Capítulo 27: Atlas Ingram.

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Halley

Porto Real
6 anos antes...

O vento frio entrava pelas grades da pequena janela e causava um assobio pelas paredes de pedra da torre. Haviam 4 celas. Mas apenas a minha estava ocupada. Eu estava sozinha ali. Um ano presa naquele lugar.

O silêncio era o meu único companheiro, além das longas noites escuras e dos pesadelos que me acompanham. Fazia 7 anos que eu não via meus pais e minha irmã. 7 anos que eu havia sido levada e tudo mudou completamente.

12 anos. Eu era tão nova para ficar presa atrás de grades e paredes de pedra. Não havia nada ali além da solidão e da saudade. Onde Holly estaria? Ela também havia sido levada. O que aconteceu com meus pais? Eles ficaram para trás e eu não sei mais o que aconteceu com eles depois disso.

O mundo tende a ser cruel. Mas o que machuca não são as mudanças que ele trás consigo, são as pessoas. Pessoas podem machucar. Pessoas podem te ferir. E nada é mais doloroso do que a própria escuridão que cada um carrega dentro de si.

—Olá, ratinha. —Ouvi a voz atrás de mim. Eu estava deitada sobre o colchão velho, encarando a parede de pedra. Não ousei virar para a voz masculina, que eu sabia pertencer a um bruxo. —Um ano presa nessas grades. Gostaria de saber o que se passa nessa sua cabeça de humana frágil e burra. —Fiquei em silêncio, sem mover um músculo e ouvi ele bufar. —Tudo bem. Só vim avisar que em breve você vai ganhar um companheiro de cela.

Pisquei, sem sentir absolutamente nada em relação aquela informação. Não fazia diferença se eu conheceria alguém. Eu continuaria atrás dessas grades ouvindo o vento sussurrar. Soltei um suspiro e fechei meus olhos, deixando o sono tomar conta de mim.

[...]

Abri meus olhos com o barulho de uma das celas sendo aberta. Me sentei no colchão, vendo dois bruxos arrastarem um garoto e o jogarem dentro da cela que havia ao lado da minha. Ele cai no chão e gemeu de dor, quando seus joelhos encontraram o piso firme.

—Bem vindo ao seu novo lar, verme. —Eles riram e fecharam as grades, se afastando com sorriso enormes lançados a mim. Me encolhi contra a parede e olhei para o garoto que tentava se colocar de joelhos.

Ele tinha cabelos vermelhos longos, caindo sobre os olhos que pareciam ser negros. Engoli em seco, vendo ele erguer o rosto e seus olhos encontraram os meus. Ele tinha a pele pálida e magra. Alguns arranhões e roxos pelo rosto, com um corte na boca, como se tivesse acabado de levar uma surra.

Ele se sentou no chão e rastejou até o colchão no canto da cela, ficando virado pra mim. Não consegui tirar os olhos dele. Apesar de machucado e acuado, assim como eu estava, ele era bonito.

—Oi. —Ele sussurrou e eu abracei meus joelhos, sentindo algo se aquecer no meu peito ao ouvir sua voz baixa e frágil. Ele piscou, aguardando que eu falasse algo. —Seu nome é Halley, não é?

Escorei meu queixo nos meus joelhos e balancei a cabeça de leve, confirmando que era. Ele esboçou um sorriso fraco.

—Terras humanas, não é? Eu era de lá também. Me lembro de você. —Ele passou a mão machucada na boca, tirando o sangue que se acumulava ali, sem se preocupar com os fios ruivos que caiam sobre seus olhos negros.

—Quem é você? —Questionei baixinho e ele pareceu surpreso ao ouvir minha voz. Observei ele deslizar pelo chão até as grades que separavam sua cela da minha. Me encolhi contra a parede, sentindo receio. —O que está fazendo?

—Me apresentando corretamente. —Ele passou a mão pelas grades e estendeu o braço, deixando a mão aberta para mim. Pisquei, supresa e assustada ao mesmo tempo. —É um aperto de mão.

—Eu não quero que me toque. —Falei baixinho, mas vi que ele ouviu quando sua expressão mudou para confusão e ele encolheu os dedos da mão estendida. —Todas as pessoas que me tocaram me fizeram mal.

—Mas eu não vou fazer mal a você, Halley. Estou preso como você. Eles... eles também me fizeram mal. —Ele abaixou os olhos para o chão, assim como sua mão. Engoli em seco, vendo os olhos dele ganharem um tom avermelhado, como se ele estivesse prestes a chorar. —Pessoas podem machucar. É a natureza delas.

Me remexi, observando ele encarar um ponto fixo no chão como se estivesse pensando longe. Meus olhos o analisaram e meus dedos pareciam coçar para que eu o tacasse. Para que eu sentisse como eram seus fios de seus cabelos vermelhos.

Me mexi, trazendo sua atenção pra mim de novo. Ele piscou, com os olhos negros fitando meu rosto como se eu fosse um fantasma. Me arrastei no chão lentamente, sentindo minha respiração ficar ofegante a cada movimento mais próximo das grades onde ele estava.

Parei e me encolhi no chão, ainda encarando seus olhos. Eu precisava apenas estender a mão que tocaria a sua. Virei o rosto, quando ele trouxe a mão lentamente em direção a minha, sem tirar os olhos de mim.

—Seus olhos são tão azuis. —Sussurrou com a voz um pouco tremula. —Parecem o oceano. O céu da manhã. —Seus dedos roçaram nos meus, fazendo uma onda de eletricidade passar dele para mim. Uma fagulha que queimava por dentro e aquecia meu corpo. Então eu ouvi, sua voz sair mais baixa, enquanto seus dedos se enroscavam nos meus. —Halley Orion, você se parece com um anjo.

Virei meu rosto, encontrando seus olhos negros em mim, atrás dos fios ruivos que caiam sobre eles. Ele parecia estar comtemplado uma obra de arte. Mas estava apenas olhando para meu rosto magro.

—Eu estou a tanto tempo na escuridão, que acho que finalmente estou sonhando de novo. —Continuou e sua mão deixou meus dedos, subindo em direção ao meu rosto. Soltei um suspiro de surpresa ao sentir seus dedos roçarem na minha bochecha, como se tivessem medo de que eu fosse uma ilusão. Mas eu não era e ele teve certeza disso quando movi meu rosto para o lado, deixando que sua mão o tocasse por inteiro. —Eu não vou machucar você, Halley. É uma promessa.

—Quem é você? —Perguntei, sentindo seus dedos passearem pela minha bochecha e seus olhos seguirem o percurso.

—Atlas. Meu nome é Atlas Ingram. —Ele sorriu e algo se quebrou dentro de mim.



Continua...
....

Caso alguém tenha ficado em dúvida sobre a idade e ordem dos acontecimentos.
Holly e Atlas tinham 7 anos quando os feéricos atacaram as terras humanas e a Halley tinha 5. Halley viveu livre com as bruxas uns anos e depois foi presa na torre quando tinha 11 anos. Atlas chegou lá um ano depois, quando Halley já tinha 12 e ele 14. Depois disso, ele passou um ano preso lá com ela e quando fez 15 anos foi levado e ocorreu sua transformação. Desde então ele está preso em outra torre separado da Halley (que acredita que ele está morto).

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora