Capítulo 22: União.

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Holly

A sensação de entrar nas chamas era como Zaia havia dito, desconfortável. Mas em um determinado ponto, se tornou praticamente insuportável. Eu fiquei segurando meus olhos fechados e cerrei meus punhos. A sensação se tornou mais aprazível quando senti a energia de Ingram na minha cabeça se intensificar.

Ele não falou absolutamente nada depois que eu entrei e eu sabia que era porque ele estava tentando utilizar todo seu poder naquele acordo, que estava marcado na minha pele. Uma lágrima solitária escorrer pela minha bochecha quando senti que minha pele iria se desmanchar a qualquer momento.

      "Saia"

Ingram praticamente gritou na minha cabeça. Sua voz veio abafada e ofegante. Dei dois passos e sai das chamas, abrindo os olhos quando minhas pernas falharam. Meu joelho se chocou contra o chão e eu senti Ingram indo embora.

Não demorou muito para eu estar entre os braços de Aaron e para ouvir de Mackenzie que havia dado certo. Eu não conseguia falar. Meu corpo ainda parecia em chamas. Meu peito estava apertado e meu coração acelerado.

     "Ingram? Você está aí? Preciso saber se está bem."

Eu senti algo acariciar minha mente e então sumir. Suspirei aliviada e passei meus braços envolta dos ombros de Aaron quando ele me ergueu do chão. Dessa vez eu não me importei por estar sendo carregada. Eu só queria ficar agarrada a ele.

[...]

Encarei minha aparência no espelho. Eu havia voltado ao normal. Minha cor. Meu ânimo. E aquela marca havia sumido do meu pulso. Não sei o que Adya estaria pensando agora, mas com toda certeza não estava feliz com isso.

Ajeitei as adagas no seu lugar de direito e abri a porta, descendo as escadas e vendo que todos estavam no gramado. Haviam várias fogueiras espelhadas, onde os guerreiros conversavam e comiam. Procurei por Aaron. Agora tudo estava certo nós poderíamos ficar juntos de verdade. Mas ele não estava em lugar algum.

—Seu reizinho saiu com o Sky. —Mackenzie parou ao meu lado. —Não me surpreende que eles tenham de dado tão bem. São dois babacas. —Ele sorriu pra mim. —Com todo respeito é claro.

—Vocês não vão se dar bem nunca, não é? —Comentei e Mackenzie deu de ombros. —Onde está Olívia?

—Arrumando suas coisas para que possamos partir. Irei buscar ela mais tarde. —Afirmou e eu o segui, vendo ele ir em direção a uma das mesas que havia ali. —Sem mais acordos com a morte por favor.

—Não posso prometer nada. —Ri da sua careta e ele entregou um copo de bebida a mim, pegando outro. —Quantos você já bebeu?

—Não sei. Perdi a conta quando chegou ao sexto copo. —Ele virou o líquido na boca de uma vez só e eu soltei uma risada. —Quase nunca tenho sossego para beber quando vou A Fortaleza. Mas aqui sim.

—Sempre matando vampiros por aí. —Virei o líquido na minha boca e senti ele descer queimando na minha garganta.

—Eu preciso arrumar alguma diversão às vezes. —Mackenzie trocou nossos copos por outros cheios e me puxou para que sentássemos perto de uma fogueira.

—Posso fazer uma pergunta? —Mackenzie se escorou em um tronco de árvore que era usado como banco e suspirou, como se não gostasse disso.

—O que você quer saber? —Indagou um pouco infeliz e eu virei o copo na minha boca. Talvez eu não tivesse certeza do que perguntar. Mackenzie não falava muito sobre si. E quando falava, eram frases curtas. —Olha só... —Ele soltou o copo na grama e suspirou, olhando para as chamas vermelhas. —Meu pai costumava me dar surras, desde quando eu era criança. Ele queria que eu fosse o melhor de toda cidade. O maior guerreiro. O mais forte. E éramos só nós dois. Eu não me lembro da minha mãe. Ela morreu quando eu ainda era um bebê. —Encarei Mackenzie, vendo ele com os olhos fixos no chão. —Eu cresci tentando ser o melhor que meu pai queria. Todo mundo no Distrito 1 me odiava. Eu era uma pessoa péssima.

—Você tinha motivos. —Ele riu e balançou a cabeça.

—Eu tinha motivos para odiar meu pai. Não para transformar a vida dos outros envolta em um inferno. Pergunta pra Zaia... —Exclamou. —Pergunta pra ela como parte dos problemas da vida dela foram causados por mim. Pergunta pra ela como eu fui um lixo de pessoa com ela.

—Ela não parece se importar. —Sussurrei e Mackenzie abaixou os olhos para o chão. —Ela realmente parece gostar de você. Tenho certeza que te perdoo por todas essas coisas.

—Eu não me importo com o perdão das pessoas, Holly. Aprendi a ignorar qualquer coisa sentimental que vem de qualquer um. —Afirmou, agora erguendo os olhos para me encarar. —Zaia pode esquecer tudo que aconteceu. Mas eu não vou.

—Você gostava dela, não é? —Ele revirou os olhos. —Não revira os olhos pra mim, seu idiota. Eu vi como você olhou pra ela e o Sky juntos.

—Exatamente. Ela é parceira do Sky e tem uma filha com ele. —Mackenzie afirmou. —E eu estou aqui pela Olívia. Foi por ela que eu vim. Foi ela que eu esperei um ano todo.

—Não estou dizendo que não gosta da Olívia. —Retruquei. —Mas estou perguntando se alguma vez, naquela época que todos odiavam você, existia alguma coisa.

Mackenzie suspirou, deitando a cabeça no tronco e olhando para o céu. Eu vi as sombras saindo dele e rastejando pela grama, como se gostassem da noite envolta delas.

—Você já pensou em algo que aconteceu a muito tempo e pensou como as coisas poderiam ter sido diferentes, se algumas coisas não tivessem acontecido? —Questionou, franzindo a testa e parecendo pensativo. —É só isso que eu penso quando olho pra ela. Como a vida de todo mundo poderia ter sido diferente se eu não fosse daquele jeito.

—Principalmente a sua e a dela. —Falei e ele não respondeu. —Você é uma boa pessoa, Ícaro. Só não teve uma vida fácil.

—Você também não teve e nem por isso virou uma filha da puta. —Argumentou e eu soltei uma gargalhada.

—Não, eu mato pessoas por causa da minha vida nada fácil. E fiz isso muito cedo. Todos nós fomos obrigados a crescer antes do tempo. Perdendo a infância para sentir dor. —Virei o restante do líquido que estava no meu copo. —Mas as coisas não serão mais assim, Ícaro.

Ele concordou com a cabeça, ainda olhando para o céu. Observei ele se colocar de pé, um pouco zonzo por ter bebido demais.

—Eu vou passar a noite com Olívia. Amanhã cedo a gente pode ir embora. —Concordei e ele se afastou. Olhei para a Casa do Ar, vendo Aaron parado na porta com as mãos no bolso da calça. Abri um sorriso e me coloquei de pé, indo apressadamente até ele.

—Onde você estava? —Passei meus braços envolta dos seus ombros e abri um sorriso. Ele me encarou com uma expressão tranquila.

—Estava resolvendo uma coisa. —Aaron segurou minha mão e me puxou em direção as cabanas que flutuavam no ar entre as copas das árvores. Subimos algumas escadas em caracol e  depois andamos pelas pontes até uma das cabanas. —Eles emprestaram essa pra gente passar essa noite.

Aaron esclareceu, abrindo a porta e me permitindo entrar. Abri um sorriso e entrei na cabana, observando o lugar simples, mas aconchegante.

—Eu queria isso em um lugar melhor. Mas acho que nossa situação não está muito boa agora. —Comentou, fechando a porta atrás de si.

—Não entendi. —Falei, me virando para encara-lo e vendo-o se aproximar de mim. Aaron parou na minha frente e tocou meu rosto, com uma expressão ansiosa. —O que foi?

—Eu sai com Sky para conseguir isso. —Ele tirou a mão do bolso e mostrou uma pequena pedra negra que parecia cintilar. —Se chama pedra da estrela.

—É linda. —Aaron deixou que eu a pegasse. —O que ela é?

—Eles usam elas aqui para firmar a parceria entre um casal. —Ergui os olhos até Aaron, vendo ele me fitar com certa intensidade. —União, Holly.






Continua...

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora