Há 6 anos...
— Acorda, Alexander! — Senti o edredom que cobria parte do meu corpo ser retirado com brutalidade. Na esperança de esconder o meu rosto da claridade, me virei de bruços e o escondi entre as mãos. O vento gelado do inverno surfou nas minhas costas, as fazendo retesarem.
— Desde quando ele está assim? — Ouvi a voz de Ruan, mas permaneci deitado sem mover um músculo sequer.
— Há muito tempo e já passou da hora dessa palhaçada acabar. — Indignada, a senhora deixou transparecer a sua decepção.
Não é que eu queira decepcioná-la, esta é somente minha maneira de não pensar sobre o assunto. As coisas aconteceram tão rápido, de uma hora para outra ele estava bem e, em outro momento, não estava mais.
É difícil pensar que Guilherme já não está mais entre nós, que não frequenta seus lugares favoritos, que não existe um espaço no mundo reservado a ele e que não haverá encontros para descontrair da rotina fatigante.
Sei que já passei pela experiência de perder pessoas próximas, mas agora que estou maior, tenho minha independência e me entendo com gente neste vasto mundão… não sei explicar…
Meus pais tiveram uma morte onde o que me lembro deles, mesmo sendo pouco, me faz sorrir e lembrar com nostalgia estar com eles. Com Guilherme, foi diferente.
Nós o vimos definhando na cama de um hospital, lutando pela vida na esperança de que alguém morresse para lhe dar a vida e nós não podíamos fazer nada a não ser colocar um falso sorriso no rosto, sustentando um “está tudo bem”, quando não estava nada bem.
E por mais que eu tente, não consigo tirar da cabeça seus últimos dias. Ele estava apático, com olheiras profundas, as perolas azuis já não brilhavam, os lábios ressequidos, seu corpo estava frágil e esquelético. Mesmo assim, sorria para nós, sempre dando o seu melhor.
— Estou indo para casa. — falou com a voz rouca e sussurrante.
— Não se esforce tanto. — Yuri, que estava segurando sua mão, acariciou os seus poucos cabelos loiros.
Eles já namoravam há um certo tempo e posso dizer que foi uma das âncoras do meu amigo quando descobriu sua enfermidade.
— Eu amo você, Yuri, nunca duvide disso um só segundo, desde o dia em que te vi, amei você. — Olhando nos olhos azuis do falso Potter, ele declarou, que com um gesto de cabeça concordou, dando um beijo demorado no meu amigo.
Nos olhando de esgueira, sorriu.
— Cheguem mais perto, seus idiotas. — Ordenou. Tomando o lugar de Yuri, me sentei ao seu lado enquanto Ruan estava do outro. Gui pegou nossas mãos e as uniu.
— Vocês são os irmãos que eu sempre desejei ter. Amo você de todo o meu coração, obrigado por estarem sempre comigo até mesmo nas loucuras — Rimos da sua observação pertinente, meus olhos já não o enxergavam direito, pois estavam anuviados com as lágrimas, fungando o deixei prosseguir. — Não fiquem tristes por mim, eu sou um deus, lembra? Estou voltando para o Olimpo, cuidem do nosso lugar aqui embaixo. Eu confio em vocês para cuidarem do meu amor e da minha família. E parem de chorar, meu Deus, são homens ou ratos? — Exclamou quando deixei as lágrimas rolarem. Ruan já chorava há muito tempo.
Nos abraçamos e fomos embora, com muita relutância. Ele disse querer se despedir da família também.
Neste dia, não estava sendo produtivo para barbearia, não conseguia me concentrar, meus pensamentos giravam entorno do Gui e o peito apertado só piorou quando Ruan chegou no Olimpo com os olhos vermelhos.
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O Céu Na Palma Da Mão [concluído]
RomanceAtena Loyola que aos vinte e sete anos tinha o sonho de ser mãe, mesmo depois de ter passado por más experiências em relacionamentos fracassados, ainda assim decidiu realizar esse bendito sonho, nem que para isso tenha que fazer uma inseminação assi...