Luck

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Enquanto Nicolas permaneceu imóvel, sentindo seu coração palpitar pela surpresa, seus companheiros agiram rápido e derrubaram a garota antes que ela pudesse completar ou alguma pergunta fosse feita.

- Parece que tivemos sorte. - McKurt trocou olhares com Smith e ambos se aproximaram da garota, dando ordens para não deixá-la escapar.

E ela estava tentando, se batendo nos braços de Thomas, que a segurava sem nenhuma delicadeza, enquanto a mesma não falou mais nada para se defender.

- Espera, não façam isso. - Tasha disse, fraca, observando a cena de longe.

- Tragam ela pra cá, temos muito o que conversar.

O soldado permaneceu exatamente da mesma maneira ao ouvir a ordem do tenente, observando seus próprios companheiros a arrastando pelo acampamento enquanto a garota voltou a buscar o seu olhar, sem disfarçar o quanto o dela estava assustado.

- Baker, pode ficar com ela para mim? - John chamou sua atenção, apontando para a companheira.

- Eu... vou com eles. - Ele balançou a cabeça meio confuso e virou completamente para os dois

- Eles não deixarão que participe da conversa.

- Ela disse algo sobre sairmos daqui, deve...

- Baker, ela é uma mentirosa.

John o lançou um sorriso mínimo e pousou a mão em seu ombro, até que Tasha se pronunciou:

- Mas ainda é uma garota jovem e provavelmente tão perdida quanto nós.

Nicolas largou a arma no chão e bufou pela confusão de pensamentos. Afinal a loira tinha razão, porém a asiática já mostrou não ser confiável.

- Só não deixe que façam nada com ela, por favor.

John concordou com a cabeça a pedido da amiga e caminhou em direção ao restante do grupo.

- Eu não acho que ela seja má.

Tasha completou, assim que sentou ao lado do garoto, que imediatamente notou sua face mais corada.

- Eu não sei de mais nada.

•••

O silêncio pairou pelo ambiente por longos minutos, mesmo após os soldados voltarem e Thomas ter avisado que ela se recusava a falar qualquer coisa sem ser mais avisos sobre estarem correndo perigo.

Mas logo o pior veio: um grito assustado da garota seguido das vozes dos outros homens, provavelmente discutindo sobre algo.

- O que está acontecendo?

Tasha, que estava quase cochilando, encarou Nicolas, já em pé e pronto para atacar novamente, estimulado pelo susto.

- Ela não quer falar, eles têm os métodos deles. - Valquez disse baixo enquanto mexia em um pequeno graveto seco.

- Eles devem saber o que fazer

Baker disse por fim, percebendo na expressão dos presentes que tampouco concordavam com aquilo.

- Mas vou lá tentar ajudar

Completou, já se afastando. Diferente do que pensou, nenhum deles disse uma palavra sequer.

•••

Nicolas não se achava uma pessoa boa.

Tampouco seus amigos.

Ao realizar o treinamento eles precisavam abdicar de certos sentimentos se quisessem ser aceitos.

E ele nunca teve problemas com isso.
Porém ao ouvir aqueles gritos sôfregos e reviver a lembrança do olhar assustado da garota, não conseguiu ignorar como deveria ter feito.

Afinal precisavam saber mais sobre ela e ele achava que essa não era a maneira.

•••

- Com licença, senhores?

Nicolas engoliu seco ao vislumbrar a expressão furiosa do tenente e desviou o olhar para a garota, que estava com pequenos cortes nos braços e marcas de lágrimas marcando suas bochechas.

Mesmo amarrada a uma árvore, ele pôde notar as mesmas vestimentas que ela usava desde o dia em que se conheceram: Uma calça jeans amarrotada e um grande moletom que, agora, estava rasgado nas mangas.

- O que está fazendo aqui Baker? - McKurt o tirou do transe e intercalou o olhar entre a garota e ele.

- Gostaria de saber se ela falou algo.

Foi o que conseguiu dizer. Afinal, o que estava fazendo ali?

- Não falou. Agora volte para o seu posto.

O soldado desviou o olhar brevemente para todos os presentes e chegou a notar uma expressão compreensiva de John, até focar sua atenção totalmente na garota dos cabelos negros que mantinha o seu olhar intacto nele.

- Eu posso ajudar de alguma maneira?

Nem mesmo ele sabia o que estava fazendo.

- Não... - O líder começou a dizer, mas foi interrompido por um pigarreio do único que demonstrava não sentir medo do mais velho - O que foi, John?

- Acho que deveríamos tentar. Com supervisão, é claro - O estudioso deu de ombros de maneira tranquila. - Eu me candidato. Descansem e se ela não abrir a boca, é com vocês.

Nicolas engoliu seco mais uma vez ao entender o que aquela frase significava e abaixou a cabeça quando eles passaram por ele resmungando ameaças caso ela escape.

- É melhor você arrancar algo dela ou nós dois estamos fodidos. - John avisou antes de se distanciar alguns passos e deixar ele com um par de olhos grandes o encarando atentamente.

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