Capítulo 11: Elemental do Fogo.

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Ícaro

Os corredores daquele chalé estavam silenciosos demais, assim como as vozes na minha cabeça. Elas ficaram completamente quietas e felizes quando sentiram Olívia.

Eu ainda lembro das últimas vezes que estive nesse lugar, tentando entrar nesse chalé pra fugir da minha vida. No fim, eu fugi para um lugar bem mais longe daqui. Um ano. Um ano completamente longe de todo esse lugar. E eu não sinto falta daqui.

Haviam apenas algumas coisas que eu pensava constantemente quando estava entre as outras dimensões e no Mundo Inferior. A primeira delas era Olívia. Eu havia feito uma promessa a ela. Além disso, ela era a única pessoa que me fazia sentir algo diferente. Além do caos que vive dentro de mim.

E a outra é uma velha conhecida da infância. A garota que me estendeu a mão quando eu estava caindo na escuridão e me ajudou a sair do fundo do poço onde eu estava. As vezes, quando eu estou nos meus piores dias, ainda consigo ouvir a voz dela na minha cabeça.

Você não está sozinho, Ícaro.

Mas eu estava sozinho. Eu estava afundando e morrendo aos poucos. E mesmo com todos os motivos do mundo para me odiar, ela me estendeu a mão. Eu sei que se um dia eu estiver me destruindo de novo, ela seria alguém pra onde eu correria. Pessoas são esquecíveis, mas ela não é.

Parei na frente do quarto de Olívia e bati na porta. Não demorou muito para eu ouvi-la do outro lado. Abri a porta lentamente e vi ela pegando algumas roupas no armário.

—Esta indo embora? —Questionei, chamando a atenção dela. Olívia me encarou por cima do ombro, vendo eu empurrar a porta com o pé a fazendo se fechar.

—Não lembro de ter dito que você podia entrar aqui. —Comentou, voltando sua atenção para o armário.

—Eu não preciso de autorização. Só bati na porta para ser educado. Mas teria entrado de qualquer forma. —Falei e ela soltou uma risada.

—Eu achei que você teria deixado de lado esse seu jeito idiota. Mas vejo que você realmente está pior do que antes. —Provocou e eu suspirei, abrindo um sorriso e me sentando na ponta da cama dela.

—Elemental do fogo. —Comentei, um pouco baixo demais. —Sinto muito pela sua mãe.

—Não, você não sente. —Rebateu, sem se importar em me encarar. —Sabe muito bem que se ela ainda estivesse viva, eu não teria chamado você. Não finja pesar.

—E porque me chamou? —Questionei.

—E porque fez aquela promessa? —Rebateu novamente, usando outra pergunta. —Não diga que é porque se importa comigo. Eu sei que não se importa com nada além de você mesmo.

—Estou acostumado a ser apunhalado pelas costas. Me preocupar apenas comigo me salvou de muita coisa. —Afirmei. —Mas você está errada sobre muitas coisas.

—Tipo o que? —Ela se virou para mim, colocando algumas mechas do cabelo ruivo para trás da orelha.

—Acha que eu teria vindo até aqui se não me importasse com você? —Questionei e ela ficou em silêncio, apenas me encarando. —Faz um ano e eu estou aqui porque você me chamou.

—O que fez durante esse um ano? —Indagou e eu soltei uma risada.

—Você não respondeu minha pergunta. —Falei e ela cruzou os braços na frente do corpo. Curvei meu corpo para trás, ficando com os cotovelos escorados na cama. Era um desafio. —Fiz muitas coisas, Oli. Inclusive coisas bem ruins.

—Não me surpreende. —Afirmou, ainda me encarando com as braços cruzados. Abri um sorriso e tombei a cabeça para o lado, vendo que ela analisava cada movimento meu.

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora