Três

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    Francis acabou empacotando as coisas de Billie.

   Sandra havia preparado um calmante para Agatha, e ela estava agora sentada no sofá, encarando a parede cinza.

   — Tudo pronto — disse Francis, voltando do corredor com uma última caixa em seus braços.

   — Pegou tudo? — questionou Sandra. Ele assentiu.

   A senhora foi até a cozinha e entregou um pacote azul para Agatha.

   — O que é isso? — ela conseguiu perguntar. Sandra sorriu com afeto.

   — Para a viagem. Era o favorito de sua filha.

   Agatha pegou o pacote, inexpressiva, e saiu pela porta da frente. Seus olhos estavam vazios. Era como se só agora ela percebesse que sua filha havia morrido.

   Antes que pensasse em abrir a porta do carro, Francis a interceptou com seu próprio corpo.

   — Você está cansada, eu dirijo — anunciou Francis. Agatha o encarou com irritação, mas então deu a volta e entrou na porta do passageiro.

   Durante duas horas, quarenta e três minutos e vinte e dois segundos, Agatha encarou a janela, observando a paisagem na escuridão sem realmente observa-la.

   — Meu voo é daqui dezesseis horas — anunciou Francis, estacionando o carro ao lado da calçada do apartamento de Agatha.

   — Ótimo — ela murmurou abrindo a porta do carro. Agatha pegou o pacote azul em cima do porta luvas e andou até a portaria.

   — O que você vai fazer com essas caixas? — perguntou Francis. Seus pés se prenderam ao chão, e ela prendeu a respiração.

   — Deixe-as aí.

   — Posso levar alguma coisa dela comigo? — indagou Francis com hesitação. Agatha o olhou por cima dos ombros e fechou os olhos, sentindo seu sangue ferver.

   Em passos pesados, ela ficou em sua frente e estapeou seu rosto com toda a força que podia.

   — Você ao menos sabe que dia é hoje? — ela cuspiu com ódio. Francis encarou o asfalto enquanto seus dedos alisavam sua bochecha vermelha, ocasionado pelo tapa.

   — Darla...

   — Sete anos, Francis. Ela esteve aqui durante sete malditos anos, e você sequer veio visita-la. Não diga que seu trabalho não o permitiu, porque eu usei a porra dos meus momentos para vê-la enquanto trabalhava, mesmo que de longe, caralho! — esbravejou Agatha, disparando sua frustação.

   — Eu sei, eu sei...

   — Então não pense em levar qualquer coisa que for dela, pois você nunca foi um pai de verdade, seu merda — respondeu apontando o indicador em seu rosto.

   Os olhos verdes de Francis se escureceram, e ele deu um passo a frente, arrumando sua postura. Ela sabia que era agora que ele mostraria suas garras.

   — E por acaso você foi a mãe dela? Você a abandonou com uma velha! Você é tão merda quanto eu, Darla — rugiu Francis.

  Agatha agarrou o membro de Francis com força, fincando suas enormes unhas em seu pau. Com um olhar sombrio, ela rosnou.

   — Talvez eu realmente acabe com a porra da sua vida, afinal você não me serve para nada. Nunca toquei em você porque eu tinha consideração pela minha filha. Mas agora... — Agatha sentiu o saco escrotal em sua mão e o girou. Francis gritou, se contorcendo de dor, enquanto lágrimas brotavam em seus olhos — Mas agora que se foda.

Imprudente - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora