- Sim, eu tenho medo até hoje de grilos, mas depois desse dia eu aprendi a lidar melhor. No caso o melhor é sempre dormir em outro cômodo quando algum aparece
Ele esboçou uma tentativa de sorriso ao se lembrar da cena que não causava mais tanta tristeza, mas foi um ponto de partida para sua revolta.
- Minha comida preferida é macarrão à bolonhesa e eu sou viciado em energético. Hmm deixa eu pensar o que mais ... ah, quando eu era criança queria ser lutador de box e acho que é por isso que eu sempre gostei dos treinamentos de exército. Até semana passada eu queria me tornar um tenente mas hoje ... eu não sei mais.
Nicolas olhou para a garota, que se mantinha quieta ouvindo com atenção.
Falar sobre si nunca foi fácil para ele, mas no momento tudo parecia sair sem muito planejamento. Talvez pela urgência de distrai-la
- Quando eu era criança, tinha um cachorro chamado Gabe, sim, é um péssimo nome. Mas ele foi meu melhor amigo durante toda a infância, você precisa ver como ele era fofo ...
Ryunjin ouvia tudo com os olhos lacrimejando e um pequeno sorriso no rosto. Ela não tinha mais forças para segurar o peso do corpo e nesse momento se encontrava totalmente apoiada no maior, que ainda a segurava com carinho.
Ela queria saber mais, conhecê-lo fora dali, descobrir coisas que nem ele sabia sobre si. Queria entrar nessa batalha com ele para superarem todos os traumas. Queria ser uma companheira, uma amiga, ou até algo mais.
- Nicolas?
- Hm?
Ryunjin apoiou a mão livre no antebraço do garoto, acariciando ali.
- Você precisa... ser forte.
- Eu estou tentando.
- Tasha... John e Lucas vão te ajudar.
Ele franziu as sobrancelhas.
- Porque tá me falando isso?
- Você sabe... eu... – Sua voz mais uma vez falhou, dessa vez pelo nó na garganta. – Não vou sair daqui.
- Não! – O soldado imediatamente virou seu rosto para si, encostando sua testa na dela. – Não desiste, por favor!
- Eu não tô conseguindo mais. – Ela praticamente sussurrou, sentindo seu peito se apertar ao ouvir um soluço vindo do garoto. – Eu já fiz o que queria. Eu vou morrer com ... a minha família. Não parece ... tão ruim
Com muito esforço, ela conseguiu olhá-lo mais uma vez. Um Nicolas completamente vulnerável bem ali na sua frente. Ela havia desistido de fingir ser forte e ele não estava em condições de assumir esse papel. O soldado sequer conseguia controlar as lagrimas. E isso doía ainda mais em Ryunjin.
- Obrigada por...
- Não, não me agradece por nada, por favor.
A coreana respeitou e apenas torceu para que ele soubesse como era importante para ela e que não faria nada diferente se pudesse voltar atrás.
Havia tanta coisa que queria dizer a ele, mas palavras nunca foram seu ponto forte.
Ele foi a única faísca de alegria que ela teve em anos. E agora seria a última.
Parecia justo se ela não se preocupasse tanto com ele. Mas Nicolas iria superar, não é?- Você vai ficar bem ...
- Para, por favor, para.
Nessa altura ele já não fazia questão alguma de conter o choro angustiado que segurou durante o dia todo.
Ryunjin também queria chorar. Mas suas forças estavam restritas até mesmo para isso. A dor era tanta que até mesmo respirar exigia demais. Sua ferida queimava, sua visão já estava turva e seus olhos já se recusavam a ficarem abertos.
- Ryunjin, por favor, fala comigo.
- Eu tô com medo...
Ela assumiu, arrancando um grito abafado do garoto, que escondia o rosto em seu ombro.
Se mostrar vulnerável nunca foi típico dela. Mas ela queria ser com Nicolas muitas coisas que nunca havia conseguido. E tinha consciência que não conseguiria.
Queria por um último momento que ele soubesse como se sentia e que, como ele, também sentia medo.
O soldado percebeu exatamente o momento em que Ryunjin perdeu a consciência quando sua mão, ainda sobre a dela, sentiu a pressão sobre a ferida suavizar. Então ele o fez por ela, se recusando a deixar que perdesse muito sangue.
O corpo todo do garoto tremia, sua cabeça latejava e seu peito parecia prestes a explodir a qualquer momento.
- Você precisa ficar viva, por favor, eu não posso perder mais alguém hoje. Eu não posso perder você. – Ele sussurrou freneticamente, ainda com o rosto escondido no ombro da garota. – Eu fui tão injusto com você, tão egoísta.
O choro abafado se tornou ainda mais intenso.
- Agora eu sei como se sentiu, como foi forte em seguir em frente perdendo tanta gente que ama. Mas eu não vou conseguir, Ryunjin. Eu não sou você.
Ele a abraçou mais forte, sentindo a respiração fraca, mas ainda presente.
- Eu precisei passar por tudo isso pra entender como dar valor as coisas. Você me ensinou isso. Eu tinha zero perspectivas de vida antes disso tudo acontecer. Então por favor não desiste.
Parte dele esperava que ao ouvir essas coisas ela magicamente acordasse, tocada por suas palavras. Mas sua parte realista tinha consciência de como a situação da garota era grave.
- Eu... amo você.
Nicolas disse baixo, estranhando a sensação de dizer essas palavras em voz alta, e desejando acima de tudo que ela pudesse ter ouvido enquanto ainda estava consciente.
Ele se odiou ainda mais por isso. Por não conseguir tirá-la dali. Por não ter percebido que algo estava errado mesmo quando os sinais pareciam tão claros.
Por ter falhado com seu melhor amigo e com a pessoa que ama no momento em que eles mais precisavam.
Nicolas então olhou para o céu ainda em meio ao choro e gritou o mais alto que suas cordas vocais pudessem aguentar, na tentativa de se livrar de toda a dor.
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Missing
حركة (أكشن)→ Nicolas Baker, um jovem soldado do exército, nunca teve nada a perder. Mas ao se ver preso em uma missão quase suicida onde suas convicções de confiança são fortemente abaladas, ele se depara com o dilema de seguir seus instintos e descobrir mais...