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Definitivamente um inseto.

Gabi se encolhe sob o olhar crítico da recepcionista na recepção da Academia de Arte de Chicago que está examinando ela da cabeça aos pés. Gabi imagina que a mulher acabou de pisar em um inseto no chão e está levantando o sapato para examinar os destroços amassados. Sim, essa é a expressão exata.

– Você não pode simplesmente entrar sem um crachá – diz a recepcionista maliciosamente. Na deixa, a porta se abre atrás de Gabi, e um grupo de mulheres entra. Sem crachá.

Sem dizer nada, mantendo contato visual com a recepcionista, Gabi estende o braço e aponta na direção das mulheres que passam.

A recepcionista apenas funga. – Como eu disse. Você precisa de um crachá.

Gabi sabe do porque essa recepcionista estar a tratando assim. Se soubesse, ela teria trocado de roupa antes de seguir o endereço e as instruções que Sheilla havia mandado para ela noite passada.

[14h30 na sexta-feira]: Um endereço da Academia de Arte de Chicago. E uma última instrução, traga dois cafés com leite de amêndoa.

Estar em uma escola de balé em uma tarde de sexta-feira não é a ideia de diversão de Gabi. Mas a ideia de beber café com Sheilla, definitivamente é. E ainda por cima tem aquele negócio de ficar impotente para resistir a qualquer coisa que Sheilla pede.

Se ela soubesse que a recepcionista daria uma olhada em suas calças de moletom, jaqueta de couro surrada e touca amarela, e negaria sua entrada, ela teria trocado de roupa.

Mesmo assim, de qualquer maneira, ela não teria roupa pra usar. Os alunos que entram e saem das portas estão todos de malha e polainas. Os adultos estão de terno.

Gabi não possui nenhuma dessas peças de roupa.

– Ouça – ela bufa, exasperada, mas teimosa. – Sheilla Castro me pediu para vir encontrá-la aqui. Estou apenas cumprindo ordens. Você vai me deixar entrar ou não.

Gabi costumava pensar que era apenas uma figura de linguagem, mas a recepcionista literalmente torce o nariz. – Eu tentei o número que temos para a Sra. Castro no sistema, e ela não respondeu para confirmar que conhece você. – A tendência clara sobre a observação da recepcionista é: Alguém que parece e age como você certamente deve estar mentindo sobre conhecer Sheilla Castro. Gabi ouve o tom de julgamento em sua voz e pensa em insetos e jardins. – Se você não tiver um crachá ou eu não conseguir falar com seu anfitrião ao vivo, não posso deixar você entrar. Por favor, não me faça chamar a segurança.

– Está bem. – Gabi revira os olhos. Quando um grupo grande de pessoas - pais de olhos arregalados e futuros alunos em uma tour - entra pela porta atrás dela, ela pega seus cafés do balcão e se esgueira para trás em direção ao conjunto de portas de vidro que levam mais adiante para a construção.

Assim que a recepcionista vira as costas para cumprimentar a nova turma, alguns alunos passam pelas portas do outro lado. Rápido como uma piscadela, Gabi desliza pelas portas antes que elas se fechem.

Ela se encontra em um lindo átrio. Correndo para longe das portas o mais rápido possível, no caso de a recepcionista (e sua força de segurança ameaçada) vir atrás dela, ela sobe as escadas de dois em dois. Este edifício é tão diferente do centro de treinamento do Red Stars - um teto alto pintado com afrescos, do qual um enorme lustre pende, arcos altos acima. A escada em espiral que ela está subindo é acarpetada em um tecido verde-floresta exuberante. Dançarinos de balé sobem e descem os degraus ao redor dela, sapatilhas de ponta nas mãos e bolsas penduradas sobre os ombros.

Ela acaba no segundo andar. Sala de treino 4, dizia o texto de Sheilla, e segue os sinais dourados de bronze na parede. Quando ela vira à direita e entra em um corredor repleto de salas de treinos, as coisas ficam um pouco mais básicas. Há cubículos para cima e para baixo no corredor cheios de mochilas, garrafas de água estão espalhadas pelo chão, o que ela está acostumada. Músicas diferentes, explodindo no volume máximo, ecoam em cada porta que ela passa. A primeira e a segunda salas contêm grupos inteiros de dezenas de dançarinos, a terceira sala tem apenas cinco ou seis caras se espreguiçando no bar, a quarta sala...

Like Grey Skies | SHEIBIOnde histórias criam vida. Descubra agora