Prólogo

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Ellen

O grito queria escapar da minha garganta assim que a dor lancinante me atingiu.

Mas eu tinha que ser forte. Não por mim, mas pelo bebê que estava querendo nascer a todo custo.

Consegui caminhar até a porta do apartamento que estava trancada. Eu não conseguiria dirigir até um hospital, e muito provavelmente não daria tempo de uma ambulância chegar para me socorrer. Minha única alternativa naquele momento era alcançar a porta da minha vizinha de frente.

Fabiana além de vizinha, tornara-se minha melhor amiga. E eu sabia que assim que conseguisse bater na sua porta, ela estaria pronta para me ajudar.

Quando consegui destrancar a porta, outra onde de contração me atingiu, fazendo com que eu parasse, levando a mão á parede para me apoiar e esperar a dor passar. Ela durou alguns minutos, e quando passou, retornei a caminhada, parei em frente à porta da minha amiga e bati. Ela não demorou muito para abrir. E assim que o fez, me arrependi de ter somente ela a quem procurar.

Fabiana estava linda em um vestido preto curto, que moldava seu corpo magro e perfeito que me dava inveja, com curvas bem- colocadas, na medida exata. A maquiagem estava discreta, valorizando cada detalhe em seu rosto, principalmente a boca carnuda, dando um destaque maior à sua pele negra.

Ela estava pronta para sair, e não era justo eu estar ali impedindo-a de fazer isso.

— O que aconteceu? Você está bem?

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, outra contração fez com que eu me contorcesse e me apoiasse na minha amiga, que prontamente me segurou pelos braços.

— Contrações, o bebê vai nascer.

Foi tudo o que consegui dizer e vi quando seus olhos se arregalaram para mim.

— Como assim, nascer? Cadê seu marido?

Essa era uma ótima pergunta. Otávio havia saído de manhã, deixando-me sozinha o dia todo. Uma mulher grávida de pouco mais de trinta e nove semanas.

— Eu não sei, ele saiu hoje de manhã e ainda não voltou.

Apertei seu braço com um pouco mais de força quando senti a dor mais forte. Assim que aliviou um pouco, pedi desculpas e ela me pediu para entrar.

— Não. Eu ia te pedir para me levar ao hospital. Eu não conseguiria dirigir assim.

Apontei para o meu corpo curvado contra minha barriga enorme.

— Claro.

Minha amiga logo se prontificou, fechando a própria porta e partindo para minha casa, pegando as malas que já estavam prontas e a chave do carro.

Descemos o elevador, e o intervalo entre minhas contrações estavam diminuindo cada vez mais.

Para minha sorte, o hospital no qual eu vinha fazendo meu acompanhamento, não ficava tão longe, e assim que cheguei, uma equipe me pegou no estacionamento a pedido de Fabiana com cadeira de rodas e tudo.

— Fabi, muito obrigada por tudo, miga. Eu não quero te atrapalhar mais do que isso. Não precisa esperar — falei segurando sua mão enquanto era empurrada em direção ao hospital.

— Imagina mesmo que eu vou te deixar aqui sozinha. Não te deixaria nem se o imprestável do seu marido estivesse aqui.

Ouvi-la falando daquele jeito me doía. Não pelo meu marido, mas pelo bebê que nem nasceu ainda, mas já tinha um péssimo pai.

Otávio era uma pessoa totalmente diferente quando nos conhecemos. Carinhoso, amoroso e atencioso. Mas no momento em que nos casamos e começamos a morar juntos, tudo mudou. Eu era uma mulher vinda de uma cidade pequena, sem família por perto, então ele se aproveitava disso. E tudo piorou quando descobri sobre a minha gravidez. Não que meu filho fosse um peso para mim, longe disso. Aquela criança a qual eu ainda nem havia visto o rostinho, era a única coisa que me mantinha firme todos os dias, que me animava nas manhãs que acordava sozinha, por Otávio não ter voltado para casa depois de uma noite na balada.

Eu não o conhecia, mas já o amava com toda a minha vida.

Apertei sua mão com mais força em um silêncio reconfortante, apesar do momento tenso e continuamos seguindo para o hospital.

Entrei para a sala sozinha, já que Fabi ficaria me esperando no quarto.

Ficar ali sozinha, com pessoas olhando para dentro de si, foi uma sensação vazia, solitária, mas ao mesmo tempo emocionante. O parto até que não demorou muito, já que foi normal e eu estava dilatando rápido, e em algumas horas já estava com Fabi e meu filho no quarto.

Segurar aquele pacotinho de gente nos meus braços foi a sensação mais mágica que eu poderia sentir em toda a minha vida.

— Ele é lindo, miga — Fabi falou baixinho quando se aproximou do meu lado e começou a passar as pontas dos dedos pelo rosto de Pedro.

— Ele é sim.

Naquele momento, olhando para meu filho, o meu bem mais precioso, prometi a mim mesma que ele nunca sentiria a falta de um pai. Nem mesmo passaria necessidade.

Meu filho não precisava de um homem babaca e irresponsável para decepcioná-lo. Ficaríamos bem só eu e ele.

Assim eu acreditei, mas por pouco tempo.

O Cowboy, a Viúva e o BebêOnde histórias criam vida. Descubra agora