Capítulo IV

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Sobre o conteúdo do baú a população fez vários experimentos conforme a profissão.

O ferreiro, procurou trabalhar com o material do seu jeito e contou para os outros o resultado de sua experiência:

- Eu tentei derreter e soldar, por isso peguei um punhado e joguei ao fogo, mas não derretia, não importasse o calor do fogo. No fim continuou sendo o mesmo pó dourado.

O químico também contou sobre suas experiências:

- Eu tentei misturar com vários elementos, agua, óleo, querosene e assim por diante, o pó não se mistura com nada, não importasse o método que eu usasse.

O cozinheiro também comentou:

- Tentei ver se era comestível e usei como ingrediente de um prato e comi: o gosto era horrível. A sensação na boca; terrível: e depois me deu uma bruta caganeira.

O agricultor disse aos conhecidos da cidade:

- Tentei ver se era bom para as plantas e lancei num vaso, em lugar do esterco, infelizmente, teve o efeito contrário e as sementes e plantas onde misturei a terra com o pó não vingaram.

Por vários dias muitos reclamavam, dizendo que não sabiam como deveria usar aquele pó. Foi um dos comerciantes, o quitandeiro, o primeiro a dar uma utilidade ao pó misterioso. Sendo mestre em vender até mesmo o invendável e transformar lixo em luxo, criou uma função para este: o utilizava como moeda.

- Aproximem-se todos hoje, exclusivamente hoje, uma oferta especial, dez maçãs por cem gramas do pó dourado.

Muitos ao escutarem se aproximaram curiosos, e lhe questionavam:

- Ora meu caro comerciante, porque está aceitando o pó, ele não serve para nada. Não é melhor nosso dinheiro de sempre?

- Sim, por isso é uma oferta limitada. Somente hoje. – Respondeu o comerciante.

Alguns lhe zombavam:

- Como podes ser tão burro de aceitar esse pó? Você não ouviu o ferreiro, o químico e o agricultor, esse pó não serve para nada.

- Como não vale nada! Pois eu digo que cem gramas valem dez maçãs.

- Pois eu digo que não vale nada e você está tomando prejuízo, melhor é dar de graça.

- Sou um comerciante: eu não dou, eu vendo.

- Pois para mim estás dando, afinal eu não daria nem uma moeda por esse pó.

- Então aproveite e compre com o seu pó as minhas maçãs.

Muitos vendo a barganha correram comprar as maçãs, buscaram o pó em casa, e colocando na bolsa foram trocá-los. O comerciante, tendo balança, pesava tudo e dava-lhes conforme o peso que traziam para ele. Ao final do dia um dos últimos clientes lhe perguntou:

- Por que está aceitando o pó dourado, até agora todo mundo só reclamou dizendo que não serve para nada?

- Ora esse é o tesouro que o nosso rei nos deu. Ele mesmo nos disse que vai querer de volta, então como podem dizer que não tem valor? Eu não sei quanto a você, mas pretendo entregar mais do que recebi.

A cada dia o comerciante repetia sua promoção, outro dia ofereceu bananas, noutro ameixas, e assim sucessivamente. É claro a cada dia mais e mais comerciantes o imitavam, e também estavam aceitando o pó dourado.

O agiota vendo-os fazer comércio com o pó dourado, teve uma epifania e disse a todos.

- Começarei a aceitar o pó dourado como pagamento pelas dívidas, duzentas gramas por cada moeda de ouro que me devem. Cem gramas por cada moeda de prata, e cinquenta grama por cada moeda de bronze.

Todos da cidade ao ouvirem a notícia, pelo menos os que deviam, correram ao agiota. Muitos podiam jurar que balança dele estava adulterada, e pegava para ele muito mais pó do que a balança mostrava, mas não ligavam: afinal se ele estava aceitando aquele pó inútil era problema dele. Quando o questionavam do porque está aceitando o pó inútil ele sorria: um sorriso sacana e dizia:

- Apenas sendo generoso, mas penso que logo no futuro poderei emprestar o pó e ganhar muito em cima disso.

- Acho que está cometendo um terrível erro, ninguém vai querer este pó. – Replicava um cliente qualquer.

- Veremos – disse o agiota com uma piscadela marota.

Conforme os dias passavam, mais e mais comerciantes começavam a aceitar o pó dourado. A grande maioria do povo ficava feliz em se livrar do pó, principalmente por coisas mais úteis e valiosas, segundo a visão deles. Muitos deles pararam de utilizar as moedas e o dinheiro local e começaram a utilizar o pó, tentando economizar seu dinheiro.

Em menos de um mês todos utilizam o pó, mesmo sem valor, era mais usada que as moedas e o dinheiro da cidade. Foi graças ao aviso de dois jovens, o povo deixou de ser enganado e todos começaram a dar o devido valor ao pó.

O rei e seu tesouroOnde histórias criam vida. Descubra agora