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Roberta fica depois do jantar para ajudar Sheilla e Gabriela a pensar no que escrever para o artigo. Elas se acomodam no sofá, Sheilla mexe o lábio entre os dentes, ansiosamente esfregando as mãos do alto das coxas até os joelhos.

— Eu não sei... — ela se esquiva, a hesitação começando a tomar conta de seus olhos novamente. — Eu nem sei por onde começar.

— Talvez você devesse começar com sua pior história sobre ele — Roberta sugere.

— Eu não sei, você não acha que isso pode me fazer parecer melodramática?

— Não, acho que não, não se a sua linguagem for direta e clara.

— Gabriela, o que você acha? — Sheilla adiciona suavemente. Um sorriso apareceu na boca de Gabriela. Ela ainda está pensando no fato de que Sheilla realmente valoriza sua opinião - em torno do fato de que sua opinião realmente tem valor.

— Eu... — Gabriela hesita. Algo que Roberta acabou de dizer a lembrou de um ditado que ela já ouviu antes. — Eu acho que você sofreu trabalhando para um chefe do mal, como milhões de outras pessoas por aí. E eu acho que você é brilhante, atenciosa e articulada, e se você escrever de coração sobre as coisas que você passou, vai dar certo. Naturalmente. Como aquela citação — ela inclina a cabeça para o lado e tenta se lembrar, esperando que Sheilla esteja entendendo direito. — "Escreva com firmeza e clareza sobre o que dói." Certo?

O rosto de Sheilla brilha. — Sim. Hemingway.

Gabriela encolhe os ombros. — Eu não sei quem disse isso. Mas acho que isso é tudo que você precisa fazer. Escreva com firmeza e clareza sobre o que dói. O resto virá.

Sheilla acena com a cabeça, seu rosto assumindo uma nova determinação, e elas começam a trabalhar.

Depois de um tempo, enquanto Sheilla e Roberta começam a entrar em um ritmo constante, jogando frases para frente e para trás, Gabriela sai da sala e volta com canecas de chá para elas. Então ela começa a arrumar e lavar a louça, recusando-se a deixá-las ajudar na limpeza. As amigas dela cozinhavam, raciocina Gabriela, então ela deveria pelo menos fazer alguma coisa por aqui, em seu próprio apartamento.

Gabriela assobia baixinho enquanto limpa a cozinha primeiro, sem pressa. Em seguida, ela enxágua rapidamente os pratos e as panelas e os joga na lava-louças. Quando ela desliga a água, a cozinha fica repentinamente silenciosa.

Ela pode ouvir Roberta e Sheilla conversando na sala de estar.

Mas elas não estão mais falando sobre o artigo.

— Como ela era? — A voz de Sheilla está perguntando.

— Ela era... — Roberta faz uma pausa. — Ela era uma criança vibrante, engraçada e louca.

De quem elas estão falando?

— Ela estava sempre rindo para si mesma, como às vezes, eu me virava e apenas a via olhando para o nada, rindo de alguma coisa. Ela estava sempre animando outras pessoas, ajudando outras pessoas. — Roberta solta uma risada baixa. — Ela costumava correr pela quadra e tentar assustar todas as pessoas, incluindo a equipe de treinamento, pelo menos uma vez por treino.

Sou eu.

Gabriela congela, secando a metade das mãos molhadas no pano de prato.

Essa sou eu.

— Isso parece incrível, — Sheilla diz, um brilho melancólico em sua voz. — Vocês devem ter se divertido muito quando eram novatas.

— Foram anos incríveis. — Roberta faz uma pausa. Gabriela dá um passo incerto na direção da sala, mas para novamente, incapaz de se impedir de ouvir, como se estivesse em transe. — Estávamos indo muito bem, os Red Stars estavam indo muito bem. Acho que nos sentimos meio invencíveis. E então em maio...

Like Grey Skies | SHEIBIOnde histórias criam vida. Descubra agora