— Ei, o que está acontecendo aqui? — Uma funcionária se aproxima a uma velocidade impressionante. Eu continuo estagnada, assistindo a tudo de uma distância segura.
— Foi ele, tia. — O menino no chão chora. — Chutou minha perna. Eu acho até que quebrou.
Ah, dá um tempo, seu molenga, um chute mixuruca desses?, penso, revoltada.
— Você vai agora para a diretoria! — ela grita com Valentim. — Seu moleque! Seu pai vai ter que vir aqui pela terceira vez só essa semana? É isso que você quer? Dar desgosto a ele?
Ele escuta o sermão de cabeça baixa, enquanto outras professoras ajudam o menino no chão que ainda está chorando por causa da perna.
— Olá. — Aceno para elas e me aproximo. Senti empatia pelo misterioso Valentim e decido me intrometer. — Tudo bem, ele vem comigo.
— Quem é você? — A professora nervosa me enfrenta com uma pergunta.
— Flora, nova psicóloga da escola. — Abaixo o olhar para Valentim, que me fita, interessado. — Oi. Você é o Valentim, não é?
Ele assente para mim.
— O pai dele vai ter que vir aqui resolver isso, ouviu? — A mulher ainda berra nervosa. — Esse moleque precisa de um couro bem dado.
— Tudo bem, eu me encarrego daqui. Obrigada. — Sua mula. — Vamos, Valentim.
Ele me segue sem questionar e sem querer dar sua versão dos fatos.
Deixo que entre na minha sala, fecho a porta e indico a poltrona infantil para ele se sentar. Puxo uma cadeira e me sento em frente.
Valentim me fita corajosamente. Há um azul expressivo e curioso nos olhos.
— Meu nome é Flora. Sou a nova psicóloga da escola e estou analisando o comportamento dos alunos. — Eu me apresento com pompa, acreditando de fato na minha mentira.
— Por isso estava me seguindo? — ele retruca.
Oi?
— Você... me viu?
— Sim, uai. Cê tava olhando para mim sem parar.
Pega no pulo. Que menino esperto. Estou o achando muito calculista. Ele sabia que eu estava por perto e nem reagiu?
— Bom, então é isso. Eu te segui para acompanhar seu comportamento. Por que agrediu aquele menino?
— Eu me defendi.
— E por que foi até eles?
Valentim não responde, apenas abaixa a cabeça. Sei que preciso ir aos poucos com ele. Talvez eu descubra mais em outros encontros. Na verdade, eu nem posso fazer qualquer sessão com ele sem uma autorização dos pais.
Cruzo as pernas e o encaro por minutos. Ele percebe o silêncio e levanta o rosto para mim.
— Posso ir?
— Não. — Pego a caderneta na mesa. — Aquele menino no maternal era seu irmão?
— Sim.
— Como ele se chama e quantos anos tem?
— Micael. Tem quatro anos.
Anoto essa informação. Lembro que o pequeno Micael preferia brinquedos direcionados a meninas.
— Você tem vergonha dele? — Que merda de pergunta!
Balança a cabeça negativamente.
![](https://img.wattpad.com/cover/250403292-288-k803591.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
[AMOSTRA] MENTIRAS, BEIJOS E PÃO DE QUEIJO
RomanceQuem é a mulher misteriosa que acaba de chegar a Estiva Alegre, uma pequena cidade mineira? Tudo que se sabe é que se chama Flora, dirige um pequeno automóvel vermelho e vai ocupar o cargo de psicóloga infantil de uma escola particular. No entanto...