Capitulo 10 - Penultimo

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Aqueles três minutos pareceram uma eternidade.
Sai caminhava nervosamente pelo quarto e apenas um pensamento o torturava.
Ele não poderia deixar que ela partisse no dia seguinte. Ainda não.
Precisava convencê-la a ficar a qualquer custo. Poderia usar palavras ou o próprio corpo. Ele tentaria qualquer coisa. Quanto mais tempo ficava próximo a ela, mais tinha a
certeza de que pertenciam um ao outro, se não fosse para sempre, que fosse ao menos enquanto durasse.
Ino bateu na porta e ele a abriu imediatamente.
O belo rosto dela refletia tristeza e determinação ao mesmo tempo.

— Muito bem, já estou aqui, mas saiba que não vou mudar os meus planos para amanhã — ela afirmou. — E acho melhor então não falarmos mais sobre isto, pois temos agora bem pouco tempo para ficarmos juntos...

Sai convidou-a para entrar no quarto e pôde perceber um ar de incerteza
pairando naquele rosto expressivo.

— Sente-se aqui — ele pediu. — Quero lhe dizer uma coisa.
— Prefiro ficar em pé.
— Bem — ele disse calmamente — quero contar a você a verdadeira razão pela qual abandonei a minha carreira de saltos ornamentais no meio do Show Internacional Equestre de Londres, aos 19 anos.

Ela não pôde esconder o espanto. Os olhos se arregalaram e ela despencou
sentada na cama.
Sai olhava fixamente para ela. Ele jamais desejou ter que contar isso, mas
somente essa história o ajudaria a fazê-la entender. Ele prosseguiu e as palavras saíram devagar.

— Já falei para você que fui convencido por Yugito, a filha do treinador, a integrar a equipe de exibição de saltos. Acreditei que ela me amasse e que um dia pudéssemos nos casar. Na noite anterior à exibição, eu não consegui falar com meus pais na Espanha. Aliás,
há várias semanas tentava ligar para minha mãe e ela não atendia as minhas chamadas. Fiquei muito preocupado e fui falar com o treinador que, na época, imaginava que me considerasse como um filho.
— E o que aconteceu? — indagou Ino.

Sai contraiu os lábios.

— O treinador pensou que eu estivesse dormindo no meu quarto do hotel e eu pude ouvi-lo gargalhando, conversando com um, outro treinador sobre mim. Ele contava como havia convencido meus pais a manterem a doença da minha mãe em segredo. E se referia
aos meus pais como aqueles roceiros estúpidos e pé-rapados. Ele na verdade havia convencido meus pais que seriam egoístas se me falassem sobre a doença da minha mãe. Isto significaria o meu afastamento das apresentações e competições que iam a pleno
vapor na época.

A expressão de Ino era de horror.

— Não é possível!

Ele respirou fundo.

— Eu parti sem avisar e sem dar maiores explicações sobre o que eu havia escutado naquela noite. Depois fui ao quarto de Yugito para contar o que havia acontecido e a encontrei na cama com o coordenador da equipe de exibição de saltos. — Sai engoliu
em seco. — Eu nunca havia dormido com ela antes, pois tinha o sonho ingênuo de me casar com aquela mulher perfeita... Mas ela, na verdade, nunca deu a mínima importância
ao que eu sentia. O dia seguinte foi o dia da desforra. Eu simplesmente parei o meu cavalo na frente do obstáculo, me retirei da cena e voltei para a Espanha. Com as minhas economias, comprei Santo Castillo para minha mãe, que ainda sobreviveu à doença um
ano a mais. Meu pai, em seguida, não resistiu à perda e não conseguiu mais viver sem ela. No fundo, eu nunca me perdoei... Por ter dado mais valor às mentiras de uma mulher em detrimento ao que realmente importava: a minha família, o meu verdadeiro lar.

Ino sentia as lágrimas brotando nos olhos e segurou carinhosamente a mão
dele.

— Oh, Sai, sinto muito, de verdade...

Amor EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora