Crow
Eu nunca aleguei ser um bom homem. Em todos os meus vinte e dois anos de idade, vi dezenas de pessoas serem mortas e torturadas - a maioria delas por minhas mãos, ou pelo menos sob meu comando. Uma das consequências de nascer com o título de Prez cravado em sua pele é que você não tem realmente a chance de se tornar uma boa pessoa. Tudo que te torna bom - a compaixão, o amor - é retirado assim que você é independente o suficiente para montar em uma moto.
As coisas que sacrifiquei para me tornar o Prez dos Flaming Reapers nunca irão retornar. Nem mesmo sei se quero que retornem, mas o fato é que as perdi há muito tempo atrás.
Por isso a presença de Aqua Covey no complexo parecia mexer tanto comigo.
Era claro que ela passou por coisas que fariam uma pessoa comum perder o sono. As cicatrizes em seu corpo, o modo como parecia se forçar a comer, o leve tremor de suas mãos quando alguém chegava muito perto. Sua vida não havia sido fácil, e ninguém em sã consciência teria alegado o contrário.
O que era fascinante, porém, era a pequena faísca que ainda vivia em seu olhar. Aquele indício do desejo de querer mais, o interesse pela vida, o rastro de inocência que havia sobrevivido aos tratamentos mais cruéis. Era admirável, realmente, que a garota tivesse conseguido preservar tanta vida e esperança, mesmo após as dificuldades que enfrentou. Já vi homens se curvarem e desistirem por muito menos.
Ela queria experimentar as coisas - por mais que seu medo a segurasse. Vi em seus olhos mais de uma vez. Porra, quando ela pegou uma garota chupando meu pau, eu podia jurar que estava viva o suficiente para querer sexo.
É como se Aqua estivesse mandando um grande dedo do meio para as pessoas que a torturaram, simplesmente por preservar seu desejo de viver.
Era uma espécie de atitude que não se encontrava diariamente em meu ramo de trabalho, e despertava uma estranha vontade em mim de mostrar o mundo a ela.
"Crow?"
A voz de Ace me desperta de meus pensamentos, e eu viro a cabeça para encará-lo. Suas sobrancelhas estavam arqueadas, e ele tinha uma diversão oculta em seus olhos, uma expressão que dizia saber exatamente o que, ou melhor, quem, ocupava meus pensamentos. Bastardo.
"Todos estão prontos."
Eu assenti em concordância, e passo por ele para alcançar a porta da grande sala onde eram organizadas as reuniões. Wolf já me esperava em pé ao lado da grande mesa do Prez, enquanto todos os motoqueiros dos Flaming Reapers estavam do outro lado, organizados em suas respectivas cadeiras. Eu deixo Ace fechar a porta atrás de nós e me dirijo ao meu lugar.
Tomo um segundo para observar os homens ao meu redor. Todos os motoqueiros que estiverem na cidade - com exceção dos prospectos, que não eram ainda parte do Clube - eram obrigados a frequentar as reuniões. E, como sempre, todos estavam aqui.
"Amanhã, vamos partir na corrida." Declaro, apesar de não ser surpresa para ninguém. Todo mês, os motoqueiros dos Flaming Reapers partiam em expedições para certificar seu poder e controle sob a região - as chamadas corridas. "Duas semanas fora, como costume. Vamos nos dividir em dois grupos. Wolf e Ace, vocês dois vão partir comigo para Kansas."
Sinto imediatamente os olhares surpresos. "Mas Kansas é território dos Death of Angels, Prez." Viper - um dos motoqueiros mais recentes - aponta. Eu concordo.
"Eu sei, mas tenho alguns negócios para resolver por lá."
Não falo que um desses negócios é Aqua, mas pelo olhar que recebo de Wolf, eles já sabem. Pela direção que a garota veio, o orfanato onde estava beirava a fronteira de Missouri e Kansas, o que quer dizer que não era completamente meu território. E talvez os Death of Angels - uma gangue consideravelmente pacífica com os Flaming Reapers - saibam algo sobre o assunto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crow- Flaming Reapers
RomantizmCorre, corre, garotinha Corre pela floresta e tente se salvar Corra do inferno, bonitinha Mas não esqueça dos outros monstros que querem te pegar Aqua acabou de fugir de seu inferno, mas não estava preparada para os outros monstros escondidos na flo...