12 - FLORA (Parte 02)

3.1K 837 164
                                    

— E então, comeu o pão de queijo? — Gaspar pergunta. Sua proximidade na poltrona ao lado me incomoda terrivelmente. Porque a atração sobre mim é palpável. Meu coração está a todo instante acelerado.

— Ah... sim. Eu consegui comprar na padaria.

— Em qual padaria? Nem todo mineiro sabe fazer bom pão de queijo.

— Esse era bom, te garanto. — Tento me concentrar no filme, mesmo não tendo um pingo de interesse.

— Não comeu outro para comparar.

— Melhor que o de São Paulo.

— Qualquer um seria melhor do que o de São Paulo. Por que não vem à minha casa, posso fazer...?

— Não — antecipo.

— Uai, malcriada! Nem me esperou terminar de falar.

— Sim, e a resposta é não. — Verifico se todas as crianças estão concentradas assistindo, e encaro Gaspar, com o rosto iluminado pela claridade da tela. — Eu não piso mais na sua casa, foi ridículo o que fizemos e não vou dar mais brecha. — Estou quase revoltada e partindo para cima dele de maneira ácida. E talvez a revolta maior seja comigo mesma, por ter vindo focada para essa cidade e ter caído no primeiro obstáculo.

— Tudo bem. Eu aceito a desfeita. Sem convite para comer pão de queijo.

Eu estou chocada que Gaspar simplesmente colocou uma venda nos olhos e não consegue enxergar que nós dois não podemos fazer isso. Eu cuido dos filhos dele e nem sou a porra de uma psicóloga. Eu guardo segredos, sou uma usurpadora mentirosa nessa cidade.

— Você não consegue ver...?

— Eu consigo ver, sim. — Gaspar inclina-se para cima de mim, cochichando com a voz rude. — Eu sei que não é de bom tom transar com a funcionária da escola dos meus filhos. Eu não sou um moleque idiota.

— Então por...?

— Mas eu também sei que posso foder sem precisar entrar em um relacionamento. Eu estou há quatro anos sozinho porque quero. Não desejo namoro e nem casamento. Se você deseja algo sério, então é melhor mesmo a gente nem inventar esse rolo, porque eu não posso te dar mais do que orgasmos.

— Seu... grosseiro.

— Ah, pronto! Agora me xinga.

— Nunca existiu rolo e nem vai existir. Pelo menos não com o senhor.

— Sou senhor agora? Depois de ter mordido meu pescoço?

— Vá se foder.

— Olha a boca. Tem criança no recinto.

— Vá. Se. foder! — Eu me levanto rápido, mas em vez de ir para uma poltrona perto das crianças, corro, descendo a rampa e saio da sala. Preciso de espaço e tempo para respirar, para resgatar a racionalidade. Por que diabos esse homem me tira tanto do sério?

Apoiada na pia, de cabeça baixa, respiro rapidamente. Em seguida, levanto os olhos, me encarando no espelho, e vejo, para meu espanto, a porta abrir e Gaspar entrar feito um touro. Ele nem diz nada, nem tenho tempo de reagir, apenas me puxa com ferocidade, me joga contra a parede e abocanha meus lábios sem piedade.

Seu beijo cruel é gostoso demais e desarma qualquer força de combate que eu pudesse ter. Ele consegue me prender facilmente com seu corpão, uma mão na minha cintura e a outra cobrindo a lateral do meu rosto. E eu só consigo sentir o gosto bom da derrota.

Seguro na sua nuca e retribuo o beijo, me xingando por dentro, mas feliz por estar provando mais uma vez da melhor boca que já existiu. Toda a virilidade do homem bruto com gosto de manteiga da pipoca.

[AMOSTRA] MENTIRAS, BEIJOS E PÃO DE QUEIJOOnde histórias criam vida. Descubra agora