26 | "M.O."

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Era meia noitee as sirenes choravamgritando o que o casal não tinha coragem de gritar

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Era meia noite
e as sirenes choravam
gritando o que o casal não tinha coragem de gritar.
A menina na banheira era levada pelos médicos
que meneavam suas cabeças:
"nunca nem pisou no altar".
Mal sabiam eles que ela jamais ia casar,
o casal lhe ensinou bem
que não existia essa de "amar",
casamento era um contrato
e família era um retrato
cujo único propósito era poder se gabar.

O casal se abraçava
sob o azul e o vermelho
enquanto a polícia explicava:
o M.O.* foi um espelho
— espelho que eles compraram
quando ela completou treze
pra aprender a se vestir
como uma boa garota deve.

O marido acariciava o pescoço da mulher
e sua mente o lembrava: "para o que der e vier",
enquanto ela derramava lágrimas por sua imagem
que acabara de nascer: mãe de menina selvagem.
Menina selvagem, levada por rebeldia,
nunca pela comprovada falta de serotonina,
nem pelas constantes batalhas:
isolamento e negligência
— culpa do temperamento e excesso de inteligência.

Não é isso que acontece com quem sabe demais?
Ninguém consegue prever do que um gênio é capaz
então a culpa há de ser dela, dessa menina doente,
que assistiu tanto terror,
que sabotou a própria mente!
Ou talvez, melhor ainda:
foi trabalho do Diabo,
que lhe mostrou o mal caminho
e causou todo esse estrago.

Não conseguem entender que agora já acabou?
Não adianta resolver problema que já passou.
A menina já morreu, o caixão envelheceu,
e até hoje ainda acreditam
que o problema não sou eu.

*M.O.: Modus Operandi (latim) ou modo de operação, no mundo jurídico é uma expressão utilizada para caracterizar a forma peculiar que um criminoso age — em muitos casos a maneira como um assassino em série mata suas vítimas.

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