The girl

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Nicolas suspirou de maneira longa e audível, se sentindo exausto pelas horas de caminhada e incomodado com o silêncio perturbador desde que deixaram o corpo de Christian para trás.

Ele era uma boa pessoa, vingativo e orgulhoso, mas com certeza não merecia morrer daquela maneira.

Mas infelizmente qualquer um ali poderia ser o próximo. Então seguiram em frente, apenas com o colarinho do garoto e o anseio por conseguir honrá-lo.

- Eu tô cansado. - Lucas disse baixo e trocou novamente a mochila de ombro.

- Precisamos achar água. - Tasha, que se mantinha quieta, disse com a voz já rouca. - Minha garganta está seca.

- Silêncio. - O tenente nos alertou e virou o corpo de lado, nos lançando um "shiiii" com a mão direita erguida.

Nicolas automaticamente escutou os ruídos de todos os soldados presentes, ficando à postos e arrumando o rifle sobre o ombro, cobrindo a floresta atrás deles enquanto ainda seguiam em frente.

- Isso não é nada bom.

A garota se pronunciou mais uma vez e ao virar para verificar, Nicolas sentiu seu corpo dar um salto de puro reflexo pelos ossos jogados pelo chão no espaço aberto e desmatado em meio as árvores.

- Será que são de pessoas? - Lucas quebrou o silêncio.

- Não é nosso dever descobrir, agora vamos. - Mckurt chamou a atenção e seguiu guiando o grupo entre as carcaças.

- Isso não tá certo, não mesmo. Não deveríamos estar aqui, nós vamos morrer. - Thomas praticamente sussurrava as palavras pausadamente, dando a sensação de silêncio exagerado ao amigo, que se deu conta de conseguir ouvir somente isso apesar do número considerável de pessoas e da imensidão de terra a sua volta.

Mas antes que pudessem falar algo, ouviram um único "clique" seguido de outra explosão. Nicolas colocou as mãos imediatamente nos ouvidos, se jogando ao chão como foi ensinado.

- TODOS VIVOS? - John gritou em meio aos zunidos.

Baker se levantou com alguma dificuldade e levou as mãos as orelhas, massageando seu lóbulo que latejava.

- Há algo aqui. - Ele arregalou os olhos ao ouvir o subtenente falar e trocar olhares com McKurt e ambos apontarem para direções opostas, ordenando que cobrissem todo o local.

Nicolas firmou suas mãos no rifle e semicerrou os olhos, mirando em cada canto que sua visão alcançava enquanto tentava não se distrair com o próprio som da respiração pesada.

Porém, antes que pudesse concluir qualquer coisa, notou um chiado próximo demais e em seguida mais um estrondo, fazendo seu corpo todo latejar e dar a sensação de flutuar como se tudo estivesse literalmente em câmera lenta.

Após dar um grito de dor no momento em que sentiu suas costas batendo fortemente em algo duro, forçou sua visão já turva e passou as mãos pelos ouvidos ao sentir algo escorrendo ali, o impedindo de ouvir muito mais do que gritos e tiros aparentemente sem direção.

Ele colocou a mão sobre a barriga e tossiu várias vezes tentando recobrar as forças, mas sequer conseguiu junta-las para nada mais além de manter seus olhos abertos, pois sua atenção foi desviada para uma silhueta que surgiu saltando entre a fumaça, dando a ele certeza sobre a perca de consciência estar próxima.

Era uma ... garota?

Nicolas tentou focar sua visão e lutar contra a dor latente e os olhos pesados, observando a figura, fruto da sua alucinação, colocar a mão sobre o nariz e correr até ele para pegar o rifle e em seguida investir tiros em direção a floresta a sua direita por alguns segundos que pareceram uma eternidade.

E quando tudo se tornou silencioso de novo, a figura virou na direção do garoto e encarou seus olhos, dando a visão perfeita de sua face delicada.

- Oi? - A asiática deitou levemente o rosto para a direita e esperou uma resposta por algum tempo antes de se aproximar mais. E quando o fez, recuou ao perceber um espasmo de susto que o corpo do garoto emitiu sem que pudesse controlar.

Nicolas desviou o olhar para o céu e tentou respirar fundo, sentindo a visão cada vez mais turva e a dor em seu corpo se intensificar, porém ao retornar a atenção para a garota que poderia o matar a qualquer momento, sentiu seus olhos pesarem e os barulhos externos cessarem aos poucos.

Mas antes que tudo se apagasse de vez, sentiu leves chutes no lado direito do corpo e a voz feminina se fazendo presente novamente

- iiiii morreu...

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