Esperarei os dez minutos com um sorriso no rosto, segurando uma caixinha de doces para ela. Nada. Passaram-se trinta minutos. Nada. E assim passou. Comecei a ligar para ela desesperado, mas nada. Quando estava perdendo as esperança, o celular atendido, mas não era ela. Era uma enfermeira.

"Até hoje eu lembro do momento em que cheguei no hospital. Do momento em que o médico e a enfermeira me disseram que ela e o neném não haviam resistido"

"Depois disso, me fechei para muita gente. Minha irmã, meus pais, todo mundo. Quando voltei para o Brasil, foi um refúgio. O Flamengo foi um refúgio. Nunca expliquei o que aconteceu e eles nunca me pressionaram a falar."

Gabriel passou a mão pelos olhos, afastando algumas lágrimas.

- E é daí que vem o significado do anel. - ele pegou a mão dela, passando o dedo pelo dragão. - Draco significa dragão. Esse seria o nome do bebê, caso fosse um menino. Por isso ele é tão importante, entende? O anel faz isso com você porque você sente o quanto é importante. - ele fungou. - Depois disso tudo, acho que já havia passado uns anos, eu acabei explorando a minha sexualidade, descobrindo coisas novas. - riu. - Mas isso é uma história para outro dia: a história de como Gabriel Barbosa, o Gabigol, descobriu que era Pansexual porque sempre se lembrava do que Marie dizia: "viva, Gabriel, viva, a vida é mais curta do que pensamos".

Rafaella apertou sua mão em troca e decidiu contar a ele.

Fetiche - Gabriel BarbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora