Mais uma noite não consigo dormir.
Pesadelos de um futuro desconhecido me assombram constantemente, como uma nuvem escura que nunca se cansa ou vai embora. Um passado esquecido me rouba o sono todas as noites, sem hesitar, sem arrependimentos fúteis e me leva. Me leva de volta ao buraco em que eu mesma cavei e agora estou afundando e afundando e afundando cada vez mais para baixo da superfície que quero tanto encontrar em meio aos meus gritos de desespero.
Mil pensamentos, mil arrependimentos, mil lembranças horrendas de mortes invadem minha mente, golpeando o lugar mais fraco e profundo do meu coração de sonhadora. Eu era uma sonhadora. Sonhava com o dia de fugir de vez desse lugar miseravelmente sufocante e destruidor de almas.
A cada morte que eu tirava, mesmo as merecidas, um pedacinho da minha alma ia junto com o sangue que eu derramava. Eu era uma arma. Eu sou uma arma. A melhor, mais eficiente e mais forte do Arsenal dela.
Já quase para amanhecer, cansei de rolar na cama e encarar o teto escuro do meu quarto com os mais básicos detalhes. Espaço suficientemente cabível para meu conforto; Cama de solteiro; Guarda-roupa no canto; Uma mesinha do lado da minha cama com as mais variadas adagas e livros, grossos e finos; Uma lâmpada com luz branca, apagada e embutida no teto; Uma janela para me avisar que não faltava muito para o sol aparecer.
Calcei minhas botas na altura da panturrilha, já estava de calça e blusa comprida de um tecido leve e fino. Larga o bastante em cima para mostrar meus ombros, mas o tope preto que eu usava por baixo não deixava transparecer nada interessante. Estava fazendo frio quando sai do meu quarto e caminhei pelo corredor que me levaria ao andar de baixo, para o salão de treinamento nos fundos.
A casa era suficientemente grande para caber dez jovens brutalmente treinados à cumprir ordens de sangue, sem questionar uma palavra sequer. Dez jovens escolhidos a dedo, tirados ou capturados de suas próprias casas, para servir a um propósito maior. Um propósito de reivindicar um futuro que, por ignorância de mentes pequenas e a "segurança dos demais", os vampiros teriam que deixar de existir.
Todos eles.
E tinha meus companheiros de treinamento. Cada um com sua história de dor, cada um com seus traumas. Éramos problemáticos demais para nos importarmos uns com os outros. Frios demais. Cruéis demais. Ninguém é mais o mesmo depois do primeiro dia aqui. Cada dia, chegamos mais perto da loucura, da impaciência, e da perda total da nossa estabilidade psicológica.
Não importa quantas vezes eliminamos um vampiro, sempre aparecem mais dois no lugar. É uma total perda de tempo, e sabíamos que ela não dava a menor importância para a devastação da nossa sanidade mental, quando empurravam mais e mais vampiros para a ponta de nossas estacas.
Finalmente cheguei a sala de treinamento. Todos os obstáculos, pontos de magia, e arsenal de armas apropriadas estavam limpos e intocados desde ontem. Perigosos demais para um novato, e tentadoramente chamativo para alguém como eu: Incansável. Todos nós éramos.
Perdi a conta de quantas vezes visitei essa sala nas minhas noites mal dormidas. Nas noites em que os pesadelos e pensamentos ameaçavam me afogar e me matar lentamente. Ou seja, quase todas as noites eram assim.
As vezes eu acho que meu coração está enterrado a quilômetros e quilômetros de terra, sangue e remorso. Culpa pelas vidas que eu tirei, inocentes ou não. Eu não me importava se um pedaço de mim se quebrava, nenhum de nós parecia de importar.
Até porque não faria diferença alguma se nos importássemos ou não. Porque não adiantava sentir, não adianta se importar quando tudo o que nos resta é só existir e obedecer. Nada além disso. Nunca além disso.
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~Estrela da Meia Noite ⭐ || Elijah Mikaelson
FanfictionTreinada para matar desde a adolescência, Ayla Moraine se viu em um impasse quando foi designada para matar um dos lendários vampiros Originais, pois de acordo com sua Reitora, a garota livraria o mundo de uma linhagem inteira de vampiros sanguinári...