7 - FLORA

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Boa tarde pessoal! Olha quem está de volta. desculpe, gente, adoeci e quase não estou mexendo na internet. Acabei esquecendo de postar. 

Mas já está tudo bem! Espero que gostem!

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Tive progresso na escola hoje. Não só com os irmãos Donovan, como também com outros dois alunos encapetados que os pais não viram problema em me deixar ter sessões com eles; nada parecido com o imbecil do Gaspar. Também tive progresso na escolha dos integrantes para o clubinho, com ajuda da bibliotecária. Ela conhece os alunos mais assíduos. E, graças a Deus, Valentim está entre eles.

Debora me confidenciou que estava com medo de ser obrigada a me dispensar, porque tinha gostado mesmo de mim e não queria passar por outro processo de contratação de profissional.

— O João Gaspar manda mesmo na cidade — ela disse mais cedo, em sua sala. — Até na polícia. Se ele chega para o delegado e pede: "Olha, vocês precisam investigar tal coisa", então eles investigam.

— E ninguém faz nada para deter esse homem? — indaguei.

— Além de ser um dos maiores pecuaristas da região e trazer riqueza e trabalho para nossa cidade, ele é genro do seu Onório Teixeira, que foi prefeito dessa cidade e hoje é deputado estadual. Isso só o ajuda a ser mais influente.

Ela me aconselhou a acatar qualquer ordem dele e trabalhar em paz no meu dever. E assim estou seguindo. Estou me aproximando sutilmente de Valentim e Micael, para tentar ajudá-los. Mesmo tendo um pai tão intragável, as crianças não têm culpa alguma. Lembro da minha infância e penso que seria tudo diferente se alguém tivesse interferido para me ajudar.

Já em casa, tiro a roupa de donzela adorável e coloco um short curtíssimo de algodão e um top, porque o interior de Minas é mais quente do que eu previa. Ligo a televisão em qualquer bobeira e abro a quentinha que comprei na volta. O cheiro do bife acebolado invade meu nariz, me fazendo salivar.

Eu nunca tive uma rotina de luxo, mesmo quando estava em São Paulo. Na verdade, lá era bem pior, por causa do corre-corre de cidade grande, os lugares sempre tão distantes, nos obrigando a escolher entre perder horas no transporte público ou almoçar em qualquer esquina. E quem tinha carro não era tão diferente, afinal enfrentar o trânsito de meio-dia de São Paulo tira qualquer um do sério.

Eu me virei sozinha a vida toda, mesmo quando tinha uma "mãe". Não tive oportunidades de estudo, mesmo que fosse público, ela simplesmente me impediu de ir à escola para poder ser sua escrava. Restaram, portanto, duas únicas saídas na vida adulta: ganhar a vida fácil ou ralar. E eu ralei. E comemorei sozinha na quitinete alugada quando passei no concurso do banco.

E foi ali, naquele banco, no meu promissor trabalho, que minha vida virou de pernas para o ar, me levando a essa minha nova vida de mentira.

Comi toda a quentinha e bebi sedenta a latinha de guaraná, estou acostumada com o clima frio paulista e não com esse calor infernal. Recostei no sofá e acho que tirei um bom cochilo. Acordo sobressaltada com a campainha soando.

Ajeito os cabelos, desligo a televisão e espio pela janela, tomando um susto ao ver pela grade do portão ninguém menos que João Gaspar parado na calçada.

Porra, o que esse homem quer aqui?

Estou prestes a me perguntar como ele encontrou meu endereço, mas logo me lembro que ele é mandachuva na cidade e consegue tudo que quer. Não tenho tempo de correr e trocar de roupa. Abro o portão da grade e o encaro, constrangida quando seus olhos pousam inconvenientes no meu top.

[AMOSTRA] MENTIRAS, BEIJOS E PÃO DE QUEIJOOnde histórias criam vida. Descubra agora