Crow- Flaming Reapers

Capítulo 5

Eu... voltei?? <3

Aqua

Sabe aquele ditado: a maçã nunca cai longe da árvore? Eu já ouvi algumas vezes em livros e nos poucos filmes que assisti enquanto crescia. Sempre acreditei fielmente nisso, porque faz sentido. As pessoas que te criam são quem preparam você para o mundo, quem lhe torna a pessoa que é. Para muitos, essas pessoas são seus pais. Crianças crescem para seguirem a carreira da mãe e se tornarem bombeiros, ou policiais, como o pai.

Eu nunca fui preparada para o mundo. Fui preparada para a obediência, ou a morte. Não fui ensinada a contar troco ou pedir comida sozinha em um restaurante. Fui ensinada a manter a cabeça baixa, não usar roupas provocativas e obedecer. É tudo que eu sempre conheci. Cresci com a única ideia que iria morrer ao alcançar meus dezoito anos, como acontece com todos os órfãos.

Ir contra as crenças que foram impostas à uma criança desde que ela se conhece por gente é uma das coisas mais complicadas a se fazer. Nunca deixe ninguém te convencer do contrário.

É por isso que eu estava tendo uma reação tão forte aos Flaming Reapers. Assim que saí do meu quarto para encontrar mulheres nuas, bebida, cigarros e sexo, a palavra que imediatamente apareceu na minha cabeça é inferno. Essas pessoas estavam fazendo tudo que eu entendia como pecado, e nem mesmo pareciam se importar.

Entrar no escritório de Crow foi ao mesmo tempo bom e ruim. Por um lado, ficar fora de tudo aquilo foi como conseguir respirar novamente. Mas olhar nos olhos prateados fez minha garganta fechar mais uma vez. Aquele homem me deixava nervosa. Ele era intimidante demais, sua presença parecia se deixar clara em cada canto do cômodo. Era como se ele conseguisse fazer todos responderem a ele sem nem mesmo se esforçar.

Apenas consegui relaxar ao deixar sua sala. Fecho a porta atrás de mim e encontro uma mulher me encarando curiosamente, com um sorriso suave no rosto.

Seus olhos azuis eram simpáticos e seu sorriso deixava uma covinha marcada. Ela tinha cabelos loiros que caíam até a altura de seus seios. Me lembrava de uma daquelas mulheres lindas protagonistas dos filmes e livros que eu consumia para me entreter.

Sua presença me deixa menos tensa. Eu sempre me senti mais confortável entre mulheres do que homens. Era irônico, considerando que todas as punições que já sofri foram aplicadas em mim por mulheres, mas isso até me deixava aliviada. Ouvi histórias do que os guardas faziam quando podiam punir as meninas do orfanato e apenas pensar nisso faziam calafrios correr pela minha coluna.

Tenho a vaga noção dela se apresentar como Barbie. Me perguntou se eu estava com fome. Eu disse não - era uma mentira, mas me treinar para não estar com fome era uma prática que adquiri anos atrás. Me perguntou se eu não queria acompanhá-la até a cozinha. Eu agradeci, mas disse não novamente. Só queria voltar para meu quarto.

Então foi o que fiz. Eu voltei, e me escondi.

* * *

Eu não gostava muito de deixar o meu quarto. Esse lugar - o clube - era... demais. Ver todas essas pessoas que não pareciam ter a preocupação constante de pecar ou não pecar era confuso. Eu não entendia nem um pouco, então fiz o possível para me isolar. As pessoas que eu mais via eram Barbie e Ace. Eu gostava da Old Lady, mas nunca falava muito quando ela passava aqui. A mulher nunca desistia e sempre ficava falando e falando. Sempre voltava no dia seguinte. Confesso que gosto de suas visitas...

E Ace me trazia comida. Aparentemente, ele fazia a comida por aqui. Parecia entender sem eu precisar verbalizar o quão desconfortável era ver o modo de vida das pessoas ao meu redor, e não hesitava em deixar sempre uma porção do que preparou na refeição. Comer era... difícil. Eu estava fortemente acostumada a não comer mais que um - no máximo dois - pequenos pratos por dia, e agora isso havia mudado também. Descobri, porém, que tenho um fraco pelos waffles de Ace. O motoqueiro aparecia, sempre com um sorrisinho no rosto e seu flerte inofensivo. Eu também não falava muito com ele, mas era agradável.