prologue

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Jisoo crava os dentes no maço de cigarro e usa as duas mãos para subir na parede destruída do que um dia foi o banheiro feminino da escola. Ela arfa e limpa a poeira das mãos, e em seguida, traga o cigarro até não poder mais, deixando a fumaça formar uma névoa em frente das ruínas e escritos à caneta nas paredes.

Ela conserta o chapéu preto em cima do cabelo negro, e põe os pés em cima da parte destruída. Quando os passos se aproximam, ela nem presta atenção, até se dá o luxo de fechar os olhos.

— Eu procurei você o intervalo inteiro — Sowon aparece com a respiração pesada. Ela coloca as mãos nos joelhos, e olha para cima. — Onde estava?

— Onde mais eu estaria?

Sowon usa as duas mãos para subir, e chuta os pés de Jisoo — que faz uma cara terrível para ela. Sowon tem o cabelo escovado, usa uma blusa em moda e uma saia rosa choque até a metade das coxas. Ela tem tudo para ser uma garota popular, mas falha toda vez que tenta se aproximar das líderes de torcida — que a acham esquisita demais para o grupo.

Por outro lado, Jisoo sempre achou uma piada a forma que Sowon se humilha para aquelas garotas, mas pelo menos isso não é tão recorrente agora. No primeiro dia de aula da segunda série ela caminhou até si, e antes que Jisoo pudesse dizer algo, Sowon disse que naquele ano finalmente faria amizade com pessoas decentes.

Pessoas decentes. Ela realmente olhou para Jisoo usando uma roupa prateada — qual ela disse para alguns que era um sinal de boas vindas para extraterrestres e para outros que era um protesto contra os lixos espaciais que caem na Terra diariamente —, e achou que fosse uma boa ideia passar o resto do colégio com ela. Hoje em dia, após ser levada para a diretoria diversas vezes, Jisoo só opta por roupas escuras e seu chapéu preto por cima do cabelo levemente bagunçado, mas extremamente liso.

Sowon tira duas latinhas de coca-cola do seu longo casaco, e dá uma para Jisoo, que divide seu cigarro. Ela dá uma tragada, mas tosse em seguida.

— Você não precisa aceitar, sabe — Jisoo ri enquanto abre sua latinha. — Ainda que esteja comigo, continua dando uma de garota legal pra impressionar.

— Eu não estou tentando impressionar uma maluca como você.

— Uma maluca que você adora — Jisoo chuta a panturrilha de Sowon. — Ninguém te seguiu até aqui, né?

— Ninguém quer saber desse fim de mundo dentro de outro fim de mundo — Sowon diz e inclina seu corpo para perto de Jisoo com um sorriso perverso. — Três palavras. Uma sensação.

— Ah, essa merda de novo.

— Vamos, Jisoo. Eu sei que você é boa em adivinhações — Sowon persiste. — E não tem dica.

Jisoo suspira fundo, e pensando no fato de que Sowon havia passado o intervalo atrás de si, agora estava em um lugar que não gostava de ficar, e estava com latinhas de coca-cola — que só tinham na máquina fechada — ela só pôde pensar em uma coisa:

— Algum professor sofreu um ataque cardíaco, e estão tranquilizando os alunos, sei lá?

— Quase isso! O último horário é livre — Sowon a parabeniza com um sorriso. Ela traga o cigarro pela última vez, e passa para Jisoo, que não tem um motivo para reclamar.

As duas saem do banheiro, e de fato não há ninguém por lá. Elas passam pelo corredor da sala de química, e lá fica uma frase pichada na parede que Jisso adora.

Tudo acontece na Califórnia — ela lê como se fosse uma canção, e chama a atenção de Sowon.

— Seja quem for o escritor, ele tá mais que certo.

Elas precisam lidar com comentários debochados sobre o seu desaparecimento dos corredores. Jisoo coloca os dedos do meio para o alto enquanto Sowon abaixa a cabeça, envergonhada. Elas passam a aula surpreendentemente, falando sobre química, e na aula seguinte, sobre física. Jisoo até que sabe respeitar a escola, às vezes.

No último horário, todos vão para os corredores. Jisoo e Sowon estão perto dos armários enquanto observam um grupo de garotas.

— Ela é tão bonita... — Sowon diz enquanto olha para uma garota de cabelo negro e olhos verdes.

— Ela parece duas vezes mais velha que nós.

— Eu tô bem? — Sowon pergunta de repente. Ela mexe nos cachos para arrumá-los. — Vou falar com elas.

— Você ainda tá nessa?

— Sim. Vai no refeitório comer alguma coisa que vou depois.

Jisoo balança a cabeça enquanto observa Sowon ir até as garotas — que fazem umas caras de surpresa, mas tratam de incluir ela no assunto por educação. Os olhos de Jisoo cruzam rapidamente com os olhos da garota de olhos verdes. Ela acena com a cabeça de forma quase imperceptível, e Jisoo faz o mesmo — seu acréscimo é apenas como segura o chapéu.

Ao invés de ir para o refeitório, ela pega mais uma coca-cola e vai para o lado de fora da escola. Pelo que ela vê, cada um tem seu próprio grupo, mas ela e Sowon não se encaixam — e da sua parte, não está interessada.

Ela abre a latinha enquanto está na frente da saída. Jisoo sabe que chama atenção. As garotas se perguntam porque ela usa aquelas roupas, e os garotos lamentam por ela ser atraente, mas tão estranha. Mas Jisoo não está nem aí para o que os garotos pensam, ela nunca vai deixar algum deles chegar perto de si.

Ao caminhar, ela percebe que atrai olhares e se torna assunto entre os grupos. Ela até se atreve a morder o lábio inferior para uma garota que não para de lhe olhar.

Jisoo vai atravessar a rua, e não dá a mínima se alguém lhe dedurar para o diretor. Ela vira o rosto quando escuta Sowon gritar seu nome, e quase a manda calar a boca — mas não faz questão que a escola escute sua voz, e nem gosta tanto assim de ser grossa com a outra.

Tudo acontece muito devagar quando um carro vermelho aparece na maior velocidade. Alguns adolescente saem do caminho antes dele cruzar por si, mas Jisoo ainda precisa de alguns segundos para poder desviar.

— Jisoo! — Sowon grita.

Ela consegue dar três passos para trás, o suficiente para não ser atingida pelo carro, mas ainda consegue ver um garoto dirigindo, e a garota cruzar os olhos com os seus. Olhos serenos, e ao mesmo tempo perversos.

Jisoo vai mudando aos poucos a expressão surpresa por uma irritada. E após amassar a latinha de coca-cola que estava segurando, ela grita:

— Cuidado com essa velharia, seus otários! — Jisoo testa sua pontaria ao jogar a latinha no carro já distante. Ela bate no vidro de trás, e o garoto tira a mão do volante para mostrar o dedo do meio para ela. — Babaca.

Sowon chega até ela, e mesmo que tenha visto que o carro não encontrou Jisoo, ela olha cada centímetro do seu corpo em busca de algum arranhão.

— Você está bem?

— Quem são aqueles dois? — Jisoo continua irritada.

— Os irmãos Kim — Sowon responde. — Parece que eles decidiram voltar à escola depois de duas semanas sumidos.

Jisoo não dá a mínima para o que seja irmãos Kim, mas olha para o horizonte — onde não há mais carro algum. Ela chama Sowon com a mão para elas darem o fora, e tenta não pensar na garota que viu por um segundo.

summer lover | jensooOnde histórias criam vida. Descubra agora