Onze

46 9 3
                                    

   Foram tantas horas de viagem que ela acabou se perdendo no tempo.

   Com a cabeça encostada no vidro, e seus olhos quase se fechando com a exaustão, um puxão no banco a fez abrir os olhos rapidamente.

   — Shit! — exclamou Will, pela primeira vez em horas.

   Virando-se lentamente para ele, Atlantis abriu a boca enquanto observava os dedos de Will se movendo rapidamente.

   — O que você está fazendo com o meu celular? — perguntou ela com o cenho franzido.

   Will a olhou de esguelha. A raiva e preocupação fervilhando em seus olhos azuis e castanhos. O Blinder fez uma careta antes de lançar seu celular para longe.

   Atlantis fechou os olhos e se jogou no banco.

   Inacreditável.

   — Que merda você tem na cabeça? — grunhiu ela, sem realmente esperar uma resposta, visto que ele era um homem de poucas palavras.

   — Você estava sendo rastreada.

   E para sua surpresa, ele respondeu. Bufando, ela pensou em como aquilo poderia ter acontecido. Enquanto repassava seus dias em sua cabeça, ela reparou em algo.

  Atlantis e Will olharam um para o outro ao mesmo tempo.

   — Fuck — os dois xingaram, concluindo o mesmo.

   Will passou as mãos pelo seu cabelo ruivo, enquanto segurava o volante com força.

   — Por que você mentiu? — ela perguntou se referindo ao dia em que fez a tatuagem.

  Will pressionou os lábios e suspirou, olhando pela janela.

   — Não sei.

   Atlantis encarou os próprios pés enquanto seus dedos tocavam o girassol quebrado em seu pulso direito. Com uma risada baixa, Will completou:

   — Me lembre de nunca mais mentir por você.

   Por algum motivo, aquilo a incomodou. Decidida a fechar os olhos, ela se entregou a exaustão.

⚔🌼⚔

   — Me dê as malditas libras! — exclamou um dos Blinders.

   — Você não seguiu a regra do jogo — rosnou o outro.

   — Will! — o Blinder o chamou como se ele fosse ajudar.

   De repente, os dois ficaram em silêncio. Com um sorriso de canto, ele deu de ombros.

   — Desde quando seguimos as regras? — respondeu Will.

   O Peaky Blinder se sentiu traído, enquanto o outro sorria de modo provocante enquanto balançava cinco notas de dez libras como se fossem um leque.

   — Vamos, minha vez — disse o que segurava o leque de dinheiro.

   — Vocês são tão idiotas — suspirou negando a cabeça.

   — O que disse little queen? — perguntou Will.

   Atlantis semicerrou os olhos e cruzou os braços, lambendo seus lábios.

   — Eu gaguejei?

   — Uuhhhh — Damian uivou em tom zombeteiro.

   — Vocês são péssimos nisso — complementou Atlantis.

   Will arqueou as sobrancelhas e encarou os alvos.

  — Por que não faz melhor então?

  Atlantis sorriu de lado, dando alguns passos para frente, apenas para pegar a espingarda posicionada encima da mesa.

  Ela nunca tinha manuseado uma daquele tamanho, mas ela tinha observado os Blinders tentando acertar os alvos.

  Posicionou o cano da arma em seu ombro direito, usou sua mão esquerda para segurar o restante da espingarda e posicionou seus dedos no gatilho.

   Os três homens estavam em pé, ambos com olhares brincalhões. Nenhum parecia acreditar em seu talento, nem mesmo Will.

   Com um olhar de esguia para Will, ela movimentou sua cabeça para que seu cabelo saísse da frente. Atlantis mirou no alvo mais longe, sabendo que não teria que fazer mais esforço do que aquilo. A arma era pesada demais para que se amostrasse sem saber manusea-la corretamente.

   Três. Dois. Um.

   Seu ombro foi empurrado levemente para trás com o baque do tiro, mas a bala acertou em cheio. Seus olhos se fecharam em uma respiração aliviada. Seus braços abaixaram a arma, cansados do peso dela.

   Um sorriso arrebatador brilhou em seus lábios, e quando ela olhou para os três, eles não pareciam impressionados. O que fez seu sorriso morrer imediatamente.

  — Precisa fazer mais do que isso se quiser se tornar uma Peaky Blinder — disse Damian.

   — Eu já sou uma Peaky Blinder — rosnou.

   O outro Blinder riu com humor e se afastou deles.

   — Não, não é — disse Will.

   — Sim, eu sou. Eu nasci uma.
  
   — Você não nasce uma Peaky Blinder. Você se torna uma — argumentou.

  Will mordeu os lábios e negou com a cabeça.

   — Prove.

  Os olhos de Atlantis iluminaram com o desafio. Rugindo baixinho, ela pegou a espingarda novamente e a levantou, com dificuldade.

   — Você não consegue sequer segurar uma espingarda — zombou Damian.

   — Certeza que ela nunca pegou em uma antes — disse o outro Blinder, se aproximando novamente com uma garrafa de alguma bebida que ela não conhecia.

  Atlantis olhou para Will, que apenas a encarava.

  Ela se posicionou novamente. Três. Dois...

   — Olha só pra ela, é só uma garotinha mimada — zombou um Blinder.

   Atlantis respirou novamente. Três. Dois. Um...

   — Demora para caralho ein, princesa — zombou Damian.

  Atlantis movimentou tão rapidamente que nenhum dos três foi capaz de raciocinar o que tinha acontecido. A bala não tinha acertado nenhum dos alvos, mas certamente fez um belo de um machucado de raspão na lateral do braço de Damian.

   O Blinder gritou de dor, alarmando Will e o outro idiota que estava com eles. Ambos foram socorrer Damian. Atlantis jogou a espingarda no chão e apontou para os Blinders.

   — Não querem me respeitar, tudo bem, mas o próximo que me chamar por esse apelido novamente, eu juro por todos os deuses e demônios que existem encima e embaixo desse maldito mundo, que eu mato da pior forma imaginável. Querem me provocar? Provoquem. Mas não reclamem quando eu revidar, porque eu juro que não vai ser somente com um tiro de espingarda da próxima vez — disse em tamanho áudio que os três ficaram em um silêncio profundo.

  Will levantou o rosto e semicerrou os olhos para ela. Ele não parecia estar com raiva, mas também não demonstrava o que estava sentindo. Damian e seu amigo pelo outro lado, estavam visivelmente sentindo ódio por ela.

  Mas Atlantis não ligava. Não seria o primeiro muito menos o último inimigo que ela faria naquele novo período de sua vida.

Imprudente - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora