não consigo mais sonhar.
quando durmo, o mundo se apaga, se perde no vasto nada e eu deixo de existir, suspensa no limbo.
às vezes queria uma fantasia à qual me agarrar,
mas não há. nunca há. esgotei todos os meus sonhos enquanto estava acordada.correndo, correndo,
tentando agarrá-los,
mas eles correm e correm
e eu não consigo segurá-los.minhas mãos estão escorregadias e sonhos deslizam pelas vielas enquanto tropeço na calçada, caindo no bueiro e eles logo ali, deslizando no esgoto.
continuo correndo,
e eles sendo carregados
para longe, e mais longe,
e mais longe.me jogo na água; estômago embrulhado, nariz franzido e bile na garganta, mas continuo nadando atrás deles. eles se prendem nas grades, e por um momento penso que estou quase lá, até que meus membros não funcionam mais e eu começo afundar.
não,
não,
não.podridão invade os pulmões e os poros e a paixão que me impediu de desistir, mas continuo tentando.
tentando não afogar no esgoto,
alcançar os sonhos já não tento mais.até que os vejo, logo abaixo: afundados, como eu vou estar se parar de lutar. talvez seja isso. talvez eu tente demais. talvez eu devesse deixar a água me mostrar o caminho.
paro de me mexer.
afundo,
e afundo,
e acordo.não desejo mais sonhar.
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Viver Está Me Matando | Antologia
Poetry"Pois a vida mata mais do que a morte, e ser morto pela vida é a maior benção e maldição que jaz nas mãos de todo ser." Dicionário de flagelos de uma alma atormentada. Poemas, textos, contos em que deita-se a mais dura e medonha verdade. Compilado d...