ONZE

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Já senti dor antes.

Na minha infância, quando meus pais me batiam e me diziam que eu era um defeito da natureza. No Instituto Immortals, quando éramos forçados a treinar até suar sangue e respirar espinhos. Ainda mais no começo, quando fui agredida e espancada, todas as noites antes de dormir, pelos mais experientes e mais fortes. Até que aprendi a revidar.

Senti dor nas minhas missões, quando os vampiros revidavam com violência e força bruta. Nas minhas noites sozinha, enquanto eu sucumbia aos meus pensamentos e contava meus próprios batimentos cardíacos. A sanidade fugindo de mim pouco a pouco. Senti dor em cada centímetro daquele lugar infernal.

A dor física era suportável, o que eu não aguentava, era a dor mental. A dor que envolvia minha mente, meu coração, meu ser miserável e culposo. Minha mente afundando em um mar de medo, raiva, culpa e vazio. As ondas furiosas deteriorando minha alma e desgastando meu coração a cada colisão. Eu estou totalmente destruída mentalmente, e agora, fisicamente também.

Lembro de ter gritado e arranhado a madeira da mesa com minhas unhas, enquanto Freya costurava o corte que parecia não ter fim. Lembro de Elijah e seus irmãos ajudarem a me manter parada. Meu corpo ardendo e sucumbindo à dor, e acredito que ele está cheio de hematomas pela força que os irmãos usaram para me manter parada ao máximo.

Lembro do calor das mãos de Aya e sua voz carinhosa em minha mente, me tranquilizando a cada incisão daquela agulha maldita. Lembro da dor ser tão intensa e insuportável, que o domínio da força que me mantinha acordada, se foi. Eu apaguei como uma lâmpada estilhaçada.

Lembro-me vagamente de alguém me carregando nos braços para um dos quartos de um corredor escuro. Ou estava claro? Eu não sei. Tudo parecia um enorme borrão de escuridão e vultos e fantasmas. Lembro das mãos cuidadosas e fortes que me colocaram em uma cama enorme e indescritivelmente macia. Mas não lembro de quando a dor finalmente foi embora.

»»»

Começo a recobrar os sentidos, depois de seja lá quantas horas passei desmaiada. Meus olhos pesam 10 toneladas de chumbo, meu corpo está costurado e colado no tecido incrivelmente aconchegante dessa cama maravilhosa. Sinto algumas mexas do meu cabelo sobre meus ombros imóveis, e a brisa entrar por alguma janela, ou porta, ou teto, não sei. E não quero abrir os olhos.

Não quando a realidade me espera do outro lado, gargalhando e se divertindo com meus erros incontáveis. Eu não gosto dela, e não quero ter que lidar com o mundo real. Não ainda. Mas a lateral direita do meu abdômen ainda está dolorida, claro. Fico aliviada por saber que Freya conseguiu — que eles conseguiram — me salvar sem ter que empurrar sangue de vampiro para dentro de mim.

Sei que parece pouca coisa. Mas quando se passa 6 anos aprendendo a odiar e a matar uma espécie inteira, e de repente precisa de um de seus meios para sair da beira da morte, me parece terrivelmente... errado. Mesmo que eu estivesse pronta para cometer esse erro, caso Freya não conseguisse.

A porta se abre sem aviso, e demora um pouco para eu saber de quem se trata. Pode ser qualquer um, e se não for Aya, então é alguém muito zangado por eu ter mentido e que, provavelmente, veio me matar enquanto durmo.

Quase abro os olhos, o instinto de me defender quase me movimentando para retaliar. Mas escuto uma voz que aquieta meus olhos e meu impulso. Quase choro de felicidade ao ouvi-la.

— Eles ainda estão discutindo lá embaixo sobre o que fazer com Ayla, e creio que se eu não estiver lá, Freya provavelmente não vai fazer a paranóia louca de Klaus se aquietar. — Aya fala baixo, mas não o suficiente, pois escuto claramente.

Tento controlar meus batimentos que aumentaram, ao perceber que a voz se dirigia a alguém. Mas quem? Quem se atreveria a estar no mesmo quarto que eu e não tentar me matar? Minha mente vai direto em Elijah. O único que ainda realmente se preocupa, ou finge, pelo menos. Eu nunca sei o que pensar dele. Minhas novas habilidades não funcionam com ele do mesmo jeito que com Aya. Um laço que só é translúcido de mim à minha irmã e ninguém mais.

~Estrela da Meia Noite ⭐ || Elijah Mikaelson Onde histórias criam vida. Descubra agora