Capítulo 1

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Atualidade
Sangandra, Missouri, Estados Unidos.

Aqua

Eu me movimento o mais rápido que minhas pernas aguentam, ignorando os protestos dos meus músculos ao ver o buraco na cerca que rodeava o orfanato a alguns metros de distância de mim. O barulho dos cães latindo, os seguranças correndo e o caos que eu deixei ao fugir soava alto em meus ouvidos, acompanhando as batidas do meu coração. As feridas na sola do meu pé traziam lágrimas para meus olhos cada vez que eu pisava em uma pedrinha no meio da terra, mas ignoro, correndo ainda mais rápido. Parar agora é permanecer no inferno pelo resto da minha vida, e eu prefiro morrer.

O vento agradável característico da cidade batia contra o meu rosto, e o céu azul sem nuvens acima de mim era uma visão para contemplar. O sol era forte nessa hora do dia, os raios tocando levemente em meu rosto, esquentando minha pele, a sensação de ser tocada pela luz correndo por meu corpo dolorido.

Se eu fosse uma garota comum, em uma situação comum, teria parado para admirar o lindo dia de hoje. Teria olhado ao redor e a única coisa passando pela minha mente seria Que lindo campo. Teria sentado com meu namorado e meu cachorro, feito um piquenique, talvez, com a grama provocando meus pés e nossas risadas soando ao nosso redor.

Mas essa era uma situação imaginária. Não tenho namorado, não tenho cachorro, não me lembro da última vez que ri e definitivamente não tenho tempo para isso, então afasto os pensamentos fantasiosos e me concentro no aqui e agora, no momento mais importante de todos os meus dezoito anos.

Eu me aproximava da grade, e torço para não precisar manter esse ritmo por muito tempo uma vez que saísse do território do orfanato. Não sei por quanto tempo a mais consigo aguentar, e não tenho exatamente o melhor plano de todos. Nesse exato momento, a única coisa que me mantinha em pé é a adrenalina correndo por minhas veias. Acho que causar pânico, correr e fugir pelo corte da grade que eu fiz não era exatamente uma missão digna do FBI.

Acelerei ainda mais, gemendo um pouco com a dor em meus pés. As pedras e galhos no chão cortavam minha pele diversas vezes, e eu queria gritar cada vez que sentia o contato com a carne viva, mas eu continuei correndo. Preciso fazer, ou vou ser punida e tudo ficará pior. E, se ficar mais, vou morrer. Sei que vou. Já havia feito dezoito anos... meu tempo acabou.

Sinto meus olhos queimarem, e eu queria chorar. Queria desesperadamente parar de correr, me encolher em uma bola no chão e apenas chorar até que eu não tivesse mais lágrimas para derramar. Até que meu rosto estivesse vermelho e inchado, e o cansaço afastasse a tristeza. Mas isso seria inútil e prejudicial, então ignoro essa ideia. Aprendi há muitos anos que chorar pode te fazer sentir melhor, mas não resolve nada.

Separo a cerca quebrada, passando pelo pequeno espaço com dificuldade, o arame arranhando as partes expostas dos meus braços, pernas, e até rosto. Sinto o sangue escorrer, mas eu não tinha tempo para parar e analisar. Não se eu queria sobreviver a isso tudo e dar o fora desse lugar.

Ignoro o incômodo e volto a correr uma vez que estou do outro lado, o som dos guardas me seguindo ficando cada vez mais longe, assim como o latido dos cachorros e o grito dos órfãos. No entanto, ainda não desacelero, considerando que ainda estava na propriedade do orfanato. Até que eu saísse completamente desse lugar, não pararia por nada que não fosse minha própria morte.

Mas o que eu não consigo impedir são as lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Eu posso estar fugindo, mas estou deixando a minha irmã de coração, minha única amiga, para trás. A única pessoa que sempre esteve lá por mim, eu estou abandonando. O pensamento é como um punhal através de meu peito, mas não paro.

Crow- Flaming ReapersOnde histórias criam vida. Descubra agora