26

617 62 3
                                    

NOAH

Hanna me olha feio quando abro a porta do carro para ela descer, é um costume.

Ela veio em um carro separado, mas ainda assim preciso ver que ela está minimamente bem. Os olhos delas estão inchados como se tivesse chorado todo o caminho de volta.

O irmão dela morreu hoje e eu estou me sentindo fodidamente culpado. Eu não estava lá, não apertei o gatilho, mas de certa forma sou parte disso.

Era o meu trabalho, eu sei, e sei que Jim estava cometendo crimes, mas ainda assim não foi essa a maneira que imaginei que terminaria.

Ela diz algo para o motorista do carro sobre deixar a mala dela em algum lugar e depois o libera para ir. Só então desce do carro saindo pela porta que estou segurando.

— Eles vão te fazer algumas perguntas, só por protocolo, mas seu nome não está na investigação porque não tem nenhum indício de envolvimento seu. — Aponto para a porta de entrada do prédio da polícia. — É um depoimento breve. Depois devem te levar até o instituto médico para onde está o corpo de Jim.

Percebo como ela treme quando digo a palavra corpo. Eu quero a abraçar e cuidar dela, mas respeito a distância que ela quer de mim.

— Por que ainda está aqui? Disse que depois que chegassemos a Londres ia sair da minha vida.

A frieza dela machuca. Queria saber se a raiva que ela está de mim é por mentir ou porque me culpa pela morte do irmão, talvez as duas coisas.

Já sabia que quando ela soubesse eu me sentiria mal, só não sabia que ia estar me sentindo a pior pessoa que já pisou na terra e que magoou uma pessoa maravilhosa.

— Mais alguns minutos. Vou só te levar até o local certo, depois não precisa mais me ver.

Esse sempre foi o plano mesmo, Hanna e eu nunca mais nos veríamos de qualquer forma.

— Ok. Então vamos logo. — Ela está sendo forte ou se fingindo de forte, mas continuo preocupado.

Vou na frente e ela me segue passando por corredores até estarmos nos escritórios da unidade de investigação de Crimes Organizados. Uma das subdivisões mais recentes da polícia de Londres que até dois anos atrás estava dentro da extinta Diretoria de Polícia Especializada.

— O Comissário Hughes ainda não está aqui?

Pergunto a um dos policiais. Todos parecem agitados, e não é para menos. Eles conseguiram prender o chefe de um grande esquema de tráfico de drogas escondido sob a fachada de uma empresa comum.

Obvio que tem muito mais gente envolvida, e agora é o momento de darem prosseguimento as investigações. Por outro lado, uma morte aconteceu e, além de atrair muita atenção, cria uma pressão por explicações mais claras.

— Ele está acompanhando o primeiro depoimento do Brown após a prisão. Mas ele disse que estava vindo com a senhora, e para pegarmos o depoimento.

Olho para Hanna parada ao nosso lado. — Como eu disse ninguém acha que está envolvida, é depoimento só para o cumprir um protocolo. Mas pode escolher fazer isso apenas na presença de um advogado.

Hanna balança a cabeça devagar negando, a expressão dela é de cansaço e ainda aquele olhar confuso desde que ela me ouviu ao telefone.

— Não precisa, vamos fazer isso logo e depois quero ir até Jim.

O policial aponta o caminho para a sala e nós o seguimos, mas quando chegamos a porta ele coloca a mão sobre o meu ombro.

— Só ela, ok Dixon?

Contra todos os medos (Metrópoles #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora