9 - GASPAR

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Boa tarde! Olha o capítulo de sábado! 

Espero que gostem!

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Acordo rígido e dolorido. A cabeça latejante do pau escapando da cueca, nem a peça íntima é capaz de segurar o bendito durante o sono. E, dessa vez, não é só a rotineira ereção matinal, sei que há algo mais. Não penso outra coisa senão enroscar minha mão naquele cabelão cor do perigo, e meter fundo. E eu não sou tão pervertido assim, ou não costumava ser. Até ficar frente a frente com a maldição infernal. Praguejo e caminho para o banheiro. Cinco da manhã, o dia se inicia.

— Não olhe para mim desse jeito — falo com a foto de Manu quando saio do banheiro. — É só meu pau tentando me governar. E você sabe que eu costumo ser mais forte que ele.

Entro no closet para me vestir e suspiro, olhando a parte que era dela e que já não tem mais nada. Eu até tentei manter as coisas de Manu quando nos mudamos para cá, mas a mãe dela limpou tudo, levou tudo que era da filha, e eu não tentei impedir. Salvei poucas coisas que guardo em uma caixa.

Os meninos tomam café da manhã enquanto confiro o horário de Valentim e verifico se teve lição para hoje. Ele é organizado, e está tudo nos conformes. Pode não gostar da escola, mas sempre faz o seu melhor. Faz tanto, que desde sempre está na turma A.

Desço as escadas com as mochilas e preparo a lancheira de Micael. Um suco de caixinha, uma maçã e dois minissanduíches com patê de frango e muçarela, combinação que ele ama bastante.

Pela manhã, eles são pacatos e vão calados no carro assistindo a um desenho animado no banco traseiro. Paro o carro na esquina da escola e procuro com o olhar o carro de Flora. Sorrio intimamente ao ver que já está lá no estacionamento.

— Tchau, pai — Valentim diz ao descer e segue sozinho na frente.

— Tchau. Comporte-se. — Seguro na mão de Micael e o levo até o portão.

Vejo-o entrar sozinho, tão pequenininho com a mochila nas costas e a merendeira na mão. Meu coração se aperta, mas logo sinto alívio. Eu estou dando tudo de mim para que eles tenham uma boa infância sem traumas e tristezas. Uma funcionária o espera e o guia para a ala do maternal. Espio para dentro da escola, na tentativa ridícula de ver um cabelo de fogo por lá. Mas desisto e volto rápido para o carro.

Dou uma passada no escritório para resolver questões burocráticas de venda. Eu me esforço bastante para que meu gado seja o melhor do mercado brasileiro. Carne de qualidade, animais bem tratados e de forma humanizada, que produzem bom leite para que eu fabrique o legítimo queijo mineiro vendido para toda parte do Brasil. O queijo Donovan foi ideia de Manu e acabou dando certo. Há mais de cinco anos ele está presente na mesa do brasileiro.

— Não dá para abaixar mais que isso — falo com meu representante de pé diante da minha mesa, ele tenta uma negociação para venda de gado. Mas o comprador continua insistindo em algum desconto por cabeça.

— É que a carne anda bem cara, né, Gaspar?

— Isso já não depende de mim. Já abati bastante do preço original. A única coisa que podemos fazer é aumentar o prazo de pagamento. — Ele sai para dar a resposta ao comprador pelo telefone, e Cleiton, meu contador, sentado à outra mesa, fala:

— Tem pouco gado igual ao seu no Brasil. É equiparado ao gado Capello. Tem que valorizar mesmo. Os Capello estão há anos no mercado de pecuária e laticínios, e a marca sempre se mantém em alto nível.

Giro na cadeira para fitar Cleiton.

— Estive falando por esses dias com Andrey Capello, CEO da empresa — comento —, e ele também colocou o pau na mesa a respeito do preço, mesmo com essa alta da carne. É triste, mas é a realidade, somos produtores e vivemos disso.

[AMOSTRA] MENTIRAS, BEIJOS E PÃO DE QUEIJOOnde histórias criam vida. Descubra agora