Eye of the hurricane

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Antes de vasculharem a ilha em busca de qualquer coisa que pudesse ser usada a favor do grupo, eles se dividiram em dois grupos e procuraram nas cinzas dos helicópteros pelos colares militares dos companheiros, para serem entregues às famílias como uma lembrança.

E somente com os três únicos colares encontrados é que seguiram o caminho, na direção contrária aos bombardeios e, como já era esperado, ninguém disse uma palavra sequer durante todo o percurso.

O grupo parou durante alguns minutos para comer as rações que tinham nas mochilas e aproveitam para descansar um pouco enquanto o tenente e o subtenente analisavam a região para escolher a direção que deveriam seguir de acordo com a bússola.

- Ei, do que é a sua hoje? - Thomas quebrou o silêncio, se sentando ao lado do amigo enquanto terminava o pequeno pacote verde em sua mão.

- Hmmm... deixa eu pensar, tô comendo mentalizando uma pizza de tomate seco, mas na verdade tem gosto de mato. - Nicolas respondeu entrando na brincadeira que sempre faziam para desviar o foco da comida ruim de exército.

- Bom pra você, eu tentei mentalizar um frango frito, mas tá mais com gosto de bosta mesmo. - O loiro riu e, quando Nicolas estava prestes a fazer o mesmo, escutou a risada abafada de Lucas.

- Cara, eu tava sentindo gosto de nada, mas agora meu psicológico tá me traindo. - ele falou, arrancando risadas de todo o grupo.

Lucas era o maior deles em questão física e tinha os braços musculosos em contraste com a pele negra. Seu cabelo era preto curto, seus olhos brilhantes como jabuticabas e ele sempre carregava um sorriso amistoso no rosto.

Ao encostar o corpo em uma árvore, desejando com todas as forças um pouco de água para limpar o gosto, agora ruim, da boca, Nicolas escutou uma movimentação suspeita na floresta e levantou de uma vez, sentindo seu coração acelerar.

- Que foi? - Thomas levantou ajeitando o rifle e rapidamente todos os soldados ficaram em posição de ataque, olhando freneticamente para os lados à procura de qualquer sinal suspeito.

- Acho que não foi nada. - Ele suspirou aliviado, relaxando o corpo e dando uma olhada para John, que continuava sentado ao lado de Tasha, ambos olhando em sua direção.

- O que vocês estão fazendo aqui? - Nicolas largou a arma e andou até eles, fazendo a pergunta que o intrigava desde o início.

- Eu sou fotógrafa e inicialmente fui chamada para um trabalho de pesquisa. - A mulher, aparentemente alguns anos mais velha que ele, de cabelos loiros ondulados até o ombro, respondeu de forma simples e amigável.

- E eu sou biólogo. Fui chamado pelo mesmo motivo e não para ficar preso em uma ilha, se é o que está me perguntando. - O mais velho disse firme, não tão educado como a garota - Vou ajudar o tenente.

Foi a última coisa que ele falou antes de levantar e sair andando aparentemente analisando o lugar.

- Foi tarde. - Nicolas deixou escapar e deu de ombros quando a mulher o encarou

...

O grupo seguiu em frente durante algumas horas e logo começaram a ver o sol mudar de posição lentamente, anunciando a penumbra de fim de tarde.

- Vamos montar acampamento aqui. - O tenente disse por fim, parecendo cansado, mas não ao ponto de demonstrar.

Enquanto juntavam suas coisas e procuravam algumas folhas secas para acender uma fogueira, Nicolas se permitiu pensar um pouco no quão bizarro aquela situação parecia.

Eles poderiam nunca voltar para casa, mas de alguma maneira ele não se importava. Não conseguia sentir nada mais que disposição para o próximo passo ou ordem, nada a mais que isso.
Fazia algum sentido?

...

- ...E assim será nosso revezamento de turnos durante a noite. - O tenente concluiu, tomando seu posto para ser o primeiro.

Nicolas nunca teve contato com o tenente, apenas o básico de receber ordens e cumpri-las, porém, algo naquela situação o fazia admirar o sujeito, que apesar de claramente esconder coisas do grupo, não deixava sua postura vacilar em um momento sequer.

- A garota não vai participar? - Valquez se atreveu a dizer, lançando um olhar para Tasha, que já se ajeitava para dormir parecendo pouco se importar com a pergunta indiscreta.

- Soldado, vá dormir, não me faça responder sua pergunta. - O subtenente retirou seu casaco e usou como travesseiro, se preparando para dormir também.

E assim eles também seguiram o exemplo, deitando todos próximos a fogueira e permitindo que seus corpos relaxassem por algumas horinhas.

O turno de Nicolas seria um dos últimos, às 4:30 e ele precisava dormir para servir com o seu melhor no dia seguinte, além de sentir a exaustão tomar conta de cada parte do corpo.

Mas então porque ele não conseguia desligar a mente da sensação de que tudo estava calmo demais? Como se estivessem prestes a passar pelo olho do furacão?

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