Capítulo 22

13.7K 1.3K 50
                                    

Aqua

"Se vai ficar fazendo isso toda vez, não sei porque me incomodo." Digo, fingindo uma cara brava para Darko, que apenas me oferece um sorrisinho doce e da de ombros.

"Alguém precisa provar, não é?" Diz, sujando o dedo mindinho, que estava limpo, de chantilly e botando na boca.

"É chantilly, Darko. Não precisa provar chantilly." Digo, erguendo a sombrancelha, e o menino apenas dá de ombros novamente, piscando com um olho enquanto se apoia no balcão da cozinha.

Depois que Crow me acordou e nós conversamos, tive o banho mais demorado da minha vida. E divertido também, considerando todas as brincadeiras que tivemos... Meu rosto esquenta ao lembrar disso.

Ao sair, fiz um café da manhã rápido para os meninos e, quando Crow foi para uma reunião com alguns dos motoqueiros, decidi fazer uma torta de limão. Quando Darko descobriu, o prospecto não saiu da minha cola.

Mas eu meio que gostava de tê-lo aqui. Darko era um menino doce, e eu não o encaixaria em um clube apenas por olhá-lo. Mas sabia que aparências enganam, e o menino ama esse lugar.

Pelo que sei, os três prospectos estavam acabando o último ano da escola e depois teriam dedicação completa ao clube. Toda vez que mencionava ganhar o patch de membro algum dia, os olhos de Darko brilhavam, mostrando o quanto ele se importa com o lugar e seus irmãos.

Suspiro, mas não consigo conter um sorrisinho.

"De qualquer maneira, eu acabei." Digo, expondo a torta. Seu sorriso cresce.

"Ótimo!" Diz, pegando o prato com a torta e saindo da cozinha. Solto uma risadinha e rolo os olhos.

Não demorou muito até eu escutar o barulho dos motoqueiros correndo para conseguir um pedaço. Balanço a cabeça em discrença, um sorrisinho no ainda em meus lábios.

Ouço o barulho de saltos altos contra o piso e logo sei quem é. Me viro para confirmar as suspeitas, vendo Barbie entrando na cozinha com um sorrisinho no rosto.

"Cada um pegou um pedaço um pouco grande... Já acabou." Não posso conter uma risada alta, e a Old Lady se junta a mim. "Aliás, Crow está te chamando para seu escritório." Diz quando nós duas caímos no silêncio.

Eu franzi a testa para ela, mas a mulher apenas da de ombros e sai, como se soubesse tão pouco quanto eu. Suspiro e lavo a mão antes de sair da cozinha.

Olho pelo complexo , vendo que alguns motoqueiros ainda faltavam, o que significa que Crow ainda estava em reunião... O que poderia querer comigo se estava com os caras?

Cruzo o clube até a sua sala e suspiro, nervosa. Assim que abro a porta e entro, oito pares de olhos se viram para mim. Engoli em seco, logo encontrando os de Crow. Ele sinaliza para que feche a porta, e obedeço.

Me pergunto se estou em algum tipo de problema ou algo assim... Ele estava bem hoje de manhã, o que poderia ter mudado em algumas horas? Bem, pensando em tudo que aconteceu desde que cheguei aqui, muitas coisas podem mudar em poucas horas.

Engoli em seco, mas relaxei um pouco quando Crow me ofereceu um pequeno sorriso.

"Vamos precisar da sua ajuda, pequena." Ele diz, e eu imediatamente franzi o cenho, olhando para os homens na sala.

Todos eles sabiam ser extremamente assustadores, de sua própria maneira. Só de olhar para Wolf, Snake, Sniper ou Crow, você já saía correndo. Joker e Rage eu não precisava nem mesmo falar, e Ace e Hacker, apesar de parecerem inofensivos, eu não era ingênua o bastante para pensar que os boatos que ouvi eram apenas isso, boatos.

Então por que nos infernos  eles precisariam de minha ajuda?

Vejo alguns deles sorrirem com minha confusão aparente.

"Pensei que teria falado com ela, chefe." Snake comenta, me encarando com os olhos maliciosos de sempre, e vejo Crow soltar um resmungo.

"Cale a boca, Snake. Venha aqui, little blue." Ele estende a mão e eu caminho até seu lado. Sinto meu rosto esquentar quando, ao segurar sua mão estendida, ele me puxa para seu colo.

Vejo alguns dos motoqueiros sorridentes diante a ação.

"Precisamos que descreva exatamente o orfanato e como fugiu. Vou te dar um papel e um lápis, e você desenha o local enquanto o descreve... Acha que pode fazer isso?" Pergunta, arqueando as sombrancelhas, e, determinada, eu assenti.

Tudo que for ajudar a destruir aquele local, eu faço.

Crow abre uma gaveta e puxa uma folha branca de dentro, ao mesmo tempo em que pega um lápis em sua mesa. Sem me tirar de seu colo, ele aproxima a cadeira da mesa de madeira, para que eu possa desenhar.

Soltando um suspiro e torcendo para que faça isso direito, começo a falar.

"A propriedade que pertence ao orfanato acaba um pouco antes de onde encontrei Joker e Wolf, apesar de ocuparem apenas a área do estabelecimento. É como uma casa enorme, onde tem duas entradas, a da frente e a dos fundos. Ambas são vigiadas vinte e quatro horas por dia, todos os dias da semana por dois guardas." Eles estavam presos em cada palavra que saia da minha boca, e eu desenhava o que dizia enquanto falava.

"A uns cem metros da casa, tem uma cerca de arame farpado envolvendo todo o estabelecimento, com uma porta onde apenas os funcionários tem acesso. Dez fardas vigiam toda a cerca, mas, entre duas horas da tarde e duas e cinco acontece a troca de guardas, assim como às duas da manhã e duas e cinco. É extremamente pontual, nem um minuto a mais ou a menos." Enquanto eu falava, Crow ia descendo e subindo seus dedos por minha espinha, me fazendo relaxar.

"Eu consegui sair porque, durante anos, nesse pequeno período de cinco minutos a tarde, pelo menos uma vez ao mês, eu dava uma desculpa para tomar um ar. Problemas femininos, estar doente, falta de ar... Esse tipo de coisa. E, durante os cinco minutos que eles me davam, eu cortava um pouco da cerca, até que o buraco foi grande o suficiente para passar. Demorou anos, porque os cortes tinham que ser mínimos, para não causar um escândalo. Um dia, quando pedi para dar uma volta de cinco minutos lá fora, eu simplesmente corri. E foi aí que encontrei vocês." Assim que a última palavra sai da minha boca, eu largo o lápis na mesa, tudo que foi dito anotado no papel, junto com um desenho básico do lugar.

"Esse buraco... Acha que ainda está aberto?" A pergunta veio de Ace, e o motoqueiro tinha um sorrisinho no rosto. Dei de ombros.

"Provavelmente não, já que eles viriam que eu saí por ali... Mas tem uma chance." Digo, e ele assente. Percebo que a mão de Crow nas minhas costas havia parado de se mexer.

Olho para trás, para encontrá-lo com um sorriso cruel no rosto.

"Preparem-se... Nós vamos acabar com esses filhos da puta, porque eu tenho um fodido plano."

Crow- Flaming ReapersOnde histórias criam vida. Descubra agora