Capítulo 29

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ISADORA

Almoços em família são meus preferidos, mas apenas quando estou com bom humor, não quando faz apenas uma semana que terminei com Guilherme, ou melhor, ele terminou comigo.

De alguma forma, eu pensei que nosso namoro não teria data de validade, que nós ficaríamos para sempre, mas eu estava enganada, eu deveria saber que a realidade familiar de Guilherme é bem diferente da minha e eu me sinto culpada.

Me sinto a pior pessoa do mundo, pois por mais que eu tenha dito que estava tudo bem para ele, não estava nada bem. Internamente, eu estava furiosa com ele, eu queria gritar com ele, eu queria implorar para ele se livrar daquela merda toda, eu queria pedir para que ele lutasse por nós.

Mas eu sabia que ele não faria.

Eu sabia que Guilherme não iria desafiar o pai dele por mim, afinal, fui apenas mais uma garota na cama dele – guardei para mim, mas foi exatamente assim que me senti quando ele terminou comigo depois de transar comigo. Uma dica para todos garotos: não terminem com uma garota logo depois de transarem com ela, ela vai se sentir mais usada que copo descartável.

Se eu pudesse, eu gritava agora. Eu gritava muito. Eu extravasava toda essa raiva que eu estou sentindo. De Guilherme, de mim por sentir raiva de Guilherme – ele não tem culpa por ter o pai que tem. Mas mesmo assim, ele tem culpa de reagir – e me culpo de novo, eu não tenho direito nenhum de dizer como uma vítima de agressão deve reagir.

Eu quero chorar porque me sinto a pior pessoa do mundo. Quem está provavelmente apanhando do pai agora é Guilherme, enquanto eu deveria – se não fosse pelo meu humor de merda – está aproveitando a companhia da minha família maravilhosa. Mas sou egoísta, egocêntrica e mesquinha e só consigo pensar em qual o motivo para Guilherme não lutar por mim.

Não estou nos pés dele, por isso, com toda insensibilidade, raiva e angústia que tenho em mim, eu diria: "sai de casa" e pronto, a situação estaria resolvida. É fácil assim, não é? Não sei.

Não quero julgar Guilherme, não quero sentir raiva de Guilherme, mas sinto e me odeio por isso. Como eu posso pensar essas coisas de Guilherme? Ele só quer me ver segura, ele só quer ver meu bem. Mas como exatamente isso funcionaria se uma das poucas vezes que estou bem é quando estou com ele?

Eu deveria canalizar meu ódio todo para o lixo de pai que ele tem, mas eu não sou boa como Madison, nem muito menos inteligente como Diego, ou perspicaz como Daiane, eu sou totalmente o oposto de meus irmãos. Eu sou uma megera, eu sou egocêntrica, eu sou burra, eu sou temperamental, eu sou uma pessoa ruim, eu sou uma pessoa errada, mas tão errada.

Rio ao perceber a grande ironia que me encontro – Adrian e Madison olharam para mim, mas se fingiram de sonso depois.

Há um tempo atrás eu ficaria estressada se alguém cogitasse a possibilidade de eu parecer com qualquer um dos meus irmãos gêmeos, e agora, eu daria tudo para ser um pouco como eles. Eu queria ser como Daiane que muito antes de acontecer teria previsto isso e não faria as burradas que eu faço, eu queria ter a empatia e bondade de Madison que sempre consegue pensar nos outros, ou a inteligência de Diego para saber como lidar com tudo isso.

Mas não sou como eles. Sou como eu.

Sou orgulhosa, minha dificuldade em admitir erros já me fez tomar as decisões mais burras de todas – às vezes perdão é o suficiente e tudo que alguém precisa escutar. Sou burra, porque deixo minhas decisões serem totalmente baseadas em o quão certa estou. Ah, e eu sou muito besta mesmo, como alguma vez me julguei como a sensata dos quadrigêmeos? Qualquer um deve ser mais sensato que eu.

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