28 | "Cárcere, Captor"

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Haviam oito camas na salae apenas uma era ocupada,pelo peso morto do meu corpoque juraram que vivia

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Haviam oito camas na sala
e apenas uma era ocupada,
pelo peso morto do meu corpo
que juraram que vivia.
"A linha verde não está reta!", repetiam os doutores.
Desde quando uma linha é o equivalente a vida?
Não contestei, não sou de conflito
a não ser quando eu decido,
mas hoje não senti vontade de empunhar espada.
Hoje não, hoje era um bom dia:
as camas estavam vazias,
elas finalmente haviam fugido!
Minhas meninas, amigas, irmãs,
todas livres para ver o mundo em todas as cores além do branco.
Que orgulho que eu sentia,
de cada uma delas, que depois de anos encarcerada decidiu não ser mais prisioneira.
Pisaram para fora do portão de metal e correram para o verde, para o vulto de vida
que nunca pensaram que encontrariam.
Eu aplaudia, olhando da janela
até que uma pareceu perceber:
restava uma do lado de dentro,
e uma era mais do que ela podia perder.
Ela abanava os braços, sorrindo e chamando,
perdida na sua tentativa de alarde
não chamou minha atenção, somente a do alarme
e das portas de ferro ameaçando descer.
Corri para a saída, engatinhando, criança
com medo de a mãe nunca mais poder ver
deslizei pelo piso da sala sem vida
até chegar perto o suficiente pra sentir:
a porta fechando,
meu braço esticando,
a porta fechando
minha mão se soltando.
Eu não tinha mais dedos,
eu não tinha mais mão,
mas não havia dor nem qualquer sensação:
não havia sangue, nem gritos, nem dor,
só a sombra de uma expressão de pavor
expressão que nem saía de meu rosto:
descobri ali que rosto não tinha.
Eu era maior, via tudo de cima,
dos lados, de dentro, de todo lugar
eu era branca, vazia e sem vida:
eu era a sala que tentava escapar.
Eu não tinha mais dedos, mas não sentia dor.
Olhei para baixo e vi que nunca os tive.
Olhei para os lados e descobri
que meu papel nunca fora de cárcere:
meu papel sempre foi de captor.

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