Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2

Capítulo 33: Rei de Andalor.

Kian

As vezes eu me perguntava o que havia feito de errado. Eu dei tudo a Holly. Um lugar ao meu lado no reino Superior. Um treinamento que a transformou na melhor assassina que existe. E estava... estou disposto a dar uma coroa a ela. Para que ela se torne minha rainha. Mas ainda sim ela o prefere. Ainda sim ela luta contra mim depois de tudo que vivemos juntos.

—Do que me adiantou transformar você em rei de Andalor, se você nem ao menos consegue proteger esse reino? —A rainha bruxa questionou, enquanto batucava as unhas negras no braço do trono. A voz dela era calma e ao mesmo tempo mortal. —Agora eles levaram os dois líderes das cortes. Mais aliados. —Ela se curvou no trono, como se quisesse ficar mais próxima de mim. —E o que foi que os guardas disseram? Uma Portadora do Fogo?

—Parece que sim. —Falei, engolindo me seco. Como eu poderia imaginar que Holly arrumaria aliados assim?

—Você é uma decepção! —Ela cuspiu as palavras, me fazendo ranger os dentes com a familiaridade daquela frase.

Não, eu não era uma decepção. Freya havia sido uma decepção e pagou por isso. E eu jamais serei igual a ela. Jamais serei comparado a algo tão baixo.

—Isso não importa. O feérico ou a fada, não importa. Ainda estamos na frente dele. Ainda temos uma carta na mão. —Afirmei, erguendo o queixo para encara-la o que resultou em uma risada ácida vindo dela.

—Seu trabalho daqui em diante é apenas um. —Ela se colocou de pé e deslizou a saia do vestido pelo chão até parar na minha frente. —Em hipótese alguma você deve deixar que um deles chegue perto do Acordo de Sangue. —Ela curvou o rosto para mais próximo do meu, me fazendo sentir sua respiração. —E nisso eu me refiro a sua ex noiva, a irmã ratinha e o filho dos Ingram.

—Eles nunca vão chegar perto do Acordo de Sangue. Não terá que se preocupar com isso, vossa majestade. —Afirmei, sentindo um gosto amargo na boca.

—Acho bom. Porque se algo der errado. —Ela abriu um sorriso largo. —Você fará parte da minha coleção pessoal de estátuas de pedra. Talvez a minha favorita.

Então ela se virou e saiu andando, se afastando como um vendaval. Estremeci ao ouvir o barulho do vento sendo cortado por assas e o grunhido nos céus. O dragão voou perto das janelas, fazendo sua sombra passar por mim.

Eu odiava que duvidassem de mim. E ela estava fazendo isso desde o início. Provarei o quanto sou melhor que ela e toda sua espécie.

[...]

Parei em frente as grades, vendo o corpo magro e pálido encolhido contra a parede, com o rosto escondido entre um amontoado de cabelos negros. Halley era definitivamente a irmã mais bela, entre ela e Holly. Mas nada superava o temperamento audacioso de Holly. Isso a deixava muito mais atraente do que a beleza.

—Olá, Halley. —Ela não me respondeu. Ela nunca tinha a decência de responder qualquer coisa que eu falava com ela. Normalmente ela me dirigia a mesma pergunta de sempre "Onde está a minha irmã?". Mas agora parece que nem isso ela está interessada em perguntar.

Olhei para cela do lado. Para qualquer um que olhasse ali, não veria nada além de uma cela vazia e nojenta como as outras. Mas para Halley, não. Ela vê o que a rainha bruxa deseja que ela veja. Ela vê a sombra de uma morte. Um amontoado de ossos que deveriam significar a morte de Atlas Ingram, se ele não estivesse bem vivo longe daqui.

Percebi que a rainha bruxa sente prazer em ver o sofrimento alheio. E nada causou mais prazer a ela, do que iludir Halley com uma alucinação de que Atlas estava morrendo. De que ele está morto. E quando isso aconteceu, eu estava aqui. E podia jurar que ouvi o coração de Halley se partir.

—Não vai me perguntar da sua irmã? —Indaguei, me escorando nas grades e tentando de novo. Mas nada. Halley Orion era silenciosa demais. Desde o início ela foi. Ela não gritava quando arrastavam ela por esses corredores. Não berrava quando lhe davam uma comida nojenta. Não esperneava quando machucavam ela. Ela simplesmente ficava em silêncio e aguardava.

Holly Orion pode fazer um homem se ajoelhar diante dela com algumas poucas palavras e uma adaga muito bem afiada. Mas sua irmã, Halley, poderia ser mais sombria e assustadora com o silêncio.

As bruxas podem não entender. Mas pra mim, Halley é uma tempestade prestes a colidir com a terra. E quando isso acontecer, tenho certeza que não vai sobrar nada.

Continua...
.....
Pra quem não viu, já adicionei o sumário da segunda parte do livro. Ou seja, temos todos os títulos até os capítulos finais.