Capítulo 7

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GUILHERME

Eu queria sentir o vento por todo o meu cabelo, mas escolhi ter juízo e colocar o capacete. Eu daria de tudo para apenas me sentir naquelas cenas clichês de filmes adolescentes, onde o protagonista está andando de moto, sem capacete e com os braços abertos, apenas sentindo o vento e tendo aquela sensação de estar vivo.

Mas essa sensação de estar vivo, pode custar minha vida. E eu prefiro me sentir seguro, não vivo.

Por enquanto, só estou sentindo o vento quente de Fortaleza batendo no meu corpo, e porra, é a melhor sensação de todas. Amo andar de moto, além da sensação de ser radical e aventureiro, é pela sensação de vento quente contra a minha pele. Amo ar condicionado, mas não tem nada comparado ao vento natural.

Gosto até da sensação do sol escaldante queimando a minha pele – é bom sempre usar protetor solar antes de andar de moto. Isso me faz rir, que tipo de aventureiro eu sou? Nenhum aventureiro usa protetor solar para sair em um dia ensolarado, eles sempre voltam queimados, é uma forma de se esbanjar. Nenhum aventureiro usa capacete, isso é um fato.

Eu deveria tentar ser mais aventureiro, mas só o pensamento de não usar capacete – acabar batendo em um carro e um ônibus passar, assim esmagando minha cabeça – é assustadora. Também não gosto nada da ideia de não usar protetor, já basta a surra que eu levo do meu pai e ainda ficar todo ardendo do sol? Não, isso é o pior que poderia me acontecer.

Já aceitei, não sou aventureiro. Sou um jovem cauteloso que vive preso com o pai, essa é a minha realidade, é a mais pura realidade. 

Também tem outro motivo para eu gostar tanto de moto, me faz entrar em uma história e narrativa, que por mais que não seja minha, eu sinto que seja minha. É a narrativa de um garoto de dezoito anos, que sempre se aventura, entra nas maiores roubalheiras de todas, sempre tem uma nova paixão e que sempre está sorrindo.

Eu quero que essa narrativa seja minha, mas eu sequer consigo me lembrar quando foi a última roubalheira que entrei, qual foi a minha última paixão, qual foi a minha última aventura e a última vez… não, a última vez que eu sorri, sorri de verdade, eu me lembro bem.

Foi com a Isadora.

Por mais estranho que seja, Isadora, recentemente, tem sido a parte mais feliz da minha vida – sim, eu tenho uma vida bastante miserável como pode ser percebido. Ela me faz rir, rir tanto que meu estômago chega a doer e às vezes eu quase choro. Adoro irritar Isadora e adoro quando ela fica brava comigo, mas depois tenta manter a compostura de garota calma e meiga.

Eu não queria que fosse real, mas eu fiquei preocupado com a Isadora quando não conseguimos terminar a nossa cena de novela. Maluquice, não? Afinal, eu odeio essa menina. Mas ela tem uma paixão e um talento tão grande para televisão e os grandes telões, que simplesmente parecia horrível deixar a professora ter a ideia mais errada sobre ela.

Era o certo a se fazer.

Mais certo ainda depois dela ter me chamado para um churrasco na casa dela. Eu não podia deixar a menina se encrencar por culpa minha, ela ama esses negócios de filmes, novelas e séries. É isso que eu estou dizendo para mim mesmo, por mais que eu saiba, lá no fundo, que eu só não queria que Isadora se ferrasse.

Sim, a pior coisa de todas está acontecendo. Eu estou começando a me importar com a monstruosidade que a Isadora é.

Mas como eu não poderia me importar? Ela me chamou para o meu primeiro churrasco na minha vida toda. Eu sei, parece loucura. Como um cearense nunca participou de um churrasco? A resposta é mais fácil ainda: olha para o meu pai que você tem a resposta em cinco segundos – ele acha que churrascos são coisas da "ralé".

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