Nunca se tem problemas demais, além da insegurança do peso, além de descobrir que o pó sumia, houve outro problema descoberto. Durante muito tempo não misturavam o pó com outros objetos, mas conforme o tempo passava, alguns começavam a guardar as moedas e riquezas dentro do baú. Moedas, jóias, ouro e prata, contanto que tivesse valor e não ocupasse muito espaço, pelo menos no início.
Um cidadão, muito diligente, todo mês colocava uma moeda, ou dependendo do quão bom foi o mês, até mesmo duas no baú. Toda as vezes ele jogava por cima do baú a moeda, e por alguns anos foi assim. Durante esse período, quando reabria o baú, nunca via a moeda por cima, logo, pensava que a moeda havia descido pelo pó, e que, portanto, estava assentada no fundo. Houve um mês de penúria e escassez, pela primeira vez em muito tempo precisava retirar as moedas do baú. Abriu-o e enfiou a mão dentro do pó, nada achou. Desesperado pegou uma caixa e uma peneira e pouco a pouco peneirou todo o pó para a caixa, e realmente não existia mais as moedas. Mesmo assustado, a primeira coisa que fez foi colocar o pó de volta no baú, pois sabia que se deixasse muito tempo fora o pó fugiria muito mais rápido. Apreensivo tentava compreender o que estava acontecendo. Ciente que não tinha condições de descobrir nada, lembrou-se de um amigo. Era um estudioso, um homem sábio, chamou-o. Ao chegar, lhe explica o ocorrido, e ouvindo, por parecer inverossímil logo refuta:
- Isso não é possível, não tem como suas moedas terem desaparecido do baú, assim do nada.
- Eu sei, por isso o chamei, para entender o que pode ter ocorrido.
- Será que alguém que o conheça, sabendo dos seus hábitos, se tenha aproveitado e pegado suas moedas no baú.
- Também pensei nisso a princípio, mas é impossível, só eu tenho acesso àquela sala.
- Bem façamos um teste, eu vou deixar uma moeda no seu baú, e nós dois iremos vigiar durante a noite, quando amanhecer abriremos e assim podemos eliminar essa tese sobrenatural de que as moedas simplesmente sumiram. Com isso poderemos focar no que é possível.
Ao anoitecer o estudioso pega sua moeda e joga dentro por cima de todo o pó do baú. O dono do baú o fecha e lá ficaram, ambos. Vigiaram atentamente, sem pestanejar e nem desviar o olhar do baú. Quando amanheceu, abriram o baú, a moeda não estava na parte de cima.
- Viu o que eu te disse.
- Ainda não vimos nada, pode ser que a moeda foi parar no fundo do baú.
O estudioso estendeu sua mão e tateando o fundo nada acha.
- E agora está convencido?
- Ainda não, pode ser que a moeda esteja presa no meio. Você me disse que peneirou, então vamos peneirar.
Pegaram a caixa e peneiraram, quando não tinha mais pó no baú, e também nenhuma moeda na peneira o estudioso finalmente admite, com muito espanto.
- Puxa vida como é possível, digo não tem como a moeda simplesmente sumir e mesmo assim ela sumiu, mas como?
- Viu eu te disse! E ai o que você acha que aconteceu?
- Eu não sei. Eu preciso fazer mais estudos antes de bater o martelo.
- O que tem em mente?
O estudioso por várias horas ficou refletindo até que por fim teve uma idéia:
- Uma moeda é muito pequena, precisamos testar com algo maior, bem maior. O que você tem de maior aqui.
- Eu tenho uma estátua de cavalo.
- Posso ver?
- É claro.
Pegou a estátua que estava guardada, o estudioso analisou, era um palmo maior que seu antebraço, um pouco pesado.
- Perfeito, vamos colocar no baú e esperar ver o que acontece.
- Não vou não, se isso sumir eu fico como?
- Não temos tempo para isso. – Antes que o outro pudesse replicar pega duas moedas de ouro e lhe da. – Pronto assim mesmo que suma estará mais do que pago.
Pegou as moedas e deram prosseguimento as experiências. Colocaram dentro do baú. Mesmo enterrando a estatua a cabeça do cavalo continuava acima do pó dourado. E repetiram o mesmo experimento, e novamente ao abrir no outro dia o cavalo sumiu.
- Se desfez, mas como?
E pensou até formular uma teoria.
- Não há como provar, mas e se de alma maneira tudo que é depositado no baú, se torna pó, como o pó que estava dentro anteriormente?
- Espera, quer dizer que todas as nossas riquezas todas as nossas conquistas no fim viram pó?
- Sim, viram pó.
- Espera aí, moedas são pequenas, então vá lá, mas a estatua é gigantesca. Não deveria ter mais pó?
- Sim, se for isso deveria ter bem mais pó, mas, e se o critério não for o tamanho?
- Se não é o tamanho o que poderia ser?
- E se for valor, afinal essa estatua tinha algum valor. E se de alguma maneira o baú transforma tudo que é guardado em pó, mas o montante produzido depende do valor do objeto.
- Mas isso é impossível!
- Mas foi o que testemunhamos até agora. Infelizmente foge a minha compreensão, e não consigo imaginar meios de validar minha teoria.
Embora não soubesse explicar o por que e como funciona, concluiu, com segurança, que o baú transformava tudo que era guardado dentro em pó. Assim como todas as descobertas anteriores essa também se espalhou por toda a cidade. Muitos repetiram o experimento e constataram o anunciado. Um menestrel, ouvindo sobre o ocorrido compôs uma canção, que se tornou famosa e popular em toda a cidade:
Um mês inteiro trabalhei.
Para no final virar pó.
Ouro e prata acumulei.
Para no final virar pó.
Os tesouros que sonhei em ter
No final podem virar pó.
Os luxos que desejei
Tudo vira pó
Tendo tudo virado pó, hoje pergunto
Existe algo que não virará pó?
Cantavam, todos, ora com alegria ora com tristeza, a letra que resumia tudo que ocorria naquela cidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O rei e seu tesouro
FantasyO povo é convocado ao castelo do rei. Ele dá aos seus cidadãos um tesouro, porém ele avisa que irá cobrar de volta e quem não devolver mais do que pegou irá sofrer um castigo enorme. O povo de posse do tesouro age conforme seus interesses. Alguns sã...