...da enganação!

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A brisa suave soprava no meu rosto em um convite para abrir os olhos. Aceitando, forcei as pálpebras a se separarem. O céu estava limpo, poucas nuvens passavam, assim como algumas aves, que o cortavam muito esporádico. Preguiçosamente me levantei, tendo a visão do extenso campo coberto por capim, porém no meio deste denso mar verde uma casinha de taipa descasava solitária.

Ela me parecia muito convidativa, era simples e pequena. Não parecia haver iluminação alguma, pois dispunha somente de uma porta nem grande, nem pequena. Digamos que é a conta para a travessia de um corpo. A construção de barro de longe se assemelhava diminuta, porém enquanto eu desembaraçava as compridas ervas das pernas, era como se eu estivesse andando sem ao menos sair do lugar. Até que cheguei na faixada de uma enorme parede de barro e uma longa madeira se transformou na passagem.

Empurrei a porta com força, no entanto, a força de um peteleco a abriria. Surpresa, me recompus para, enfim, admirar o belo salão de baile que se apresentava adiante.

Era esplendido. Sua cor mudava segundo o caminhar, ora rosa, ora roxeado, passeando também pelo azul. Janelas de metro, a perder de vista, se entendia pelo lugar, elas eram um pouco inclinadas, pois, ao olhar bem, pareciam expirais de cristais. Lustres em forma de gotas de diversos tamanhos estavam suspensos no ar refletindo a claridade que vinha de fora, todavia não havia nada que brilhasse, além deste lugar. O chão era feito de areia que, curiosamente, ao tocar os saltos, se abriam, mostrando um mar transparente onde eu pisava.

Mãos tocaram minha cintura, em um balanceio suave, nostálgico como um barco à deriva. Em um rodopio, fui solta, no entanto, não demorei a sentir meu corpo junto ao seu. De olhos cerrados, apoiei o rosto no seu peito, sentindo o seu perfume harmônico tomar contado espaço. Com as mãos delicadas, tocou meu rosto, passando o polegar pela minha mandíbula, até o meu queixo.

Serena analisei o espaço vazio, sentindo o frio na barriga ao perceber que estava sozinha. Isso mudou, quando senti mãos quentes no meu ombro. Era uma menina. Ela era comprida e trajava um vestido de festa espalhafatoso. No seu rosto, um sorriso de criança brincava nos lábios, os olhos eram grandes e amendoados, deixavam a franja que caia sobre a testa ainda mais adorável. Mais ainda do que as bochechas gordinhas e rosadas. Pegando-me pela mão, pediu que a seguisse.

Ela foi à frente segurando a barra da roupa, quase não dando tempo em acompanhá-la. Rapidamente passou por uma porta semelhante às janelas, contudo não conseguiu saber onde deveria entrar. Pelo reflexo do cristal, um bolo sobre a minúscula mesa continha uma vela a ser soprada.

Para ter a certeza de que a menina estaria comigo de novo, conferi. Sentindo o impulso de apagar a vela, soltei um pouco de ar. O fogo foi se esvaindo e sua fumaça tomou meu rosto, entrando pelo nariz, substituindo o lugar do ar. Me debati para tentar afugentar o que estivesse dentro de mim.

Senti um cheiro forte de álcool, proibindo meu sistema respiratório de concretizar seu trabalho, obrigando-me a vir para realidade. A claridade penetrante fez com que piscasse mais vezes que o necessário para me acostumar com o ambiente. Notei que estava sentada e tinha pessoas ao meu redor, mas não entendia bem o que falavam.

- Senhora, está se sentindo bem? - Disse a atendente.

Outra mulher que também parecia trabalhar no local veio me oferecer um copo d'água.

Aceitei o líquido, necessitava urgentemente umedecer minha boca.

- Estou, só... um pouco tonta. Com um analgésico ficarei bem. - Passei a mão pelo cabelo, pois não sei o estado que tenham ficado depois da minha queda.

- Não acho prudente se automedicar. - Um estranho disse. Ele estava de cócoras a poucos centímetros, exatamente a distância do seu braço apoiado no meu assento.

O Céu Na Palma Da Mão [concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora