Capítulo I

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O castelo do rei ficava no ponto mais alto, a vista de todos. Uma maravilha, sublime como todo castelo deve ser. Ao domingo todos foram: como se fosse romaria. Um a um foram entrando e todos foram acomodados no salão. O salão era redondo, suas paredes e seu pisos eram mais brancos que a neve. Porém na parte de cima sua grande abóbada era negra como a noite. Era todo cravejado de pedras preciosas que brilhavam tal qual as estrelas do céu.

- Veja que lindo, tem estrelas aqui dentro – alguém comentou e logo, um a um, todos olharam para cima.

Todos se admiraram da visão, muitos podiam jurar que estavam contemplando o céu estrelado da noite:

- Mas que rei incrível! Trouxe os céus para seu castelo.

- Além do céu veja as paredes os seus traços, são de ouro!

A parede branca e a abóbada escura eram divididas por uma grossa linha de ouro. Dessa grossa linha se ramificava tantos aos céus como ao chão diversas linhas sinuosas que se espalhavam de formas harmônicas. Os traços dessas linhas de ouro, para alguns lembravam flores, para outros um diamante, rios, pássaros, arvores e assim por diante. Muitos curiosos tocavam as linhas, apenas para saber qual era a sensação de tocar em ouro.

- Mas que rei rico! Nunca vi tanto ouro em minha vida, e apenas para enfeitar o seu salão.

- Sim, se juntássemos todo o ouro que temos não creio que conseguiríamos nem mesmo produzir uma linha dessas.

E as conversas de admiração se multiplicavam. A cada maravilha que viam mais falavam.

Cada qual se agrupava com quem se aprazia. Um grupo admirava as estátuas tão habilmente entalhadas nas pedras. Outros olhavam as pinturas, os móveis: tudo era de uma qualidade excepcional.

- Mas que rei culto e sábio, nunca vi tamanhas obras de artes.

Os guardas não os impediam e em quase tudo tocavam, mas, não deixavam se aproximar da balança e nem nas escadas: que levavam a um mezanino, onde tinha uma porta ricamente ornada.

O mezanino era o único lugar acima de tudo no salão; acessível apenas por duas escadas: uma de cada lado. Os degraus dessas escadas eram impressionantes, pareciam que saiam de dentro da parede. A balança ficava a frente desse mezanino. Ao lado esquerdo da balança, dentro da parede, havia uma grande lareira que queimava algumas madeiras que aromatizavam o ambiente com um delicioso perfume.

A porta se abre e o rei é anunciado. O silêncio tomou o salão. Acompanhado de sua guarda real e seus valetes, lá estava o rei com seu cetro, sua coroa e seu manto. O rei fica imóvel, enquanto um dos guardas anuncia:

- Ajoelhem-se na presença do grande rei!

Todos se ajoelharam, o rei do alto os olhava, e sorriu. Viu como seu povo se agrupava, por vontade própria e sem instrução. Os ricos junto com os ricos, os bonitos junto com outros bonitos. Os bem-apessoados com bem-apessoados, os que aparentavam decência com outros que aparentavam decência. Dos diversos grupos que se dividiam um grupo lhe chamou a atenção, miseráveis vestidos em trapos e sujeiras, os mais isolados e ignorados de todos naquele salão.

- Meu povo! Meus súditos! – Falou em voz alta o rei.

Uma voz gritou no meio do povo:

- Viva o rei!

- Viva! – Gritava em uníssono a multidão eufórica, repetidamente.

O rei gesticulava para que se acalmassem, demorou, mas novamente houve silêncio. O rei continuou:

- Eis que do alto do meu castelo, tenho observado vocês. Cada um vivendo conforme lhe apraz. Cada um vivendo sua vida, ajuntando coisas para si somente. Vocês plantam em minha terra, bebem dos meus rios, usufruem de tudo que há no meu reino. E da minha terra, dos meus rios e dos meus recursos muitos de vocês enriqueceram, e encheram seus cofres. Porém meu povo, meu cofre em nada se beneficiou.

O rei e seu tesouroOnde histórias criam vida. Descubra agora