Sete

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    Ela encarava a grama do quintal pela janela, enquanto pensava em como seria se ela e Mase tivessem assassinado seus pais juntos.

   A prisão dele teria sido evitada. Muita coisa não teria acontecido. Talvez nem mesmo Billie.

   Tocando o girassol do amarrador em seu pulso esquerdo inconscientemente, ela sorriu, pensando nos momentos bons de sua infância.

   Durante aqueles dias que vivia na mansão, ela via flashes de memórias em sua cabeça. Sua infância sendo lentamente desbloqueada. Mas ela estava estranhando, pois até agora ela não havia se lembrado de nada ruim.

   — Por que eu sinto que esse lugar é tão familiar? — ela perguntou com a testa encostada na janela.

   Mase estava sentado na mesa de seu escritório, mexendo em contratos falsificados e relatórios de apostas. Olhando por cima do ombro, ela viu seu irmão riscar algo em uma das folhas e colocar um pedaço dobrado de papel dentro de um envelope.

   — Essa era a nossa casa de veraneio — respondeu Mase. Com um sorriso discreto nos lábios — Pensei que se recordasse daqui.

   Atlantis pressionou os lábios e olhou para o quintal novamente. Suspirando, ela pôs sua mão direita no vidro, enquanto fazia movimentos circulares.

   — Sendo sincera, eu não me recordo de quase nada da nossa infância. Sei que passamos por muita coisa, mas é como se depois de tudo, minha mente tivesse colocado todas as partes dela em uma caixinha e trancado as sete chaves. Mas desde que pisei aqui, alguns flashes de memória estão sendo desbloqueados.

   Mase se levantou da cadeira chique do escritório e andou até ela, passando o indicador pelas estantes enormes de livros.

   — Espero que não tenha se lembrado de nada ruim — disse Mase, se colocando ao seu lado.

   Atlantis negou com a cabeça.

   — Por algum motivo, não lembrei de nada de ruim.

   Mase sorriu de lado, colocando as duas mãos nos bolsos de sua calça preta.

   — Nossos pais nos enviavam para cá quando estavam inertes demais no trabalho. Senhorita Vallahard tomava conta de nós aqui. Se lembra dela? — disse Mase.

   Atlantis franziu o cenho, procurando pelo rosto dessa mulher em sua mente. Seu irmão arqueou as sobrancelhas, esperando por uma resposta.

   — Sim, eu me lembro — mentiu Atlantis.

   Mase estreitou os olhos e então...

   — Está mentindo — ele respondeu com a boca levemente aberta.

   — Não estou — retrucou ela.

   — Do que você se lembra?

   Atlantis franziu o cenho, se esforçando para colocar suas memórias em ordem.

   — Lembro de quando... — ela começou mas não conseguiu continuar.

   — Atlantis — chamou Mase.

   — Costumávamos a tomar banho juntos para que nem Thomas nem Grace pegassem a gente sozinhos. Quando eu tinha pesadelos, você beijava meus olhos e depois eu voltava a dormir sem pesadelos. Também lembro de quando a gente sentia dor sem realmente sentir, e então nos machucavámos.

  Mase a olhou nos olhos com seriedade.

   — Você se lembra do que aconteceu na sua festa de cinco anos?

Imprudente - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora