Capítulo 26

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Diogo

O dia de trabalho tinha sido cansativo, exausto e muito mais pesado do que imaginei. Acabei demorando um pouco mais para voltar para casa do que imaginava. Mas eu estava voltando . E com as energias renovadas depois de conseguir tirar o bezerro com vida, e salvar a mãe também. Aquela era a profissão que eu amava. Ver a vida dos animais, a evolução, como eram criaturas incríveis.

Quando cheguei na porteira da fazenda e desci para abrí-la pude ouvir o choro de Pedro.

Achei estranho. Não que Pedro fosse como aquelas crianças de filmes, que não chorava, não tinha seus momentos de bebê real. Mas eu sentia que havia algo diferente.

Deixei a camionete do lado de fora mesmo, e comecei a caminhar para dentro da casa, observando tudo ao meu redor. Quando entrei na cozinha, Pedro ainda estava dentro do bebê conforto sobre a mesa. Achei estranho que estivesse no mesmo lugar de quando eu saí. As coisas que Ellen cortava, quando me despedi dela, ainda estavam sobre a pia.

— O que foi, garotão? — Peguei Pedro no colo, tentando acalmá-lo. Mas isso estava impossível. Se ele estava ali, desde quando eu saíra, entendi-o perfeitamente.

Chamei Ellen pela casa, conferindo se não estava em alguns dos cômodos, mas nada. Fui para o quintal. Como morávamos em uma zona rural, talvez ela tivesse saído para pegar algo, e aconteceu alguma coisa. Quando dei a volta na casa e não a encontrei, comecei a analisar ao meu redor, como se procurasse por alguma pista.

E lá estava, as pegadas na areia que não havia reparado antes. Havia dois pares de pegada de pé que levava para uma de carro.

Naquele momento, eu já sabia que Ellen não estava em casa. A raiva, medo, preocupação, tudo começou a ferver dentro de mim. Eu sabia quem a tinha levado, e tinha que agir rapidamente.

De onde estava, com Pedro no colo, entrei na camionete e comecei a dirigir para a casa dos meus pais. Eu tinha que deixá-lo seguro, para pode agir e achar Ellen enquanto ainda tinha tempo. Dirigi com mais cuidado apenas por estar com Pedro nos meus braços. Quando cheguei nas escadas da casa, minha mãe veio em nossa direção.

— O que Pedro tem? Ouvi o choro dele desde o momento em que entrou no terreno.

Passei a criança para ela, que começou a niná-lo em uma tentativa falha de acalmá-lo.

— Mãe, ele levou a Ellen. Acho que Pedro está com fome. Medo. Não sei. Eu cheguei em casa e ela não estava lá — as palavras saíam atravessadas da minha boca, como se fizessem sentido apenas na minha cabeça.

— Como assim? Leonardo voltou? Ele a levou?

Toda minha família já sabia do ocorrido com Ellen, tanto que eles me ajudavam a manter a vista grossa sobre aquelas terras, sem nunca invadir a privacidade dela.

Tirei o chapéu da cabeça, passando a mão por ela, ajeitando o cabelo já suado, e voltei o chapéu. Eu não sabia muito bem como agir, só sabia que tinha que ser rápido.

— Sim. E eu não sei de mais nada, só preciso ir atrás dela. Você sabe como aquele homem é perigoso.

Olhei para ela sério. Sabia que meu olhar poderia dizer muito mais do que eu estava fazendo naquele momento.

Leonardo não era apenas influente na cidade. Ele era perigoso em nível criminal. Havia várias denúncias sobre ele, de acusações de estupro, e isso não era nem o pior. Mas nunca conseguiram provas suficientes para alguém poder fazer algo concreto sobre ele. Não havia dito nada a Ellen para que não ficasse assustada. Mas ela poderia estar em perigo. Eu já dava graças a Deus por aquele louco ter deixado Pedro para trás.

— O que aconteceu? — José surgiu no alto da escada, provavelmente vindo pelo choro da criança.

Quando se colocou ao lado de nossa mãe que percebeu minha cara de pânico, e se colocou em alerta, como se estivesse pronto para enfrentar uma batalha comigo.

— Ele a pegou, irmão, e preciso ir atrás deles.

Eu não precisava dizer mais nada para meu irmão começar a descer as escadas em direção à camionete enquanto falava comigo.

— Pegue o atalho por dentro do pasto. Vá com Tempestade. Vai chegar mais rápido que pela estrada normal. Eu vou com a camionete e chamo a polícia.

Assenti com a cabeça, mas minha mãe segurou meu braço, impedindo-me.

— O que você vai fazer? — Ela também tinha medo no olhar.

— O que for preciso para salvar a mulher da minha vida.

Dei um beijo na cabeça de Pedro, que finalmente parecia começar a se acalmar e corri para o estábulo da fazenda, onde Tempestade estava ficando. Selei-a rapidamente, e montei em seu lombo.

Deitei-me sobre o seu corpo, ficando mais próximo do seu ouvido e fiz um carinho.

— Preciso de você hoje mais do que tudo.

Assim que me levantei, começamos a andar. Ainda era dia, o sol vinha caindo aos poucos no céu. Mas iluminava o caminho. E eu sabia, ao menos de início para onde deveria ir.

Tempestade era uma égua obediente, e treinada, pulava desafios sem muita dificuldade. Então foi mais fácil percorrer o caminho com ela, pulando por cercas e troncos de árvore. Havia economizado alguns bons minutos quando cheguei na casa de Leonardo Rodrigues. Uma mansão, três vezes maior que a minha. Passei pelo portão de entrada e parei na escadaria que dava para a casa.

Desci correndo do cavalo e comecei a bater na porta sem parar. Quando D. Cida abriu a porta, estava com uma das mãos no coração.

— Menino, quer me matar do coração?

Ela era uma senhora de idade, com um avental em torno do corpo e touca na cabeça.

— Cida, Leonardo está em casa? Preciso falar com ele, urgente.

— Não, menino. Ele me disse que iria para a casa no lago. Aquela que era do seu Mauro, lembra? – Assenti com a cabeça. — Ele comprou recentemente e disse que iria para lá hoje. Mas ele me pediu para não avisar a ninguém, porque queria privacidade. — Ela falou mais baixo, como se me contasse um segredo. — Mas te conheço desde que era um pirralho, não poderia mentir para você.

Sem pensar muito, puxei a mulher e lhe dei um beijo na bochecha.

— Muito obrigada.

Voltei correndo para Tempestade, montando-a em um pulo, e comecei a correr pela estrada.

Sentir a brisa bater no meu rosto naquele momento, não estava sendo libertador. Meu sangue corria nas minhas veias na mesma velocidade que eu percorria aquela estrada com Tempestade.

Mas o mais importante, é que eu estava indo salvar Ellen. Assim eu esperava.

O Cowboy, a Viúva e o BebêOnde histórias criam vida. Descubra agora