Capítulo 24

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GUILHERME

Eu tirei a sorte grande e todas minhas dúvidas vão embora quando olho para o meu lado e vejo o rosto belo e calmo de Isadora.

Não consigo dizer a quanto tempo estamos no Omegle, mas consigo dizer quantos pintos eu já vi – parecia um festival de pinto, um canavial de pintos, foi horrível. Toda vez que um aparecia, Isadora começava a rir, ela sabia bem o que essa rede social era e não me contou, me senti duplamente enganado.

O mais constrangedor, foi quando surgiu um cara fantasiado de cachorro de látex e ele começou a fazer coisas estranhas com o pau dele e o orifício anal, o pior momento da minha vida – toda vez que fecho meus olhos, ele reaparece para me assustar. Eu nem consegui passar o homem rápido, fiquei mais preocupado em fazer com que Isadora não visse aquela visão tenebrosa.

Tem cada povo nesse Omegle.

Ter contado que nós dois éramos Raposo Misterioso e Loba Misteriosa foi talvez a decisão mais esperta, falando de publicidade, possível. Mesmo já sendo bem tarde da noite, conseguimos ficar nos trends topics do twitter e meu Instagram profissional não para de sinalizar novas notificações com pessoas nos marcando dizendo que nos encontraram no Omegle.

A noite tem sido divertida. Eu e Isadora já fomos desafiados a fazer muitas coisas: beijar molhado – ela odiou, mas eu não me aguentava de tanto rir da cara dela, parecia um cachorro filhote furioso na chuva –, quem é mais provável – aqui acho que nós tivemos nossa primeira DR –, eu nunca, mas a maioria das pessoas perguntavam sobre nós individualmente.

O motivo de termos começados a fazer streams de games, Isadora falou a verdade – era algo que ela era boa e que gostava – e eu contei quase toda a verdade – claro que não falei que continuo fazendo para um dia me ver livre do meu pai –, isso incomodou um pouco Isadora, eu sei. Isadora não vê um motivo para eu não contar para todo mundo e tornar público, mas ela simplesmente não entende, ela não entende o quão difícil é.

Ela sabe, ela sente empatia, mas ela não entende.

Agora, estamos falando com mais um fã. É uma menina loira, bem bonita por sinal, com um piercing no nariz e um bronzeado incrível. Ela tem cara de carioca. Ah, e também tem várias fotos atrás dela, em que ela está em praias do Rio de Janeiro.

— Você é do Rio? – foi a primeira coisa que eu perguntei, depois dela simplesmente ficar parada olhando para nós dois como se não acreditasse.
— S-s-sim, sou – ela disse, ainda em choque. A menina estava muito engraçada, era como se ela tivesse visto algum tipo de fantasma. Uma fofa. — Como você sabe?
— Tem várias fotos suas em praias do Rio, atrás de você – apontei com a cabeça para trás dela e ela riu.
— Ali é meu mural de praias que eu já visitei – ela disse. — Eu amo praias, pretendo um dia ser formada em Biologia Marinha.
— Sério? Que legal! Isadora também ama praias.
Isadora riu e se aconchegou mais ainda em mim, como se tivesse marcando território. — Sim, amo muito – ela então agarrou meu braço com uma mão e deitou a cabeça no meu pescoço.

Então, quer dizer que eu, um simples e mero nerd gamer fã de Naruto, causo ciúmes na grande princesinha do Mereyos? Interessante, muito interessante.

— Ai que show! – a menina disse, animada. — Eu amo tanto praia, que eu espero um dia saber sobre tudo de lá.
— Mas não te assusta um pouco não? Porque em biologia marinha você vai, tipo, estudar todos os animais, de todas as águas – Isadora perguntou, genuinamente curiosa, acho que ela já deixou os ciúmes de lado e está prestando muita atenção no que a garota diz. — Tipo, não é muita coisa, não?
— Isso me anima mais ainda! – a menina respondeu, sorrindo. — Vai que, sei lá, eu acabo descobrindo uma nova espécie de animal…
— Sereias! – as duas dizem juntas e começam a rir. — Eu super acredito que sejam reais – Isadora disse. — Mas não a versão princesa da Disney.
— Prefiro acreditar na versão da Disney mesmo – a menina disse, rindo. Ela então olhou para nós dois, ainda em estado de choque. — Meu Deus, é muito surreal! – ela quase gritou, surtando, como uma tiete e eu amei. Amo receber atenção e carinho, pelo menos quando a atenção é bem privada e ninguém mais está vendo. — Vocês não tem noção de o quão legais vocês são!
— Na verdade, eu sou bem popular no colégio – falei, dando de ombros, como se fosse verdade e eu fosse um esnobe.
A carioca riu. — Sério?
Isadora me deu um tapinha. — É mentira dele.
Eu ri e dei de ombros. — Não tenho habilidades sociais nenhuma, acredite. A popular, ou melhor, princesinha do colégio, está do meu lado.
— É, dá pra perceber – nós três rimos.
— Você também parece ser bem popular no colégio – Isadora disse.
A menina começou a rir, como se Isadora tivesse dito alguma piada. — Sério? – ela perguntou e Isadora assentiu. A menina era bronzeada, loira, olhos verdes, lábios rosas, o corpo, pelas fotos, é incrível, como ela não era popular? — Bom, vocês tão bem enganados. Ninguém quer fazer amizade com a menina que cria e leva um polvo para o colégio.
— O quê? – eu e Isadora perguntamos surpresos e na mesma entonação, isso que eu chamo de química.

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