Omar Castiel
Ajeitando a gravata perante o grande espelho existente no meu quarto, procuro com os olhos o meu telemóvel que descansava sobre o criado mudo e suspiro aliviado vendo que não recebi chamadas, ainda. Voltando o meu olhar para o espelho caio num misto de sentimentos, o que se tem revelado corrente de uns meses para cá, tentando mais uma vez decifrar os enigmas escondidos por trás dos meus castanhos olhos. A minha pele negra em tons claros conjugada com a média estatura e altura consideravelmente elevada, fazem com que a minha presença exale masculinidade por ter o físico musculado e um olhar que a coletividade diz ser penetrante.Dando os últimos retoques tendo de antemão a vasilha de perfume em minha posse pronto a pulverizá-lo pelo meu corpo, sou interrompido pela minha esposa que, ensonada, faz uma observação.
- Espero que não coloques a bebe ao colo depois do perfume –diz-me a Luena – bem sabes que ela não tem estado bem e a gripe não passou ainda.
- Tens razão – fungo – levarei na mala e colocarei no carro, quero dar antes um beijo a minha filha.
- Eu não mereço um? – Questiona-me. – Acho que ainda sou digna de receber, a não ser claro, que estejas demasiado ocupado para isso.
Suspiro em rendição e inclino-me dando um rápido beijo em sua testa.
- Não comeces por favor Luena, tenho um longo dia hoje, repleto de palestras e apresentações numa das universidades e não estou com ânimo para dramas agora, até logo. - Digo saindo do quarto fechando a porta. Passo pelo quarto de Íris e automaticamente o meu sorriso abre-se ao ver a minha pequena enquanto brinca sozinha dizendo coisas que só ela percebe, é incrível, parece que ainda ontem era um bebé gordinho e rosado e hoje tem 2 anos e meio, meu maior orgulho. Ao notar minha presença ela levanta-se do berço e estica os bracinhos querendo o meu colo.
- Bom dia princesa linda – digo com a voz engraçada que todo mundo faz ao falar com bebes, é automático! – Como está aminha princesa?
- Papa... – diz a minha princesa enrolando-se nas restantespalavras exibindo a boneca que tem em mãos.
- É linda filha, agora o papa precisa ir e mais tarde prometo que continuamos. Dei um beijo em sua testa colocando-a outra vez no berço, tiro uma banana e um bolo que estavam por cima da mesa posta por dona Flávia, cumprimentando dona Rita, babá de Íris quecaminhava rumo ao quarto da minha menina. Estando no carro, meu telemóvel chama e ao ver o nome de Ivan revirei os olhos sabendo que a chatice começaria.
- Ivan. – Digo ríspido como quase sempre.
- Nossa, quanta hostilidade numa só palavra, problemas no paraíso? – Responde-me irónico. – É simplesmente para dizer que deves passar pela empresa primeiro, tens coisas para assinar antes das palestras.
- E porquê que as assinaturas não ficam para depois? Quero despachar essa porcaria o mais rápido que puder, não estou com muita paciência para aturar adolescentes recém universitários.
- Isso porque esqueceste que no ano passado foste um – diz-me – e mais tarde tens o aniversário da Micaela, alguma possibilidade de sermos cunhados? A miúda está bem constituída para os 18 anos que completou.
- Aproximas-te da minha irmã e descobrirás que a terra já é o inferno. – Respondo – chego em 15 minutos. Desligo antes que diga outra baboseira e abano a cabeça lembrando que é o seu passatempo favorito, o homem pode ter a cabeça oca e uma inquestionável imaturidade para alguns assuntos, porém, é incrivelmente um dos melhores advogados do país e da minha empresa, além de ocupar o cargo de meu melhor amigo. Sim, eu e esse infeliz conhecemo-nos desde o secundário e fomos juntos para mesma universidade, com a diferença de ter seguido Informática e posteriormente Contabilidade e Auditoria, ele lógico, preferiu Direito. Tal como eu, Ivan tem a pele negra em tons claros e a estatura média. Seu físico torna-se extremamente chamativo pelos olhos castanhos num tom caramelizado esbanjando graciosidade por onde passe. Em termos comportamentais somos completamente opostos.O Ivan parece possuir a mentalidade de uma criança de 10anos de idade sendo extrovertido e adaptando-se a qualquer tipo de situação enquanto eu, visivelmente mostro ser reservado. Não gosto de manter conversas desnecessárias principalmente com pessoas fora do meu interesse. Ah! E tem Nicolas, quase me esquecia, no nosso meio o Nicolas é o neutro e o típico homem "capa de revista", alto de pele mestiça e fidalgo nato, completa o meu pequeno círculo de amizades.Ao adentrar na Castiel Corporation, ou Castiel como é maioritariamente conhecida, dirijo-me a minha sala.Omar Castiel CEO Não me canso de contemplar o meu nome gravado em letras douradas na grande porta de madeira esculpida, pintada em tons negros, lembra-me o esforço e determinação que tive para chegar onde cheguei. Neto de avós portugueses, a minha família desde sempre fez parte da Burguesia sendo dessa forma, a maior investidora a nível europeu. Claro que o nome ajudou-me no processo de 9construção do meu império, mas orgulho-me dizendo que sozinho cheguei no patamar que atualmente encontro-me e,ocupo a segunda posição no ranking dos 10 homens com grandes patrimónios a escala nacional, perdendo apenas para Nicolas.
- O Gru Maldisposto deve estar a chegar – ouço Ivan tagarelando – particularmente, acho que ele tem tido problemas de ereção e tal, o homem já é arrogante de natureza, mas ultimamente tem estado de parabéns.
- Onde estão os papéis? – Digo chamando atenção de Nicolas e de Ivan que olha para mim com um sorriso irónico, o sorrisoque só ele sabe dar. – Despachemos isso.~
- Precisas beber um chá rapaz – diz o Nicolas pondo os pés por cima da minha mesa enquanto senta-se numa das cadeiras paralelas a minha – a palestra pode ser bem divertida, recheada de universitárias com as hormonas a flor da pele.
- É só nisso que sabes pensar não é, bandida barata, arranja um rumo para tua vida. – Diz Ivan girando o corpo na cadeira outrora vaga.
- Como se a tua fosse diferente. – Rebate o Nicolas.
- Okay crianças está tudo assinado, e vou ignorar a vossa conversa para não achar que deixaram as vossas obrigações de lado para acompanhar-me a uma mera universidade pelas miúdas.-Digo.
- Claro que não! – Dizem em uníssono num tom de indignação e Ivan, como não podia deixar de ser, levou uma das mãos ao peito.
– Sou dono de uma cadeia de clínicas e híper mercados, sem mencionar as empresas e gabinetes de auditoria e consultoria que sem mim não sobrevivem, posso querer um programa de estágio se a universidade for convincente. –Continua Nicolas com um olhar pervertido.
- Eu vou pela diversão, e gosto de irritar-te Omar. Ah! E acima de tudo sou lindo para caraças e teu advogado pessoal, quem senão eu para acompanhar-te? – Diz Ivan com o seu sorrisinho.
- Cada um no seu carro. – Declaro.
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A Mulher Que Eu Não Quis
RomantizmDurante o dia sou o grande Omar Castiel, rico e bem sucedido. Mas, ao anoitecer sou mais um homem de 32 anos com o casamento lixado. Até um dia apaixonar-me pela primeira vez, por uma mulher 10 anos mais nova marcada por um lancinante passado. Com a...