11 - GASPAR (Parte 02)

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— Assim está bom? — Flora faz mais um resumo e me entrega.

Eu aceitei a proposta. E nem precisou que ela insistisse muito. É uma boa ideia, eu estarei um dia inteiro com meus filhos, e ainda posso dar um bolo em Bianca, que marcou para a gente ir sábado ao bar.

Agora Flora está fazendo resumos do pedido de autorização que vai mandar para os pais. E eu deixei que ela colocasse o meu nome para que os pais se sentissem seguros e permitissem.

— Esse ficou bom. — Devolvo a caderneta a ela.

— Ótimo. — Flora guarda na bolsa. — Vou digitar, imprimir e amanhã entrego a eles na aula.

— E eu vou resolver a questão do transporte. Tenho certeza de que todos vão autorizar. A maioria me conhece.

Ela assente, me observando, e quando o silêncio fica desconfortável, Flora olha em volta. Dá alguns passos e analisa todo o ambiente externo da mansão.

— Sua casa é muito bonita.

— Obrigado.

— Aquelas terras pra lá...

— São minhas — adianto.

— É muito grande. A perder de vista. — Volta a me encarar. — Foi herança? Desculpe a inconveniência.

Apenas assinto. Meu pai cultivou tudo isso e morreu cedo demais para usufruir.

— Legal. Os meninos têm muito espaço para brincar.

— Quer conhecer?

— Oi?

— Conhecer a fazenda.

— Se não for... te atrapalhar...

— Lógico que não. Eu sou o dono, esqueceu? Me dê um momento. — Deixo-a e vou até o outro lado no galpão; pego um par de galochas para ela, já que não vai conseguir andar de saltos.

De maneira graciosa, Flora se senta para tirar os saltos e calçar as galochas, a gola do vestido cede um pouco, e eu consigo ver a curva de seus seios fartos, o que é quase a mesma coisa que me dar uma facada. Preciso despistar e fingir que estou de olho no mundo em volta para não dar na cara, e para que meu pau não se manifeste de maneira tão vergonhosa.

A verdade é que eu só queria trepar com ela uma única vez. Tô lambendo os beiços de desejo faz dias. Mas como dizem: mineiro come quieto. Não vou interferir no destino.

— Vamos? — Flora se põe ao meu lado.

Começamos a caminhar até a alta cerca de ferro que separa a fazenda de criação e de produção da minha casa. Antes, na época do meu pai, era tudo interligado, mas eu tenho menino pequeno e traquino e não ia arriscar deixar que eles fossem para o lado onde acontece o serviço pesado.

Assim que passamos pela cerca de ferro, aponto para o pasto a perder de vista.

— Aquilo tudo é gado. — Mostro a ela.

— Por isso te chamam de rei do gado mineiro. O que faz com tanto gado?

— Aqui a gente faz de tudo um pouco. Vendo animal para abate, vendo o esperma dos touros, vendo boi de raça, e há uns quatro anos danei a fazer queijo. Tô dando conta não de tanto pedido.

Flora está me olhando sorrindo enquanto caminha ao meu lado. Chegamos nas estrebarias, e antes de entrar, preciso saber se ela anda a cavalo.

— Ah... — Flora demostra insegurança, mas meneia a cabeça. — Eu não sei montar, mas também não tenho medo.

[AMOSTRA] MENTIRAS, BEIJOS E PÃO DE QUEIJOOnde histórias criam vida. Descubra agora