CINCO

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O motorista é um homem mais velho, chuto que ele está na casa dos 60 anos. Usa óculos escuros, terno preto, cabelos um pouco grisalhos, a voz firme e grossa, mas de algum jeito, gentil. Deve ser apenas um humano hipnotizado para fazer as vontades dos Mikaelsons como um escravo.

Eu também costumava — costumo — ser escrava de pessoas com mentes doentias e sádicas por controle.

Na infância: escrava do medo de ser morta por meus próprios pais enquanto dormia; escrava da solidão que eu era obrigada a sentir, porque fui proibida de estudar ou por os pés para fora de casa sem permissão; escrava do julgamento das pessoas que nem me conheciam, mas ficavam satisfeitas em escutar as mentiras dos meus pais sobre eu ser um monstro, um erro e uma vida inútil.

E no resto da minha vida depois do Instituto: escrava do horror de ser obrigada a não aprender nada que não fosse sobre monstros; escrava da culpa por ter que suportar todo o peso de matar alguém sem remorso; escrava da mulher que tentou me destruir, me fazer renunciar minha humanidade enquanto não se importava em esmagar cada canto menos escuro do meu coração.

Fui escrava a minha vida inteira. Não houve um único momento em que eu pude descobrir o que seria ter liberdade. Essa era uma palavra que não existe de onde vim. Mas agora eu não estou mais lá, certo? Não estou lá e não sou mais escrava de ninguém. Não depois da minha irmã.

Tudo o que farei daqui pra frente será para a proteção de Aya, e nada além disso. Mesmo que isso signifique correr perigo e ser um alvo para as pessoas que um dia trabalharam ao meu lado.

Eu não tinha amizades dentro do Instituto, mas tinha respeito por alguns dentro do Arsenal, como a Um. A única pessoa dentre todas as outras que se atraveu a falar diretamente comigo algumas vezes, a única possível "colega" que eu tinha. Foi a única que ficou depois do que a Reitora fez comigo no dia em que tirou o coração daquela garota na minha frente.

A Um ficou e me ajudou a levantar. Mas foi só isso. Até porque ela poderia ser a próxima a ser espancada pelo Arsenal se fizesse algo a mais, e eu sabia disso. Ela correu um risco perigoso ao me levantar do chão naquele dia, e até hoje agradeço o gesto sincero. Nós nunca fomos de conversar, e o máximo de informações que passamos uma para outra durante todo esse tempo, foram os resultados do que a matança e aquele governo significavam para nós.

Um veneno. Significa um veneno para nossa humanidade. Ela também está destruída, assim como eu. A Um me contou que também não está fazendo aquilo por vontade própria, e não duvidei da palavra dela. A Reitora não tinha pena ou misericórdia, muito menos era ingênua. Ela usava familiares, amigos, ou qualquer sinal de fraqueza para manipular aqueles que ela precisava a longo e a curto prazo.

Tenho certeza que não sou só eu e a Um que questionam tudo naquele lugar e mantém em segredo. Talvez eu consiga trazê-los para o meu lado, talvez eu ajude eles a se libertarem. Quero ajudar e relembra-los que eles podem lutar suas próprias batalhas e vencê-las, sem uma voz no comando de tudo. Eu farei isso. Assim que Aya estiver em um lugar seguro, vou libertar e dar voz àqueles que são como eu: escravos.

Aya ficou na janela esquerda do carro, eu fiquei no meio e Elijah na janela direita. Nós três no banco de trás. Klaus ficou no banco do lado do motorista, Albert. O carro começou a movimentar-se.

— Essa vai ser uma noite bem longa. São 32 horas daqui para Nova Orleans, e já avisando que não vamos parar em nenhum hotel barato pelo caminho. — disse Klaus, olhando para a estrada a frente. Não pude ver sua expressão, mas o tom de voz demonstrava repulsa. — Só de pensar em parar em qualquer hotel desse fim de mundo, sinto vontade de furar meus olhos.

~Estrela da Meia Noite ⭐ || Elijah Mikaelson Onde histórias criam vida. Descubra agora